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Por que gera receio a suposta vacina russa contra a covid-19?

O protótipo russo, um dos 167 registrados pela OMS, ainda não demonstrou sua eficácia e segurança em testes com dezenas de milhares de pessoas

Manuel Ansede
Uma pesquisadora no Instituto Gamaleya de Moscou (Rússia), pai da suposta vacina contra a Covid.
Uma pesquisadora no Instituto Gamaleya de Moscou (Rússia), pai da suposta vacina contra a Covid.Alexander Zemlianichenko Jr (AP)
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-FOTODELDIA- AME7263. PUERTO PRÍNCIPE (HAITÍ), 10/08/2020.- Estudiantes, usando tapabocas, participan de una ceremonia antes de retomar clases luego de cinco meses de cierre debido a la pandemia de coronavirus, este lunes, en Puerto Príncipe (Haití). Las escuelas reabrieron sus puertas usando mascarillas y siguiendo los protocolos para evitar la propagación de la COVID-19. La reapertura es parcial y solo concierne a los alumnos de cursos que se preparan para los exámenes para pasar de ciclo, como el noveno grado de educación básica, el cuarto de secundaria y el terminal, el último antes del acceso a la universidad. El resto de cursos se reincorporarán a partir del próximo 17 de agosto, para terminar el curso 2019-2020, que concluye en octubre. EFE/ Jeanty Emmanuel
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In this handout photo released by the University of Oxford blood samples from coronavirus vaccine trials are handled inside the Jenner Institute in Oxford, England Thursday June 25, 2020. Scientists at Oxford University say their experimental coronavirus vaccine has been shown in an early trial to prompt a protective immune response in hundreds of people who got the shot. In research published Monday July 20, 2020 in the journal Lancet, scientists said that they found their experimental COVID-19 vaccine produced a dual immune response in people aged 18 to 55. (John Cairns, University of Oxford via AP)
Um exército de pesquisadores em busca de uma vacina sem parar nem para dormir
BRA01. SÃO PAULO (BRASIL), 21/07/2020.- Fotografía cedida por el Gobierno de Sao Paulo que muestra la aplicación de una vacuna contra el nuevo coronavirus desarrollada por el laboratorio chino Sinovac, este lunes en una Clínica de Sao Paulo (Brasil). Las primeras dosis de la vacuna contra el nuevo coronavirus desarrollada por el laboratorio chino Sinovac empezaron a ser aplicadas este lunes a un grupo de voluntarios, todos ellos profesionales de la salud del Hospital de las Clínicas de Sao Paulo. EFE/ Cortesía Gobierno de Sao Paulo/SOLO USO EDITORIAL/NO VENTAS/NO ARCHIVO
Quem receberá as primeiras vacinas contra a covid-19?

O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou nesta terça-feira a aprovação de uma vacina contra a covid-19 sem completar os testes em humanos. A declaração, mais propagandística do que científica, gera mais perguntas do que respostas.

Quantas vacinas experimentais já existem?

A comunidade científica mundial desenvolveu 167 vacinas experimentais diferentes contra a covid-19 e 28 delas já estão sendo testadas em humanos, segundo o registro da Organização Mundial da Saúde. Os países mais adiantados nessa corrida são Reino Unido, China, EUA e Alemanha, segundo a lista oficial da OMS, na qual a Rússia aparece longe dos primeiros lugares, apesar de ter anunciado nesta terça a aprovação de uma vacina.

Por quais fases uma vacina deve passar?

O desenvolvimento de uma vacina costuma levar 10 anos, embora o recorde no século XXI seja da farmacêutica americana MSD, cuja injeção contra o ebola só precisou de cinco anos desde o início dos testes em humanos, em 2014, até sua autorização, em 2019. As vacinas experimentais são desenvolvidas em culturas de células humanas e em animais de laboratório, mas depois devem demonstrar que são seguras e eficazes nos testes em pessoas. O primeiro ensaio em humanos, denominado fase 1, inclui dezenas de voluntários saudáveis e serve para descartar o risco de efeitos graves. Na fase 2, já com centenas de pessoas, os cientistas monitoram os efeitos adversos, analisam as defesas geradas (glóbulos brancos e anticorpos) e calculam a dose adequada. Só a fase 3, com dezenas de milhares de participantes, pode demonstrar que a vacina é realmente segura e eficaz.

Por que o anúncio da Rússia provoca receio?

A Rússia anunciou nesta terça-feira que já aprovou uma vacina contra a covid-19, mas o registro da OMS, atualizado na segunda-feira, ainda considera que essa injeção experimental está na fase 1. As autoridades russas garantem que ela já superou a fase 2. O médico Scott Gottlieb, que chefiou até 2019 a agência reguladora de medicamentos nos EUA, afirmou nesta terça ao canal de televisão CNBC que não tomaria a vacina russa. O virologista Florian Krammer, do Hospital Mount Sinai, em Nova York, também foi enfático em sua conta no Twitter: “Não tenho certeza sobre o que a Rússia está fazendo, mas eu não tomaria de forma nenhuma uma vacina que não foi testada na fase 3. Ninguém sabe se é segura nem se funciona. Estão colocando em risco os profissionais de saúde e sua população”. O presidente russo, Vladimir Putin, já havia anunciado em 2016 uma suposta vacina russa contra o ebola.

El presidente de Rusia, Vladimir Putin, este martes en una reunión con miembros de su Gobierno. En vídeo, Putin anuncia el registro de una vacuna contra el coronavirus.Vídeo: SPUTNIK | Reuters

Quais são as vacinas experimentais mais avançadas?

Das 28 vacinas experimentais que estão sendo testadas em humanos, 6 já entraram na fase 3. A mais avançada de todas, desenvolvida pela Universidade de Oxford, utiliza uma versão enfraquecida de adenovírus do resfriado comum dos chimpanzés, modificada para incluir material genético do novo coronavírus. A vacina experimental de Oxford gera defesas sem causar efeitos colaterais graves, segundo os resultados dos primeiros ensaios em mil voluntários no Reino Unido. Outro dos protótipos mais promissores é o da empresa americana Moderna e dos Institutos Nacionais da Saúde (NIH) dos EUA, que no final de julho iniciaram um ensaio da fase 3 com 30.000 participantes. A vacina da Moderna e dos NIH é uma receita escrita em uma linguagem genética, o RNA, com instruções para que as células humanas fabriquem apenas uma parte do coronavírus: suas espículas, as protuberâncias que lhe dão sua característica forma de clava medieval. Essas proteínas alheias treinam o corpo humano sem risco de causar a covid-19. Um consórcio formado pela alemã BioNTech, pela americana Pfizer e pela chinesa Fosun Pharma também está testando uma vacina de RNA semelhante em um ensaio de fase 3. E a China tem outras três vacinas na reta final, baseadas em coronavírus inativados.

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