_
_
_
_
_

Grupo de crianças descobre o fóssil de uma nova espécie de pinguim gigante

Esqueleto mede 1,38 metro e tem de 27,3 a 34,6 milhões de anos

Ilustração dos pinguins 'Kairuku waewaeroa'.
Ilustração dos pinguins 'Kairuku waewaeroa'.Simone Giovanardi
Laura Camacho

No verão de 2006 um grupo de crianças navegou de caiaque pelo porto de Kawhia (Ilha Norte, Nova Zelândia) até chegar a um ponto inacessível por terra para procurar fósseis de ouriço, como parte das atividades de um acampamento infantil. Lá, alguns dos mais novos encontraram algo diferente do que conheciam. “Havia formas de cor laranja escuro na rocha, como metal oxidado. Um dos pais se inclinou e soprou o pó e a areia para que pudéssemos distinguir melhor sua forma. Ainda não sabíamos do que se tratava, mas era muito maior do que qualquer outro fóssil que havíamos encontrado antes”, diz Esther Dale, que tinha 15 anos à época e é uma daquelas crianças que fizeram a descoberta. A Universidade Massey confirmou que se trata de um fóssil de um pinguim gigante em uma pesquisa publicada na revista Journal of Vertebrate Paleontology. O animal recebeu o nome de Kairuku waewaeroa e tem uma altura que chega a 1,38 metro. A antiguidade foi estimada entre 27,3 e 34,6 milhões de anos.

Esse pinguim, comparado aos seus parentes próximos, Kairuku waitaki e Kairuku grebneffi, tem as patas significativamente maiores. Foi essa característica que deu o nome à espécie, já que waewaeroa significa patas compridas, como explica Daniel Thomas, professor de Zoologia na Universidade Massey da Nova Zelândia e autor principal do estudo. Apesar da destacada altura do animal, são conhecidas outras espécies também antigas, como o Kumimanu biceae, que são até 10 centímetros mais altos. Essa questão levanta outros debates aos pesquisadores como as possíveis razões da “diversidade de tamanhos corporais dentro dos pinguins gigantes”, diz Thomas.

Outra das características diferenciais dessa nova espécie é que tem o cotovelo ligeiramente mais arredondado. Apesar do crânio não ter se conservado, os pesquisadores defendem a hipótese de que o animal poderia ter um longo bico em formato de lança, da mesma forma que outros pinguins gigantes. Para classificar esta ave, foram comparados os formatos e os comprimentos de ossos de outros fósseis e espécies mais modernas. Na maioria das vezes foi utilizado um scanner 3D para isso.

Nessa pesquisa o local da descoberta é especialmente importante. Historicamente, a Ilha Sul da Nova Zelândia (Te Waipounamu) é uma das regiões mais produtivas para os fósseis de pinguins. A Ilha Norte (Te Ika-a-Māui), entretanto, se limitou durante muitos anos a poucos espécimes fragmentados. Sobre a importância regional, o pesquisador diz que isso é uma demonstração de que as aves e outros animais da região são descendentes de linhagens “que se remontam a tempos muito antigos” e que se deve agir como kaitiaki (guardiães) desses descendentes para poder continuar com essa linhagem no futuro.

Um estudo publicado em 2020 confirma, através de genomas, que a origem do grupo dos pinguins se localiza entre a Austrália e a Nova Zelândia. Andrés Barbosa, pesquisador do Museu Nacional de Ciências Naturais da Espanha (MNCN), afirma que essa descoberta valida os dados do estudo: “É uma boa notícia o fato de que dois métodos suficientemente diferentes tenham os mesmos resultados e, portanto, não resta praticamente nenhuma dúvida de que a origem dos pinguins é na região da Nova Zelândia e que posteriormente, a partir daí, diversas espécies foram se expandindo”. Outro aspecto que o cientista considera que ganha força é que o tamanho dos pinguins daquela época é “bem maior” ao dos atuais. O pinguim imperador é o maior hoje em dia e, segundo Barbosa, tem uma altura de 1,2 a 1,3 metro.

Os perigos climáticos aos pinguins

Apesar de atualmente existirem por volta de 18 espécies dessas aves, chegaram a ser registradas mais de 60 desde que, no final do século XIX, Thomas Henry Huxley publicou o primeiro artigo sobre o fóssil de um pinguim. Atualmente, das quase duas dezenas existentes, quatro estão em situação de vulnerabilidade e cinco em perigo iminente de extinção, de acordo com uma lista feita pela União Internacional para a Conservação da Natureza.

“Nas aves marinhas em geral, e nos pinguins em particular, uma das principais razões da diminuição generalizada de populações de muitas espécies é a mudança climática, sem dúvida”, diz o cientista espanhol. Na Antártida, há regiões em que vivem pinguins como o Pinguim-de-adélia e o Pinguim-de-barbicha que estão sofrendo reduções de sua população de aproximadamente 60%, detalha, e acrescenta que isso está “conectado à mudança climática”, já que esse fenômeno provocou a redução do krill, a principal presa desses animais. O pesquisador do MNCN prevê que se o fenômeno continuar avançando e novas áreas descongelarem é “muito provável” que emerjam novos locais em que será possível encontrar novos fósseis.

Inscreva-se aqui para receber a newsletter diária do EL PAÍS Brasil: reportagens, análises, entrevistas exclusivas e as principais informações do dia no seu e-mail, de segunda a sexta. Inscreva-se também para receber nossa newsletter semanal aos sábados, com os destaques da cobertura na semana.


Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_