Dia internacional da Mulher
Tribuna
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Política é coisa de mulher, sim, e temos provas

Dados mostram que, na média, parlamentares mulheres produzem e aprovam mais projetos de lei do que os homens

Protesta en Brasil contra Jair Bolsonaro
Mulheres protestam neste 8 de março por direitos e melhoria da gestão da pandemia no Brasil, em São Paulo.AMANDA PEROBELLI (Reuters)
Mais informações
Do plenário, parlamentares acompanham fala de deputado na tribuna da Câmara, em 21 de setembro.
Mais do que eleger mulheres, precisamos acabar com o ‘teto de vidro’ da política
FILE PHOTO: The Fearless Girl statue is seen outside the New York Stock Exchange (NYSE) in New York City, New York, U.S., June 11, 2020. REUTERS/Brendan McDermid - RC297H9CV5MI/File Photo
Instituições financeiras também são lugares para mulheres, mas maioria está fora dos cargos de chefia
A demonstrator wearing a mask depicting late activist and councilwoman Marielle Franco raises her fist as she takes part in a protest against Brazil's President Jair Bolsonaro and his handling of the coronavirus disease (COVID-19) outbreak, in Sao Paulo, Brazil, January 31, 2021. REUTERS/Amanda Perobelli
A pergunta que persiste

O Brasil ocupa o 152º lugar no ranking internacional da Inter-Parliamentary Union sobre a presença feminina nos parlamentos, ficando atrás não só dos nossos vizinhos México e Argentina, como também de países como a Somália, onde a mutilação genital feminina ainda é uma realidade, e o Afeganistão, que até pouco tempo atrás era considerado um dos países mais perigosos do mundo para as mulheres.

Em 2016, o Fórum Econômico Mundial constatou que, se a implementação de políticas de gênero continuasse no mesmo ritmo, o Brasil levaria 95 anos para atingir a igualdade entre homens e mulheres. Nós, mulheres, não queremos e não podemos esperar todo um século para que nossos direitos sejam plenamente garantidos. Mas por que toda a sociedade, incluindo os homens, também deveria querer mais mulheres na política?

A resposta é simples: para além da justiça representativa, os dados mostram que, na média, as mulheres eleitas trabalham mais e são mais eficientes do que os homens. É o que mostra o levantamento coordenado pelo Instituto Vamos Juntas, movimento suprapartidário do qual fazemos parte e que trabalha por mais mulheres na política. O estudo analisou a atuação parlamentar entre os anos de 2015 e 2020 e mostrou que, apesar das mulheres ocuparem apenas 15% das cadeiras do Congresso, proporcionalmente, elas produzem e aprovam mais projetos de lei do que os homens.

Nesse período, as deputadas apresentaram 40% mais projetos de lei ordinária, complementar e de emenda constitucional do que os seus colegas homens. Entre os parlamentares que melhores desempenham, temos uma diferença expressiva. Enquanto 36% das mulheres apresentaram mais do que 14 projetos por ano, somente 24% dos homens apresentaram a mesma quantidade. Já entre os que desempenham pior, 27% dos deputados homens apresentaram menos do que três projetos por ano, enquanto apenas 13% das colegas mulheres apresentaram a mesma quantidade por ano.

Apoie a produção de notícias como esta. Assine o EL PAÍS por 30 dias por 1 US$

Clique aqui

Quando o assunto é articulação política para a aprovação dos projetos, as mulheres também se destacam na Câmara dos Deputados. Mesmo sendo minoria nos cargos de liderança e presidindo apenas 4 das 27 comissões parlamentares, as mulheres obtiveram quase o dobro de sucesso na aprovação dos seus projetos. Isso porque, como outros estudos já demonstraram, as mulheres tendem a trabalhar de forma mais colaborativa. A Bancada Feminina é um grande exemplo dessa cooperação. Em 2020, a Bancada foi responsável pela aprovação de 24 projetos de lei, sendo que 9 dessas aprovações se deram em um único dia.

Uma maior presença das mulheres na política também impacta quais temas serão priorizados no debate político, fazendo com que a educação e a saúde, por exemplo, tenham maior espaço na agenda legislativa. Mesmo ocupando apenas 15% das cadeiras, as deputadas são responsáveis por 22% dos projetos relacionados à educação e 25% dos projetos da área da saúde.

O nosso objetivo ao expor esses dados não é promover uma competição entre homens e mulheres. Muito pelo contrário, o que queremos é que toda a sociedade participe desse debate, entendendo que uma política mais representativa da nossa diversidade produz resultados que beneficiam a todos.

Além disso, a fotografia trazida por esse levantamento desmente muitos dos preconceitos que ainda são reproduzidos por algumas pessoas. Falas como “homens são naturalmente mais aptos para a política” ou “política não é coisa de mulher” perdem o seu sentido diante de dados que demonstram que as mulheres têm muito a contribuir para a construção de uma política que, de fato, represente os anseios da população. Por isso mesmo, a luta por uma maior igualdade de gênero na política não pode ficar restrita a um nicho específico; essa deve ser uma luta de todos que se preocupam com a construção de um país mais justo e desenvolvido.

Tabata Amaral, fundadora e presidente de honra do Instituto Vamos Juntas, deputada federal (PDT-SP) e cientista política e astrofísica formada pela Universidade de Harvard.

Talita Nascimento, presidente do Instituto Vamos Juntas, mestre em políticas educacionais pela Universidade de Columbia e advogada formada pela USP.

Registre-se grátis para continuar lendo

Obrigado por ler o EL PAÍS
Ou assine para ler de forma ilimitada

_

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS