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Brasil busca meios de driblar Bolsonaro e acelerar vacinação contra a covid-19

Congresso, prefeitos, governadores e empresários correm para agilizar aquisição de imunizantes e destravar campanha de vacinação, cientes de que só assim economia poderá se recuperar

Mulher recebe dose da vacina contra a covid-19 no sábado, 27 de fevereiro, no Rio de Janeiro.
Mulher recebe dose da vacina contra a covid-19 no sábado, 27 de fevereiro, no Rio de Janeiro.Antonio Lacerda (EFE)
Felipe Betim
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AME8293. DF (BRASIL), 26/02/2021.- Personas usan tapabocas para prevenir la covid-19 hoy, en Brasilia (Brasil). Un año después del primer caso de coronavirus, que fue además el primero de América Latina, la pandemia sigue fuera de control en Brasil, con 250.000 muertos y un presidente que se niega a reconocer su gravedad, mientras la nueva cepa amazónica se extiende en silencio por el país. EFE/Joédson Alves
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Anvisa dá sinal verde à vacina da Pfizer e esquenta corrida de Estados e municípios por imunizante

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Vacinar contra a covid-19 funciona e o Brasil tenta, agora, correr atrás do tempo perdido. Países que avançam rapidamente na vacinação, como Israel e os Estados Unidos, registraram uma importante queda no número de mortes no último mês e começam a ver luz no fim do túnel. Já o Brasil caminha mais devagar em uma campanha marcada pela escassez de vacinas e por decisões atrasadas e por vezes erráticas do Governo Jair Bolsonaro. Os pouco mais de 6,5 milhões de brasileiros já vacinados representam somente 3,1% da população brasileira ―para efeito de comparação, o Chile já vacinou 16% dos cidadãos. Governadores, prefeitos, Congresso e empresários se empenham para driblar os obstáculos, muitos deles erguidos pelo próprio presidente, e acelerar a vacinação no Brasil —cientes de que só uma campanha de vacinação em massa fará a economia se recuperar o quanto antes.

A iniciativa mais recente é a formação de um consórcio de prefeituras para adquirir imunizantes. A ideia foi apresentada pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP), entidade que reúne as 412 cidades com mais de 80.000 habitantes, e já recebeu cem adesões. A participação no consórcio é aberta inclusive para municípios menores. De acordo com Jonas Donizette (PSB), ex-prefeito de Campinas e atual presidente da FNP, a ideia é adquirir o maior número de vacinas possível, inclusive com recursos do Governo Federal. “Se conseguirmos os recursos do Governo Federal, todas vão para o Programa Nacional de Imunização (PNI). Se não, os municípios que entrarem com cota de participação receberão doses proporcionais ao investimento que fizeram”, afirmou ao portal G1.

Prefeituras tem até o dia 5 de março para manifestar interesse em aderir ao grupo. A iniciativa deverá ser formalizada nos próximos dias, com a criação de um CNPJ e a escolha de uma diretoria, de modo que o grupo fique apto para realizar as compras. “Queremos que o Governo vá atrás de todas as vacinas. O que não pode são os prefeitos ficarem assistindo de braços cruzados”, defendeu Donizette.

A aquisição de imunizantes por parte de prefeituras e Governos estaduais tornou-se possível após uma decisão do Supremo Tribunal Federal na semana passada. O Governo Federal tem até meados de março para decidir se adquire 100 milhões de doses da vacina da Pfizer/BioNTech, que recebeu registro definitivo da Anvisa em 24 de fevereiro. O Ministério da Saúde vem reclamando que algumas cláusulas de comercialização são abusivas, o que fez com que gestões estaduais, como a da Bahia, começassem a articular a compra.

Em entrevista ao jornalista Josias de Souza, do portal UOL, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), assegurou que os 27 Governos estaduais estão empenhados em realizar compras conjuntas. A vacina russa Spunitk V também está no radar das autoridades estaduais. Está previsto que 18 governadores viajem a Brasília nesta terça-feira e visitem a sede da empresa União Química, que representa no Brasil a Sputnik V.

Acelerar a vacinação também tornou-se prioridade para os presidentes da Câmara, Arthur Lira (Progressistas), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM). O primeiro se reuniu com Bolsonaro e os ministros Paulo Guedes (Economia). Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Eduardo Pazuello (Saúde) e Walter Souza Braga Netto (Casa Civil) no fim de semana. Saiu da reunião com um cronograma de vacinação “bastante otimista” com a previsão de entrega de pelo menos 25 milhões de doses em março por parte PNI. Mas a entrega pode ser maior e chegar a 39 milhões até o fim do mês. “Se as perspectivas continuarem e tudo correndo bem, poderemos ter em torno de 140 milhões de doses de vacinas para março, abril e maio”, afirmou Lira ao fim do encontro.

De acordo com o Governo de São Paulo, o Instituto Butantan vai entregar 21 milhões da Coronavac em março, 17% a mais do que o previsto para o mês. De acordo com a gestão Doria, o Butantan dobrou a capacidade de produção da sua fábrica, que agora funciona 7 dias por semana, 24 horas por dia. Está previsto que 46 milhões de doses sejam entregues até o final de abril, e outras 54 milhões até o fim de agosto —um mês antes da previsão inicial. Também está previsto para março a entrega de 2 milhões de doses da vacina da AstraZeneca/Oxford importadas diretamente Índia, outras 2,6 milhões entregues pelo consórcio Covax Facility, além de mais 12,9 milhões produzidas em solo nacional pela Fiocruz.

Rodrigo Pacheco, por sua vez, conseguiu aprovar no último dia 25 um projeto de sua autoria que prevê a possibilidade de entidades privadas de comprarem a adquirirem imunizante. De acordo com o texto, as vacina adquiridas deverão ser integralmente encaminhadas para o PNI enquanto estiver em curso a vacinação dos grupos prioritários. O projeto está, agora, nas mãos da Câmara dos Deputados.

Nesta segunda-feira, Pacheco e Lira se reuniram com Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), para tratar da vacinação, entre outros temas. Executivos e industriais entraram na corrida pela imunização através do movimento Unidos pela Vacina e trabalharam para que o projeto de Pacheco fosse adiante. Liderados empresária Luiza Trajano, não tentam, ao menos por ora, adquirir por conta própria imunizantes. O objetivo atual é destravar a vacinação em curso, mapeando as dificuldades dos Estados e dos municípios e ajudando na logística, na compra de insumos e de equipamentos. Preocupados com um possível colapso da saúde pública, buscam adiantar ao máximo o calendário de vacinação. Sabem que só desse jeito a economia, e seus negócios, voltarão a respirar.

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