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Cadáveres presos por décadas em geleiras suíças saem à superfície devido ao aquecimento global

Um guia de montanha encontrou em 14 de julho no monte Cervino o corpo de um alpinista japonês

Bota encontrada com os corpos do casal Dumoulin, em julho de 2017.
Bota encontrada com os corpos do casal Dumoulin, em julho de 2017.Policía de Valais

Um guia do monte Cervino (ou Matterhorn, em alemão), nos Alpes suíços, encontrou em 14 de julho o corpo de um alpinista, identificado dias depois como um cidadão japonês de 67 anos. Embora ainda não se saiba quando nem em que circunstâncias o homem desapareceu, esse tipo de descoberta não é uma novidade: o derretimento sofrido pelas geleiras como consequência do aquecimento global revelou na última década na Suíça outros corpos presos durante anos no gelo, em uma área onde cerca de 280 pessoas desapareceram sem deixar rastros desde 1926, segundo um porta-voz da polícia do cantão suíço de Valais, onde fica a montanha.

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Há um ano, um funcionário da empresa Glacier 3000, que administra os teleféricos do monte Cervino, encontrou enquanto passeava pela geleira Tsanfleuron os cadáveres congelados em perfeito estado de conservação de Marcelin e Francine Dumoulin, um casal desaparecido em 15 de agosto de 1942. Junto com os corpos, vestidos com roupas da Segunda Guerra Mundial, foram encontrados um relógio, uma mochila e um livro, entre outros itens. “Passamos nossas vidas procurando por eles, sem parar”, disse na ocasião ao jornal Le Matin Marceline Udry-Dumoulin, a filha mais nova do casal, que teve cinco filhos e duas filhas.

A geleira alpina Aletsch, também no cantão de Valais, devolveu em 2012 os cadáveres dos irmãos Johann, Cletus e Fidelis Ebener, dos quais não se tinha notícia desde março de 1926, quando partiram para realizar uma expedição no glaciar. Dois montanhistas britânicos que percorriam a zona no verão se depararam com restos humanos, botas e equipamento de montanha, uma descoberta que resolveu um desaparecimento ocorrido quase 90 anos antes.

Em 2014, foram encontrados quase no topo do monte Cervino os restos de Jonathan Conville, que nunca voltou da escalada que fez pela montanha em 1979. Também em 2014, foi encontrado em uma geleira do cantão de Berna o cadáver de um explorador tcheco, desaparecido desde 1974.

Um ano depois, também no monte Cervino, um grupo de montanhistas se deparou com os corpos dos japoneses Michio Oikawa e Masayuki Kobayashi, desaparecidos em 18 de agosto de 1970. Segundo a polícia suíça, os japoneses, que tinham respectivamente 22 e 21 anos, haviam passado a noite anterior em um abrigo com a intenção de subir pelo lado norte da montanha, mas “foram surpreendidos por uma tempestade de neve”. Em 2016, foram descobertos os restos de um alemão desaparecido em 1963 na geleira Morteratsch, no cantão de Graubünden.

Desde que existem registros, em 1880, a longitude e a espessura das geleiras suíças não pararam de diminuir, segundo a Glamos, uma rede de monitoramento de glaciares integrada por várias universidades da Suíça e financiada pelo Ministério do Meio Ambiente. De acordo com seus registros, a geleira Tsanfleuron perdeu desde 1884 uma longitude de 1.926 metros, enquanto a Morteratsch perdeu 2.804 metros desde 1878. Em 2017, apenas uma geleira manteve seu tamanho, enquanto 80 sofreram novas reduções.

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