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Dinamarca sacrificará 17 milhões de animais para conter variante do coronavírus que infectou humanos

A nova cepa colocaria em perigo a eficácia da futura vacina, segundo as autoridades do país escandinavo

Visons abatidos numa fazenda de Farre, no sul da península de Jutlândia (Dinamarca).
Visons abatidos numa fazenda de Farre, no sul da península de Jutlândia (Dinamarca).Jacob Gronholt-Pedersen
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DVD 1012 (18-05-20)
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Clients sit at the terrasse of a cafe in Bordeaux, southern France, on October 28, 2020 during French President Emmanuel Macron's evening televised address to the nation to announce new measures aimed at curbing the spread of the Covid-19 pandemic. - France was preparing today for tough new restrictions to halt a flare-up in Covid-19 cases that has alarmed doctors, with a second lockdown widely mooted as hospitals battle an influx of patients. (Photo by Philippe LOPEZ / AFP)
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O Governo da Dinamarca ordenou sacrificar milhões de visons (animais semelhantes a doninhas) após a detecção de uma nova mutação do coronavírus SARS-CoV-2 que se espalhou entre as fazendas de criação e infectou humanos. Há pelo menos 12 pessoas contagiadas por essa nova variante do vírus na península da Jutlândia ―a parte continental que faz fronteira com a Alemanha. Segundo as autoridades dinamarquesas, essa versão do vírus representa um sério risco para a saúde pública, já que poderia se expandir pela Europa e ameaçar a eficácia das futuras vacinas contra o coronavírus.

Nesta quinta-feira, o Governo do país escandinavo anunciou o confinamento rigoroso de sete municípios do norte da península de Jutlândia devido a contágios feitos por essa variante do vírus. As medidas afetam 280.000 habitantes. Restaurantes, bares, colégios, centros culturais e esportivos serão fechados por pelo menos quatro semanas, enquanto as escolas infantis ficarão abertas.

A nova variante do vírus “poderia ter consequências devastadoras para a pandemia no mundo inteiro”, advertiu a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, em declarações pela Internet. “Um vírus que sofreu mutação corre o risco de se propagar em outros países. A situação é muito séria”, afirmou. A Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou no Twitter que está ciente das informações sobre a mutação do vírus nos visons da Dinamarca e que mantém comunicação constante com as autoridades do país.

O Governo implementou um programa para que os criadores de visons sacrifiquem seus animais com a ajuda, se for necessário, da polícia e do exército. Estima-se que seja preciso matar 17 milhões de exemplares, a quantidade total criada por ano para abastecer a indústria de peles do país, o primeiro produtor mundial. Há mais de mil fazendas espalhadas pelo território, e em pelo menos em 207 delas foi detectada a transmissão do coronavírus entre visons.

Meses atrás, a Holanda concluiu que o novo coronavírus podia ser transmitido dos criadores de visons para os animais, e destes para os humanos, o que levou a um sacrifício maciço de exemplares. Na Espanha, um surto de coronavírus obrigou o abate dos quase 10.000 animais de uma fazenda de La Puebla de Valverde, em Teruel, pelas mesmas razões.

Um dos fatores que podem tornar um vírus mais perigoso é a sua passagem de uma espécie a outra. Um único vírus que entra numa célula é capaz de produzir dezenas de milhares de cópias de si mesmo. O vírus precisa da maquinaria biológica de seu novo hóspede para ler e copiar sua sequência genética ―nesse caso, formada por quase 30.000 letras de RNA. Neste processo ocorrem erros de cópia, as mutações, que podem mudar a fisionomia do microrganismo. Se essas novas variantes passarem novamente para outra espécie (nesse caso, a humana), o sistema imune pode não saber identificá-las e combatê-las com efetividade, mesmo que a pessoa tenha sido vacinada contra uma versão prévia do mesmo vírus. Isso é o que poderia acontecer na Dinamarca, segundo as autoridades.

O Governo acredita que a nova variante do vírus continuará se propagando entre pessoas. E que cerca da metade de todos os infectados de Jutlândia do norte já sejam portadores dessa nova versão do patógeno, de acordo com um relatório do Instituto Sorológico da Dinamarca. O documento explica que o novo vírus oriundo do vison tem até sete novas mutações. Todas estão na proteína spike (conhecida como “proteína S”), que forma as protuberâncias do vírus e serve como uma chave para que ele possa abrir a fechadura das células humanas e infectá-las. Até agora, foram registradas pelo menos 12 pessoas infectadas com uma variante do vírus procedente de visons, que possui quatro mutações novas nessa proteína. Quatro dessas pessoas têm vínculos com pelo menos três fazendas de visons, informou o Instituto. Segundo o organismo, “estudos de laboratório” provaram que as pessoas infectadas por esse vírus desenvolveriam anticorpos menos efetivos contra essa nova variante. “Isso é preocupante, já que poderia afetar potencialmente a eficácia de uma futura vacina contra a covid-19”, afirma o documento. Muitas das vacinas que estão sendo desenvolvidas buscam garantir que o sistema imune aprenda a reconhecer a proteína S do coronavírus. Portanto, existe a possibilidade de que um novo vírus com uma proteína S ligeiramente diferente possa infectar inclusive pessoas que tenham sido vacinadas.

As autoridades dinamarquesas consideram que o surto começou antes do verão, provavelmente quando algum trabalhador de uma fazenda de visons contagiou um animal. A infecção se espalhou rapidamente pelas fazendas da Jutlândia, afetando quase 200 propriedades. Em junho, o vírus passou dos visons aos humanos e provocou vários surtos na população local, incluindo num lar de idosos. O Instituto considera que prosseguir com a atividade dessas fazendas representa um grave risco para a saúde pública, e por isso recomenda a eliminação de todos os animais.

O Ministério da Agricultura publicou um mapa com todas as fazendas afetadas e colocou em marcha um plano de ajuda para os criadores que devem exterminar seus exemplares. O sacrifício custará cerca de 700 milhões de euros (4,5 bilhões de reais) aos cofres públicos, segundo a Reuters.

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