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OMS alerta que a falta de equipamentos de proteção põe profissionais da saúde em risco

Demanda por máscaras nas farmácias espanholas cresceu 200 vezes em relação ao ano passado

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05 March 2020, Iran, Teheran: Iranian firefighters and municipality workers disinfect a street amid the outbreak of Covid-19 (coronavirus). Photo: Rouzbeh Fouladi/ZUMA Wire/dpa


05/03/2020 ONLY FOR USE IN SPAIN
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A cada mês, os profissionais sanitários de todo o mundo envolvidos no combate ao coronavírus estão usando 2,3 milhões de máscaras com filtro, 89 milhões das cirúrgicas, 30 milhões de batas, 1,6 milhão de óculos protetores, 76 milhões de luvas e 2,9 milhões de litros de desinfetante de mãos. Mas não bastam. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que a escassez desses materiais de proteção os põe em risco e pediu um aumento de 40% na produção global para fazer frente à demanda.

“Sem cadeias de suprimento seguras, o risco para os trabalhadores da saúde em todo mundo é real. A indústria e os Governos devem agir rapidamente para aumentar a oferta, aliviar as restrições à exportação e adotar medidas para deter a especulação e o acúmulo em estoques. Não podemos deter a Covid-19 sem proteger primeiro os trabalhadores da saúde”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Há países que já estão tomando medidas. O Governo alemão anunciou na quarta-feira que se encarregará do fornecimento dos trajes de proteção médica necessitados urgentemente, ordenando a suspensão das exportações desse produto para abastecer a rede sanitária local com o equipamento necessário ao combate contra o novo coronavírus. A França requisitou todos os estoques de máscaras do país para reservá-las a profissionais da saúde e pacientes infectados com o coronavírus.

Na Espanha, não estão previstas medidas desse tipo por enquanto, e a versão oficial é que há suficientes nos hospitais. Entretanto, muitos desses profissionais precisam guardá-las a chave, e fontes sanitárias afirmam que seu uso é vigiado com lupa. Num hospital psiquiátrico de Madri, são guardadas junto com os opioides. E os roubos se multiplicaram. No Hospital Clínico de Valladolid, 5.000 máscaras foram furtadas na semana passada. “Nos de Madri desapareceram muitas. Muitas estavam na porta dos quartos dos pacientes, e os familiares as levaram”, denuncia Julián Ordóñez, porta-voz de Saúde da central sindical UGT Madri. “Também sabemos que alguns trabalhadores levaram algumas para casa”, observa.

A demanda na rua disparou. Nas farmácias, cresceu cerca de 20.000% (200 vezes) com relação à mesma semana do ano passado. Diariamente são solicitadas 130.000, e a oferta só cobre cerca de 10% dessa demanda, segundo a Federação de Distribuidores Farmacêuticos. “Os fabricantes não dão conta”, diz um porta-voz.

No Brasil não foram divulgadas medidas emergenciais sobre materiais utilizados no combate a doença. O Protocolo de Manejo Clínico para o Novo Coronavírus, divulgado pelo Ministério da Saúde, pede que a provisão de insumos (máscaras, sabonetes, preparação alcoólica, dentre outros) deve ser reforçada pelo serviço de saúde.

A boa notícia é que a população geral não precisa usar máscara. A OMS não recomenda seu uso generalizado. No Brasil, o Governo orienta que “usar máscaras quando não indicado pode gerar custos desnecessários e criar uma falsa sensação de segurança", o que pode levar a negligenciar outras medidas úteis como a higiene das mãos.

A má notícia é que as máscaras podem chegar a faltar onde realmente são necessárias, e que os preços dispararam. Numa rede de hospitais conveniados com o Governo espanhol, os gestores tentam coordenar a compra para que lhes saia mais barato, porque, segundo uma fonte do setor, as máscaras de segurança para o pessoal (as FFP2), que antes custavam cerca de um euro, passaram a custar oito (de 5,12 para 40,95 reais).

“E se você entra no Wallapop [aplicativo de vendas de segunda mão espanhol], as encontra a preços exagerados”, diz o porta-voz da União Geral dos Trabalhadores da Espanha (UGT). Assim é. Uma simples busca com as palavras “máscaras coronavírus” leva a produtos na faixa dos 25 a 150 euros. Um preço muito acima do mercado. Até poucos dias atrás, a maioria poderia ser encontrada por meio euro. Na Amazon, a venda também se multiplicou. A mais vendida, um pacote de duas unidades da marca 3M, está “temporariamente fora de estoque”, e o envio dos demais modelos leva até três semanas, dada a alta demanda.

“Isto é uma loucura. Não tínhamos vivido uma coisa igual”, conta por telefone Vladimir Peñafiel, diretor de operações da Rubix, principal companhia espanhola de fornecimento industrial. “Entre janeiro e fevereiro vendemos seis milhões de máscaras, o que vendemos em seis meses. Com outras pandemias, como a gripe A e a SARS, não havia essa necessidade”. Diz que recebe telefonemas inclusive de particulares querendo comprar diretamente. “Temos 45 filiais na Espanha e é um fluxo constante de telefonemas de cidadãos pedindo máscaras.” O problema, conta, é que isso leva ao desabastecimento para os demais setores, como a automobilístico. “Não podemos privá-los delas. Não se podem parar as linhas de distribuição de uma fábrica. Temos isso por contrato.”

“Se continuar a este ritmo”, arrisca Peñafiel, “o Governo terá que fazer o mesmo que a França”. E cita como exemplo o que lhe contaram uns colegas italianos há uma semana durante uma convenção. “Disseram-nos que os carabinieri [policiais] entraram na sua fábrica e requisitaram a metade das máscaras que tinham, por ordem do Estado.”

“Nossa capacidade está superada”, contava há apenas cinco dias a diretora comercial da Productos Favesam, principal distribuidor de máscaras sanitárias a hospitais, farmácias e particulares, ao grupo Vocento. A empresa, com sede em Portillo (70 quilômetro a sudoeste de Madri), teve que ampliar seu pessoal. “Passamos de importar máscaras da China a ter que vender aos chineses. Antes vendíamos 100.000 máscaras em seis meses, e agora atendemos pedidos para vender 300.000 em dois minutos”.

Qual é a utilidade das máscaras?

A OMS estabeleceu em seu site uma série de conselhos para o uso das máscaras. Só são necessárias em dois casos: ao cuidar de alguém que se suspeite estar infectado (para isso são úteis as que têm filtro) e se a pessoa tiver tosse ou espirros (neste caso, as cirúrgicas). A OMS insiste em que só são eficazes se combinadas com lavagem frequente das mãos com uma solução hidroetílica ou com água e sabão. “Não se deve tocá-la durante o uso, e assim que ficar úmida deve ser jogada fora”, adverte. É preciso tirá-la do rosto sempre de trás para frente, sem tocar a parte dianteira, descartá-la em um recipiente fechado e lavar as mãos imediatamente, informa a organização.

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