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Estado de São Paulo elimina exigência de máscara em locais abertos a partir de 11 de dezembro

Medida foi anunciada pelo Governo Doria com base na redução de mortes e internações e no avanço da vacinação contra a covid-19. Pesquisadora critica liberação a semanas das festas de fim de ano

Pessoas correm de máscara no parque Ibirapuera, em São Paulo, em julho de 2020.
Pessoas correm de máscara no parque Ibirapuera, em São Paulo, em julho de 2020.AMANDA PEROBELLI (Reuters)
Daniela Mercier

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O uso de máscaras contra a covid-19 deixará de ser obrigatório em ambientes ao ar livre do Estado de São Paulo a partir de 11 de dezembro, anunciou nesta quarta-feira o governador João Doria (PSDB). A decisão ocorre diante da redução do índice de internações relacionadas ao coronavírus e no momento em que o Estado atinge 74,5% da população acima de 12 anos com esquema vacinal completo contra a doença, mas preocupa especialistas, que apontam para o aumento das restrições em países da Europa.

No Estado, o uso da proteção em locais públicos vem sendo obrigatório desde maio de 2020. “Tomamos esta medida baseados em evidências científicas, que demonstram queda superior a 90% de internações em relação ao pico da pandemia, e a aceleração da vacinação no Estado que mais vacina no Brasil”, declarou Doria, em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes. A máscara continuará sendo exigida em locais fechados e no transporte público, incluindo terminais de ônibus e estações de trem e metrô a céu aberto.

O decreto com os detalhes da decisão ainda será publicado, mas os municípios poderão adotar regras locais mais rígidas, exigindo o uso de máscaras por mais tempo, caso queiram. Procurada pela reportagem, a Prefeitura de São Paulo afirmou que “segue acompanhando os indicadores da covid-19 na capital e, no dia 5 de dezembro, serão apresentados novos dados para eventual liberação do uso das máscaras”. “No momento continua obrigatório, e a liberação do uso, como informado, dependerá do cenário epidemiológico da cidade na ocasião. Caso a situação epidemiológica não seja favorável, a Secretaria Municipal da Saúde e a Vigilância em Saúde podem rever a decisão”, afirma a nota.

Durante o anúncio, o Governo paulista destacou a queda nas taxas de óbitos (26%), contágios (15,8%) e internações (6%) na última semana epidemiológica —o Estado totaliza 153.639 mortes e 4,4 milhões de casos da doença, e a taxa de ocupação nas UTIs é de 21,6%. Para a decisão, além desse cenário, foi também considerado o impacto da permissão para lotação completa de eventos culturais, esportivos e de lazer, em vigor desde o dia 1º. De acordo com a gestão Doria, não foi detectada uma piora nos contágios desde a liberação.

Para Lorena Barberia, professora da USP e coordenadora científica da Rede de Pesquisa Solidária, que monitora os dados da covid-19 no Brasil, o anúncio é preocupante e confunde a população sobre os cuidados que ainda precisam ser tomados na atual situação da pandemia. “Quando falamos de locais abertos, não estamos falando de parques, em que é possível manter dois metros de distanciamento. E sim de uma metrópole, de locais com aglomeração e entra e sai de pessoas, em que vai ser muito difícil fazer esse controle”, afirma.

Segundo ela, a retomada das restrições contra o vírus em outros países deveria fazer com que governantes locais reforçassem as medidas para as festas de fim de ano, e não o contrário. “Deveríamos estar aprendendo e nos preparando”, diz. Ela critica a escolha dos indicadores que baseiam a decisão, que apontam uma estabilidade, mas não necessariamente o controle da transmissão, o que só é possível aferir com testagem em massa.

Nas últimas semanas, países como Áustria, Alemanha e até Portugal, nação com maior taxa de vacinação na Europa, anunciaram a volta de restrições ou estudos para a retomada de medidas diante da quarta onda de covid-19 no continente. Na segunda-feira, os austríacos iniciaram mais um confinamento. “É uma decisão difícil, mas a situação é séria e é preciso tomar medidas para todos”, afirmou o chanceler Alexander Schallenberg. O país tem cerca de 66% da população vacinada, uma das taxas mais baixas da Europa.

Nesta semana, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta sobre a situação europeia, afirmando que, além dos obstáculos em relação à vacinação, contribui para o avanço da doença o “afrouxamento da obrigatoriedade do uso de máscara em lugares públicos”. De acordo com a OMS, a máscara é capaz de reduzir em mais da metade a incidência do coronavírus.

Paulo Menezes, coordenador do Comitê Científico do Estado de São Paulo, afirmou que a flexibilização não quer dizer que as “pessoas precisam tirar a máscara” e que é importante cada um avaliar se se sente seguro ou não sem a proteção a depender da situação. “Eu recomendaria que se há contato muito próximo de pessoas que não se conhecem, talvez seja interessante manter a proteção”, disse na coletiva desta quarta.

Já o secretário de Estado da Saúde, Jean Gorinchteyn, destacou a importância de outras ações de prevenção além das máscaras. “Precisamos manter importantes cuidados e ter cautela, como a higienização das mãos e o uso da proteção facial em ambientes fechados e no transporte público. Além disso, é fundamental que quem ainda não tomou a segunda dose da vacina retorne aos postos de saúde para se imunizar e termos assim uma população mais protegida.”

O Brasil registrou 284 mortes e 10.312 novos casos da covid-19 na terça, totalizado 613.066 vítimas da pandemia e 22 milhões de infecções, segundo o Ministério da Saúde.

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