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Ministério Público investiga contágio de bebês com covid-19 dentro de maternidade em Maceió

Ao menos 15 bebês foram diagnosticados com a doença em UTI neonatal. Unidade diz estar tomando cuidados, mas reconhece que alguns recém-nascidos foram contaminados dentro do local

Beatriz, que estava com covid-19 e perdeu seu bebê, e a mãe, Elizabeth, em maternidade em Maceió.
Beatriz, que estava com covid-19 e perdeu seu bebê, e a mãe, Elizabeth, em maternidade em Maceió.Vitor Beltrão

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Um surto de covid-19 dentro da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da Maternidade Escola Santa Mônica, referência em Alagoas para o atendimento a gestantes de alto risco, está sendo investigado pela Força-Tarefa de Combate à Covid-19 do Ministério Público do Estado. Os promotores pediram explicações para o Governo depois de recém-nascidos terem sido infectados dentro do próprio hospital. Até agora, foram confirmados 15 casos da doença entre bebês internados. Eles foram isolados e não podem, sequer, receber a visita das próprias mães.

O surto de covid-19 na UTI Neonatal foi confirmado em 9 de março. O hospital reconhece que alguns recém-nascidos foram infectados na maternidade, mas diz que outros já chegaram doentes, após serem transferidos de unidades de saúde da região, ou nasceram de mulheres com diagnóstico da doença. Inicialmente, 16 bebês internados na UTI Neonatal da Maternidade Santa Mônica estavam com suspeita de covid-19. Deles, 14 tiveram diagnóstico confirmado e foram isolados. Os outros dois apresentaram testagem negativa e foram transferidos para a Unidade de Cuidados Intermediários Convencionais. No dia seguinte, mais um bebê nascido de mãe com covid-19 também foi isolado na UTI. Na última sexta-feira (12), dos 15 recém-nascidos confirmados com a doença, um foi transferido para o Hospital Geral do Estado de Alagoas, devido a uma situação clínica neurológica anterior à covid-19. Os demais permanecem isolados na maternidade, sem agravamento e evoluindo conforme condições neonatais anteriores ao surto.

A maternidade diz que está “tomando medidas internas” para reforçar a proteção dos pacientes. Apesar disso, mulheres entrevistadas pela reportagem, que estiveram internadas na unidade nesta semana, relataram insegurança diante das medidas adotadas. Gestantes e puérperas são consideradas grupos de risco na pandemia.

Internada durante 23 dias na unidade de saúde, uma estudante grávida de 17 anos afirmou que ficou assustada com a notícia do surto dos bebês na UTI. “Achei que o hospital estava tomando os cuidados, sempre via as pessoas de máscara, passando álcool. Quando soube, fiquei desesperada, com medo. Tanto que hoje, quando recebi alta, foi um alívio. Me sinto muito mais segura voltando para casa”, afirmou. Segundo ela, depois da notícia do diagnóstico dos prematuros, o trânsito dos acompanhantes dentro do hospital foi limitado. “Eles não podiam mais sair para comer ou fumar.”

A cake designer Beatriz Torres, de 28 anos, permaneceu internada na unidade até a tarde da última quinta-feira (11) e acompanhou o drama dos bebês diagnosticados com a doença. Ela conta que enquanto permaneceu na Maternidade Santa Mônica teve a temperatura aferida a todo momento, mas que a mãe dela, a acompanhante, não. “Me senti mais protegida enquanto estive no andar térreo da maternidade, o pessoal lá tinha mais medo de contágio. Apesar disso, ficamos em isolamento, sem poder sair para nada. Tanto que soube por uma reportagem dos bebês internados”, disse. Segundo Beatriz, não houve nenhum comunicado sobre o surto às mulheres internadas na unidade.

O fotógrafo do EL PAÍS andou pelas áreas comuns da maternidade e foi informado por uma funcionária, em reserva, de que nesses espaços não é feita aferição de temperatura dos visitantes. Segundo a assessoria de comunicação da maternidade, toda paciente de alto risco que chega passa, obrigatoriamente, por triagem. Nesse momento, todos os sinais vitais são averiguados, incluindo a temperatura, saturação e sintomas de síndrome gripal em todas as pacientes.

Diante do ocorrido com os bebês da UTI neonatal, a maternidade decidiu mantê-los em isolamento até o dia 23 de março, com adequação de uma enfermaria no térreo. Os pais das crianças, proibidos de fazer visitas no momento, estão recebendo boletins diários. Novas admissões estão sendo direcionadas para 11 leitos da Unidade de Cuidados Intermediários Neonatal Convencional. A maternidade também ampliou leitos inicialmente destinados para recém-nascidos suspeitos de covid-19.

Entrada da Maternidade Escola Santa Mônica, em Maceió.
Entrada da Maternidade Escola Santa Mônica, em Maceió.Vitor Beltrão

Em nota enviada nesta quinta-feira (11), a maternidade, gerida pela Universidade Estadual de Ciências da Saúde em Alagoas, afirmou que “recentemente, com o aumento dos casos de covid-19 na população jovem, a demanda de pacientes na maternidade, assim como em todo país, aumentou sobremaneira.” Em função disso, disse estar recebendo apoio da Secretaria de Saúde do Estado na aquisição de equipamentos de proteção pessoal para os funcionários.

Na quarta-feira (10), o Ministério Público de Alagoas decidiu instaurar, por meio da 26ª Promotoria de Justiça da Capital, procedimento para acompanhar a situação. A direção da Santa Mônica encaminhou para o órgão a cópia de um memorando elaborado pelo Serviço de Infecções Hospitalares. O material dos autos, segundo a promotora de Justiça Louise Teixeira, também foi encaminhado ao Núcleo da Infância e da Juventude do MP, para acompanhamento e adoção de providências. O documento segue em análise.

Pandemia em alta no Nordeste

A Secretaria de Saúde de Alagoas confirmou, neste sábado, mais 716 novos casos de covid-19 no Estado, que tem um total de 139.645 confirmados para a doença desde o início da pandemia. Foram registradas 16 mortes, com isso Alagoas tem 3.182 óbitos por covid-19. Atualmente, 747 pacientes estão internados —263 deles em UTIs. A taxa de ocupação de leitos é de 73%, uma das mais baixas entre do Nordeste atualmente.

Mas mesmo com uma situação hospitalar mais tranquila, há pacientes que relatam ter sofrido com a negligência hospitalar no Estado. Beatriz, que ficou internada na maternidade Santa Mônica, conta que começou a sentir os sintomas de covid-19 no fim de fevereiro, ainda grávida. Chegou a receber atendimento no hospital do município de Coruripe, a 90 quilômetros de Maceió, onde vive. No entanto, foi enviada para casa sem realizar o teste. “Me trataram como se eu fosse qualquer pessoa. Estava com febre de mais de 39. Me colocaram no soro e depois disseram para voltar para casa. No mesmo dia, no domingo, às 18h30, voltei para lá. Não estava mais sentindo meu bebê mexer”, contou.

Beatriz voltou ao hospital no dia 1, para tentar novamente atendimento, mas decidiu ir até Maceió e realizar o teste para detecção de doença na rede particular. “No dia 2, fui ao hospital da minha cidade com o teste positivo, aí a médica de plantão já me mandou para a Santa Mônica em trabalho de parto de prematuro. Quando cheguei lá, meu bebê tinha vindo a óbito. Estava com 33 semanas, e o médico disse que o quadro agravou por causa da covid-19”, disse.

Segundo dados divulgados no final da semana pelas secretarias de saúde dos nove Estados do Nordeste, a situação mais crítica estava em Pernambuco, com 95% dos leitos de UTI covid-19 ocupados. No Rio Grande do Norte, a ocupação é de 92%. Já no Maranhão, é de 92% nos leitos da UTI da capital e 79% no interior. O Ceará tem 90,7% de ocupação, enquanto o Piauí, 90,4%. Paraíba, 86%, e Bahia, 88%. Em Sergipe, a ocupação é de 80,7%. Todos os Estados da região estão com tendência de alta nos casos, de acordo com a variação da média dos últimos sete dias.

Diante da situação, Pernambuco anunciou pela primeira vez desde o início da pandemia a contratação de 10 leitos em um hospital particular de outro Estado, a Bahia, para atendimento de pacientes com covid-19. Em pronunciamento transmitido pela internet, o secretário de Saúde pernambucano, André Longo, afirmou que deve haver um “aumento expressivo da mortalidade” nos próximos dias. “O vírus está com uma aceleração recorde, que pode tornar-se, a qualquer momento, superior à nossa capacidade de abrir leitos. Meu recado é que ou todos cooperam, ou vai faltar leito para quem precisa”, disse.

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