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Presidente da Colômbia promete unidade com Bolsonaro em proposta de preservação da Amazônia

Iván Duque se reuniu com empresários brasileiros em busca de investimentos. Mandatário brasileiro já tem três denúncias no Tribunal Penal Internacional por destruir a floresta,

Iván Duque y Jair Bolsonaro sobre Amazonia
O presidente da Colômbia, Iván Duque, em encontro com Jair Bolsonaro nesta terça, em Brasília.UESLEI MARCELINO (Reuters)

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, recebeu a visita do mandatário da Colômbia, Iván Duque, nesta terça em Brasília, uma das poucas visitas de mandatários que Bolsonaro tem recebido em seu Governo. Duque veio ao país para firmar alguns acordos de segurança na fronteira, e aproveitou o encontro para anunciar que estará junto com seu par brasileiro na proposta de preservação da Amazônia durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, a COP-26 de Glasgow, que inicia no próximo dia 31.

Duque chegou há dois dias ao Brasil anunciando a intenção de aumentar a proximidade entre os dois países. Após encontros com empresários em São Paulo e em Brasília, ele destacou que estão previstos investimentos na casa de 1,4 bilhão de dólares provindos do Brasil. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o intercâmbio comercial entre os dois países foi de 3,6 bilhões de dólares no ano passado. “Estamos no ponto mais alto de nossas relações”, disse Duque. Ele recorreu, ainda, ao jargão da relação “ganha-ganha” entre as duas nações.

No Planalto, os presidentes falaram a sós, e em seguida estiveram em reunião entre seus respectivos ministros. Ao todo, foram assinados sete acordos na visita oficial que o colombiano fez a Brasília nesta terça-feira. Os acordos passam pelas áreas de serviços aéreos, cooperação policial, saneamento básico e investigação.

Na entrevista conjunta com a imprensa ao final do encontro, Duque mostrou-se mais entusiasmado para falar da Amazônia que seu par brasileiro. Bolsonaro pronunciou apenas 23 palavras sobre o assunto em seu breve pronunciamento. Enquanto que Duque quis destacar a importância da região para todos os países que possuem o bioma e se estendeu mais que o seu colega brasileiro. Na prática, ambos são criticados interna e internacionalmente pela política ambiental.

“Chegaremos unidos em Glasgow para tratarmos de um assunto muito importante e caro para todos nós, a nossa querida, rica e desejada Amazônia”, disse Bolsonaro, sem detalhar como seria essa atuação. O colombiano foi além. Afirmou que se os Estados conseguirem conservar a floresta, representará uma captura de 2 bilhões de toneladas de carbono e que seu debate tem de ser além da soberania dos países amazônicos. “A Amazônia para nós é um território muito valioso e a cuidamos dentro de nossa soberania. Mas é muito importante que essa defesa traga consigo uma luta eficaz contra os delitos ambientais.”

Duque afirmou que haverá unidade entre os dois mandatários durante a COP-26. “A nossa voz em Glasgow será, não somente, para trabalhar com a transição energética, trabalhar para a redução de emissões [de gases de efeito estufa], mas também trabalhar com a neutralidade do carbono e fazê-lo com uma grande proteção de nossas florestas tropicais e de nossa Amazônia”, sintetizou Duque. Bolsonaro e Duque dizem ser amigos, ambos aliados no campo da direita na política.

No Brasil, Bolsonaro é visto como um estimulador do desmatamento da Amazônia. Ele é defensor da possibilidade de mineração em terras indígenas, é um crítico de ONGs ambientais e suspendeu o Fundo Amazônia, que era um projeto financiado por Noruega e Alemanha que destinava recursos para serem aplicados na preservação da floresta. Ele já teve apresentada contra si três denúncias no Tribunal Penal Internacional de Haia pela destruição da floresta, a última delas na semana passada. Frequentemente o brasileiro diz que é necessário desenvolver a região da Amazônia Legal, uma área por onde passa a floresta e ocupa 58,9% do território nacional.

Já a Colômbia foi considerada pelo segundo ano consecutivo o país mais perigoso para ambientalistas – 227 foram assassinados no país no ano passado. Ainda que em menor medida, a Colômbia tem visto o desmatamento crescer. Segundo dados oficiais, houve um crescimento de 8% no desmatamento da Amazônia colombiana em 2020, em comparação com o ano anterior. No Brasil, o crescimento foi de 30%. A Amazônia também ocupa áreas de Venezuela, Peru, Bolívia, Equador, Suriname, Guiana e Guiana Francesa.

Fronteira e compra de caça da Embraer

Durante o encontro, Bolsonaro ainda citou um tema delicado ao Governo da Colômbia, o combate às FARC, o antigo grupo guerrilheiro local que passou à política após um acordo de paz firmado com a gestão antecessora de Duque. “É uma questão muito importante a cooperação fronteiriça e de segurança. As FARC, obviamente nos preocupam, não apenas na Colômbia”, disse o presidente brasileiro. O colombiano, entretanto, preferiu não tratar do tema em seu discurso. Destacou apenas um dos acordos firmados com o Brasil e que trata de segurança e defesa, “onde estamos enfrentando ameaças de crimes transnacionais com toda a nossa capacidade”. Nessa área, Colômbia demonstrou interesse em renovar sua frota de caças de treinamento. Segundo Bolsonaro, há a possibilidade do Governo Duque comprar aviões supertucanos, fabricados pela Embraer.

A chegada de Duque ao Palácio do Planalto teve uma cena inusitada para um período que a pandemia de covid-19 ainda não acabou: enquanto subia a rampa presidencial, ele retirou a máscara facial quando se aproximou de Bolsonaro. O presidente brasileiro raramente usa a proteção, assim como boa parte de sua equipe ministerial e de assessores.


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