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A pioneira Wally Funk, de 82 anos, será a pessoa mais idosa a se tornar astronauta

O magnata Jeff Bezos anunciou que acompanhará a aviadora, que em 1961 integrou um programa de mulheres cosmonautas, o Mercury 13, vetado pelas autoridades

Javier Salas
Wally Funk Mercury 13
A futura astronauta Wally Funk, em imagem de 2012.MARK RALSTON (AFP)

No início dos anos sessenta, quando o programa espacial norte-americano era ainda incipiente, foi lançado um projeto denominado Mercury 13 para testar mulheres astronautas. Elas conseguiram superar todas as provas, inclusive com melhores notas que as de seus colegas homens, mas o Governo decidiu deixá-las em terra. Entre elas estava a audaz Wally Funk, pioneira da aviação e uma das melhores alunas do projeto cancelado pelo machismo das autoridades e da agência espacial norte-americana (NASA), como se soube mais tarde. Funk foi vítima do sexismo da corrida espacial, mas agora tem uma segunda chance: o magnata Jeff Bezos acaba de anunciar que ele e seu irmão serão acompanhados pela astronauta num voo suborbital de sua empresa Blue Origin. Funk, de 82 anos, será também a pessoa mais idosa a sair do planeta.

Numa publicação em suas redes sociais, Bezos escreveu: “Ninguém esperou mais do que ela.” Num vídeo, o magnata propõe este cenário a Funk: “Você está em gravidade zero durante quatro minutos, desce, aterrissa suavemente na superfície do deserto, abre a comporta e sai. Qual é a primeira coisa que você diz?” E a nova astronauta exclama: “Querido, é a melhor coisa que aconteceu na minha vida!”, para depois lhe dar um abraço, entusiasmada. Apesar do desgosto do projeto Mercury 13, Funk nunca desistiu de se tornar astronauta, convencida de sua preparação. Continuou se apresentando como voluntária desde o momento em que a NASA permitiu a participação de mulheres em seus voos espaciais. Recebeu reiteradas recusas da agência espacial, mas continuou tentando e chegou a pagar 200.000 dólares (cerca de um milhão de reais) à Virgin Galactic (rival da Blue Origin) por uma passagem.

Bezos revela a conta-gotas as informações sobre esse voo suborbital, no qual ele sairá da atmosfera da Terra por alguns minutos, mas sem chegar a dar uma volta completa ao redor do planeta. A viagem, organizada por sua empresa de foguetes espaciais, a Blue Origin, está programada para 20 de julho. Há duas semanas, ele anunciou que um turista espacial ofereceu 28 milhões de dólares (151 milhões de reais) para se sentar numa das quatro cadeiras que serão ocupadas no foguete New Shepard.

No vídeo publicado por Bezos, a futura astronauta afirma: “Adoro fazer coisas que ninguém fez antes.” Ela também conta que, durante os testes do Mercury 13, disseram-lhe que havia superado as provas melhor do que ninguém. O projeto foi lançado pelo médico aeroespacial Randy Lovelace, que idealizava as exigentes provas dos candidatos a astronautas, convencido de que as mulheres tinham vantagem sobre os homens por seu tamanho e peso, mas também porque demonstraram ter mais resistência nos testes físicos e psicológicos.

Quando a NASA soube que o programa estava em marcha, no entanto, exigiu que fosse cancelado. As astronautas não desistiram e levaram o assunto ao Congresso dos EUA, criticando o fato de terem sido deixadas para trás por serem mulheres. Os EUA as vetaram no espaço até que Sally Ride conseguiu a façanha em 1983. Durante as apresentações no Congresso, o astronauta John Glenn chegou a dizer (anos depois, arrependeu-se): “O fato de que as mulheres não estejam neste campo é uma realidade de nossa ordem social.” O vice-presidente Lyndon Johnson escreveu, para fechar definitivamente essa porta às mulheres: “Paremos isto já.” Seis décadas depois, não conseguiram parar Wally Funk, que voltará a fazer o que ninguém fez antes: ser a primeira pessoa no espaço com mais de 80 anos. Até agora, a pessoa de mais idade a sair do planeta havia sido justamente John Glenn, que agora ficará em segundo lugar, atrás de uma das Mercury 13.

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