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China bloqueia todos transportes para Wuhan contra propagação do vírus que matou 17 pessoas

Secretaria de Saúde de Minas Gerais investiga se paciente contraiu a doença, mas Ministério da Saúde diz que caso não pode ser considerado suspeito segundo a OMS

Passageiros passam por controle sanitário no aeroporto de Wuhan, na China.
Passageiros passam por controle sanitário no aeroporto de Wuhan, na China.Emily Wang (AP)

O governo chinês recomendou nesta quarta-feira aos cidadãos que evitem viajar para a cidade de Wuhan, epicentro do vírus 2019-nCov, que matou 17 pessoas, e fechou a rede de transporte público da cidade para impedir que seus habitantes a deixem. A evolução do coronavírus de Wuhan, que já afeta pelo menos 470 pessoas, levou Pequim a fechar as redes de transporte público ―metro, ônibus, balsa e longa distância― desta cidade, localizada no meio do território nacional e casa de 11 milhões de pessoas, a partir das 10h da quinta-feira. “O número de casos identificados está aumentando porque temos uma melhor compreensão da doença, melhores métodos de diagnóstico e mais recursos mobilizados”, disse Li Bin, vice-presidente da Comissão Nacional de Saúde, nesta manhã em uma entrevista coletiva para informar sobre a evolução do coronavírus.

O executivo agora gerencia a hipótese de que o vírus 2019-nCov, descoberto há duas semanas, sofreu uma mutação, o que complicaria seu tratamento. E, dada a possibilidade de aumentar os casos com os milhões de deslocamentos que ocorrerão nos próximos dias por ocasião do Ano Novo Chinês, ele recomendou que os cidadãos evitem viajar para Wuhan, o epicentro do surto que ocorreu em dezembro passado.

Na entrevista coletiva sobre a evolução do coronavírus de Wuhan, as cifras foram atualizadas para 17 mortos e 470 infectados, um aumento significativo em relação aos 41 afetados na estimativa de sexta-feira passada. Ante a possibilidade de propagação dos casos com os milhões de deslocamentos que irão ocorrer nos próximos dias, por ocasião do Ano-Novo chinês, o Governo recomendou aos cidadãos que evitem viajar para a região central. Na tarde desta quarta-feira, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais informou investigar se um paciente havia contraído a doença no Estado —trata-se de uma mulher de 35 anos que esteve em Xangai e foi atendida em Belo Horizonte. Momentos depois, o Ministério da Saúde informou que o caso mineiro não pode ser considerado suspeito segundo os critérios da OMS (Organização Mundial da Saúde) porque a paciente não esteve na área mais atingida.

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“A quantidade de casos identificados está aumentando porque temos uma maior compreensão da doença, melhores métodos de diagnóstico e mais recursos mobilizados”, apontou Li Bin, vice-presidente da Comissão Nacional de Saúde, na manhã desta quarta. O número crescente de resultados positivos nos exames também poderia ser atribuído a um exercício de maior transparência por parte das administrações locais e regionais, seguindo as instruções da direção do Partido Comunista, que ameaçou punir quem maquiar a realidade. “Quem não disser a verdade será atado ao pilar da vergonha para toda a eternidade”, proclamou na segunda-feira Chan An Jian, que opera o perfil oficial da Comissão Central de Assuntos Políticos e Jurídicos nas redes sociais. Esse porta-voz afirmou na quarta-feira que o Governo não escondeu nenhum dado até agora e se comprometeu a “continuar oferecendo informação até que deixe de ser necessária”.

Os principais esforços e a maioria dos casos se concentram por enquanto em Wuhan. Esta cidade de 11 milhões de habitantes —maior do que Londres ou Nova York— é o epicentro do surto iniciado em dezembro. A investigação tem como prioridade identificar as fontes do vírus, já que poderia haver mais focos além do mercado de peixes e frutos do mar de Huanan. Foi nesta zona, onde “se comercializavam animais vivos de maneira ilegal”, e que está há semanas sob quarentena, que o agente patogênico teria entrado em contato com seres humanos pela primeira vez, disse Gao Fu, diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China, na entrevista coletiva.

A segunda meta da investigação é saber mais a respeito das formas de transmissão da enfermidade, vinculada ao aparelho respiratório e que provoca sintomas similares aos de uma pneumonia comum. “Ainda estamos reunindo informação sobre o vírus, quanto mais soubermos, mais eficazes seremos em nossa ação”, afirmou o pesquisador, acrescentando que “a existência de superpropagadores [infectados altamente contagiosos] não está provada”. A escalada deste novo coronavírus recorda a da síndrome respiratória aguda grave (SARS, na sigla em inglês), com a qual guarda semelhanças genéticas. A epidemia de 2002, também originada na China, causou a morte de 700 pessoas em todo o mundo.

O coronavírus atual se espalhou a cidades como Pequim e Xangai e também às regiões autônomas de Macau e Hong Kong, que confirmaram seus primeiros casos nesta quarta-feira. Também houve diagnósticos em Taiwan, Coreia do Sul, Tailândia, Japão e Estados Unidos. Vários países começaram a aplicar controles sanitários aos viajantes procedentes da China. O aeroporto britânico de Heathrow criará áreas separadas para os passageiros procedentes de regiões afetadas pelo vírus, anunciou o ministro dos Transportes, Grant Shapps, nesta quarta.

As autoridades locais recomendam evitar aglomerações e mercados com animais vivos, ventilar as residências regularmente e dirigir-se imediatamente a um posto de saúde em caso de sintomas como febre, tosse e problemas respiratórios. Para estimular o diagnóstico precoce, o Governo anunciou que arcará com todos os custos do tratamento.

Li Bin também reconheceu que a proximidade do Ano-Novo chinês representa um fator de alto risco para a expansão do surto. Durante a semana de férias que se segue a essa festividade, que neste ano cai no próximo sábado, dia 25, é costume visitar parentes ou viajar ao exterior, o que resulta em mais de três bilhões de deslocamentos, a maior migração humana do mundo. Por isso, o representante comunicou a adoção de “medidas de alta eficácia para assegurar o desenvolvimento de um Festival da Primavera [como é conhecida a celebração] harmonioso e estável”.

Isso passa pela mobilização de recursos de emergência, pela instalação de controles de temperatura corporal em estações de trens, portos e aeroportos, e pela imposição de limites legais à venda de animais. Além disso, o Governo elevou a resposta em nível nacional com a criação de um grupo de trabalho específico composto por representantes de 32 agências e instituições públicas, com o propósito de “melhorar a coordenação entre diferentes áreas de trabalho, para que o esforço em matéria de controle e prevenção seja multidimensional”.

Li Bin ainda lembrou as declarações do Zhong Nanshan, diretor do Laboratório Estatal de Enfermidades Infecciosas em Cantão e eminência nacional no assunto, que recomendou que nos próximos dias ninguém visite Wuhan nem deixe a cidade se já estiver por lá, o que “contribuirá para reduzir os riscos de contágio e transmissão”.

Em sua fala, Li Bin elogiou a gestão da crise até agora: “Desde o primeiro momento em que o vírus foi descoberto, em 1º de janeiro, fizemos planos imediatos para administrar a situação e sintetizamos seu sequenciamento genético; todos esses esforços mantiveram os casos graves e os óbitos em níveis mínimos”. “A direção do Partido e o Conselho de Estado levam esta questão muito a sério e sempre põem a saúde pública como principal prioridade. Sob a liderança do Partido (Comunista da China) e de Xi Jinping seremos capazes de vencer esta enfermidade”, sentenciou. A Organização Mundial da Saúde, por sua vez, convocou para esta quarta uma reunião de emergência, seguida de entrevista coletiva, em que decidirá sobre a declaração de um “estado de emergência de saúde pública internacional”.

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