Maranhão confirma casos da cepa indiana da covid-19 no Brasil e eleva temor de aceleração de infecções

Os seis infectados pertencem à tripulação do navio oriundo da África do Sul, que não teve permissão para atracar na costa maranhense. Um deles está internado. Variante é mais transmissível e especialistas alertam para riscos enquanto a vacinação segue atrasada no país

Um homem é submetido a um teste de covid-19 na Índia nesta quinta-feira. País asiático vive colapso sanitário por conta da nova cepa
Um homem é submetido a um teste de covid-19 na Índia nesta quinta-feira. País asiático vive colapso sanitário por conta da nova cepaFAROOQ KHAN (EFE)
Diogo Magri
Mais informações
Patentes vacunas Covid
As novas variantes da covid-19, mais contagiosas, dificultam que se chegue à imunidade de rebanho
FILE - In this May 11, 2021, file photo, family members and volunteers carry the body of a COVID-19 victim for cremation in New Delhi, India. The capital of New Delhi is seeing some improvement in the fight against the coronavirus, but experts say the crisis is far from over in the country of nearly 1.4 billion people. Hospitals are still overwhelmed and officials are struggling with short supplies of oxygen and beds. (AP Photo/Amit Sharma)
Falta de oxigênio, crematórios superlotados e mercado clandestino: a devastação na Índia
GRAF5569 RIO DE JANEIRO (BRASIL), 30/04/21.- Un voluntario trabaja al amanecer para preparar el acto de la ONG Río de Paz en memoria de los más de 400.000 brasileños muertos por el Covid-19, este viernes en las arenas de la playa de Copacabana, en la zona sur de Río de Janeiro, Brasil. El país superó ayer la barrera de las 400.000 muertes por covid-19, con los hospitales aún en una situación "crítica" y bajo el riesgo de sufrir una tercera ola de la pandemia, pese a la tímida desaceleración de las últimas dos semanas. EFE/Antonio Lacerda
Terceira onda de covid-19 será mais grave com vacinas atrasadas, falta de isolamento e gripes de inverno, projetam especialistas
Coronavirus Africa
Variante indiana do coronavírus tem três mutações ameaçadoras

Aviso aos leitores: o EL PAÍS mantém abertas as informações essenciais sobre o coronavírus durante a crise. Se você quer apoiar nosso jornalismo, clique aqui para assinar.

O Governo do Maranhão, através da Secretaria de Saúde, confirmou nesta quinta-feira os primeiros casos de infecção no Brasil provocados pela cepa indiana do novo coronavírus. Os infectados pela variante B.1.617.2 foram seis tripulantes do navio Shandong da Zhi, oriundo da África do Sul e fretado pela empresa Vale para a entrega de minério de ferro em São Luís, capital do Estado. A informação foi divulgada pelo secretário de Saúde do Maranhão, Carlos Lula, que também é presidente do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde).

De acordo com a Secretaria, a preocupação começou quando um homem indiano, de 54 anos, foi internado num hospital de São Luís com sintomas de covid-19. Ele começou a sentir febre no dia 4 de maio e foi encaminhado de helicóptero para um hospital da rede privada —os tripulantes estão isolados no navio desde que chegou à costa brasileira, e sequer atracaram no porto maranhense. Na segunda, 17 de maio, outros dois tripulantes tiveram sintomas e foram encaminhados da mesma forma ao hospital, mas tiveram alta. Segundo Carlos Lula, seis dos 24 tripulantes fizeram o teste genômico pelo Instituto Evandro Chagas e testaram positivo para a nova cepa. Outros nove foram diagnosticados com covid-19, sem saber qual cepa é, e nove tripulantes não foram infectados pelo vírus. Apenas um dos 24 está fora do navio, internado no hospital.

A variante indiana, chamada de B.1.617, foi considerada “de preocupação” pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e possui três sub-linhagens: B.1.617.1, B.1.617.2 e B.1.617.3. A segunda delas, que foi detectada no Maranhão, é a que tem se mostrado mais transmissível para as autoridades de saúde. “No Reino Unido, essa mesma sub-linhagem passou a representar 11% dos casos em duas semanas de circulação durante o mês de abril. É um crescimento assustador”, relata Mellanie Fontes-Dutra, biomédica e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “Ter uma nova variante entrando na equação num momento em que Governos adotam flexibilizações imprudentes é criar um cenário de transmissão acelerada que vai ser muito problemático no futuro”, completa.

O secretário de Saúde do Maranhão confirmou que, fora os profissionais de saúde que o atenderam, nenhum tripulante do navio sul-africano teve contato com pessoas em terra, o que Fontes-Dutra considera “uma medida sanitária muito positiva”. A biomédica, no entanto, reforça que não se tem a certeza de que os casos maranhenses são realmente os primeiros da cepa indiana no Brasil. “O Rio Grande do Sul faz fronteira com a Argentina, onde a variante já foi detectada, e tem regiões com um aumento expressivo de casos. Ela já pode ter entrado no Brasil por outros lugares”, pontua ela. “Existem medidas de vigilância genômica, mas o rastreio é subnotificado, com uma série de limitações que não nos permitem fazer a detecção no momento em que a transmissão acontece. A minha preocupação é saber que muitas vezes o primeiro caso é só simbólico, porque quando identificamos ele, já sabemos que deve ter infectado outros”, explica.

Navio não teve a permissão para atracar na costa brasileira e segue em alto mar, com infectados isolados.
Navio não teve a permissão para atracar na costa brasileira e segue em alto mar, com infectados isolados.Reprodução / TV Mirante

Fontes-Dutra afirma que as variantes indianas apresentam a possibilidade de reinfecção em relação às outras cepas do vírus, mas os testes feitos até agora indicam que elas são abrangidas pelas vacinas aplicadas no Brasil. “O que preocupa é o incremento na transmissão, uma vez que a vacinação não deve acelerar nos próximos dois meses. Então, independente do escape imunológico, muitas pessoas ainda estarão suscetíveis se não houver adesão a medidas de isolamento e combate à covid-19″, ressalta a cientista.

Na Índia, a cepa foi responsável por uma situação de colapso sanitário desde o mês de abril, levando o país asiático a uma situação de falta de oxigênio e crematórios lotados. Nesta quarta, o país registrou 4.529 óbitos nas últimas 24 horas, um recorde mundial, e chegou a 25,5 milhões de casos, atrás apenas dos Estados Unidos. Segundo a Universidade de Oxford, a Índia foi responsável por 33% das mortes por covid-19 no mundo durante a última semana.

Apoie a produção de notícias como esta. Assine o EL PAÍS por 30 dias por 1 US$

Clique aqui

Inscreva-se aqui para receber a newsletter diária do EL PAÍS Brasil: reportagens, análises, entrevistas exclusivas e as principais informações do dia no seu e-mail, de segunda a sexta. Inscreva-se também para receber nossa newsletter semanal aos sábados, com os destaques da cobertura na semana.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS