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Estudo estima que 43.000 morrem por ano na Europa por falta de áreas verdes

Organização Mundial da Saúde recomenda que os cidadãos tenham acesso a um espaço arborizado a uma distância linear de até 500 metros do seu domicílio

Parque urbano do leito do rio Turia, na cidade espanhola de Valência.
Parque urbano do leito do rio Turia, na cidade espanhola de Valência.Mònica Torres
Manuel Planelles

A ausência de zonas verdes nas cidades tem um impacto negativo na saúde de seus habitantes. A falta de acesso a essas áreas verdes em cerca de mil cidades de 31 países europeus – os 27 da União Europeia, mais Reino Unido, Suíça, Noruega e Islândia – está por trás de quase 43.000 mortes anuais, segundo as estimativas de um estudo publicado nesta sexta-feira na revista The Lancet Planetary Health, liderado pela brasileira Evelise Pereira, pesquisadora do Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal).

Para chegar a essa cifra, os pesquisadores partem de recomendações contidas em um relatório do escritório regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a Europa, que propõe que os cidadãos tenham acesso a um espaço arborizado a uma distância linear de até 500 metros do seu domicílio, o equivalente a cinco minutos de caminhada.

Evelise Pereira explica que as áreas verdes têm “benefícios para a saúde física e mental”, conforme determinaram inúmeros estudos científicos. “Só de poder olhar para uma área verde já se observam benefícios para a saúde mental”, acrescenta a pesquisadora. “Os espaços verdes estão associados à redução da mortalidade por causas naturais”, salienta o estudo, que enumera benefícios associados à possibilidade de fazer exercício físico nessas áreas e à redução da poluição, também vinculada à presença de vegetação.

Pereira explica que, para sua análise, foram colhidos dados de 978 cidades e 49 áreas metropolitanas com mais de 50.000 habitantes nos 31 países europeus selecionados. Os pesquisadores dividiram as urbes em quadrados de 250 por 250 metros para determinar o acesso a essas zonas verdes. Para calcular o espaço verde existente em cada localidade, o estudo utilizou o Índice de Vegetação de Diferença Normalizada (NDVI, na sigla em inglês), um indicador que leva em consideração qualquer tipo de vegetação, da arborização das ruas aos jardins em propriedades privadas, e que se obtém a partir de imagens de satélite. Esses dados foram cruzados com os de mortalidade por causas naturais em cada cidade em 2015, chegando-se assim à cifra de mortes que poderiam ser evitadas naquele ano se cada cidade cumprisse as recomendações da OMS sobre o acesso às áreas verdes.

Nessas mil cidades europeias analisadas, a cifra de óbitos chega a 42.968. Na Espanha, onde foram estudadas 100 aglomerações urbanas, o número de mortes por ano foi estimado em 3.809. “O impacto na Espanha é menor que em outras zonas da Europa”, salienta Pereira. Levando-se em conta apenas as capitais, Bruxelas, Copenhague, Budapeste, Paris e Atenas são as cidades do continente com os piores resultados pela falta de acesso a áreas verdes. Madri se sai muito bem e é a quinta, com menos impactos negativos por este motivo. O estudo inclui os dados da área metropolitana de Madri e estima 620 mortes relacionadas ao pouco acesso a zonas verdes.

A área metropolitana de Barcelona, segundo os critérios utilizados para o estudo, está em uma situação muito pior que a capital espanhola e mais afastada das recomendações da OMS. Para Barcelona, estima-se uma mortalidade de 924 pessoas, o que significa que acumula quase 25% das mortes vinculadas à falta de acesso às áreas verdes entre uma centena de cidades espanholas analisadas. A capital catalã é especialmente prejudicada pela sua alta densidade populacional e a dispersão dos parques e áreas verdes, aponta Pereira.

A pesquisadora admite também que seu estudo tem uma limitação importante: a dificuldade de avaliar os efeitos positivos para a saúde das chamadas áreas azuis, ou seja, o mar, os lagos e rios. “Não há evidências suficientes que nos ajudem a quantificar esses impactos”, aponta, em relação à ausência de estudos neste campo.

Classificação

A partir dos dados do estudo publicados na revista científica The Lancet, o Instituto de Saúde Global de Barcelona elaborou uma classificação sobre as áreas urbanas com pior acesso às zonas verdes e que mais se encontram distantes das recomendações da OMS.

No caso da Espanha, as cinco cidades em pior posição são Gijón, Coruña, Cádiz, La Línea de la Concepción, Ferrol, Ceuta, Barcelona e Santander. No lado oposto, Santa Lucía de Tirajana, Valdemoro, Elche, Lorca e Telde são os que estão mais perto das recomendações da Organização Mundial da Saúde sobre o acesso às áreas verdes.

A configuração urbana das cidades europeias, com muitos anos de história e alta densidade populacional, dificulta o acesso às áreas verdes, explica Pereira. Mas essa pesquisadora prefere se concentrar nos exemplos de cidades que estão se “redesenhando” sem abrir mão da sua essência. “Por exemplo, recuperando antigas zonas industriais ou usando edifícios públicos como colégios para aumentar as áreas verdes”, argumenta Pereira, que também ressalta como positivas algumas experiências como as superquadras que reservam espaços para a vegetação.

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