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Brasil deve aprovar hoje vacinas contra covid-19 com apenas 6 milhões de doses asseguradas da Coronavac

Anvisa se reúne para dar veredito sobre os imunizantes da Fiocruz/Oxford e do Butantan/Sinovac. Ministério cobra entrega imediata das 6 milhões de doses do imunizante paulista, enquanto governador Doria marca coletiva que pode ter foto do primeiro vacinado ainda neste domingo

Equipe da Anvisa chega para reunião que vai decidir sobre uso de vacinas contra a covid-19, neste domingo, em Brasília.
Equipe da Anvisa chega para reunião que vai decidir sobre uso de vacinas contra a covid-19, neste domingo, em Brasília.Eraldo Peres (AP)
Carla Jiménez

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Chegou o dia em que o Brasil finalmente vai conhecer a esperada vacina que pode dar início à campanha nacional de imunização contra a covid-19. Cinco diretores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estão reunidos desde as 10h deste domingo numa encontro extraordinário que deve se estender por cinco horas para bater o martelo sobre duas vacinas e será transmitida em tempo real nos canais de comunicação do Governo. Uma das vacinas avaliadas é a da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio, foi desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com o laboratório AstraZeneca. A outra é a do laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo.

A reunião da Anvisa chega num dos momentos mais cruéis da pandemia para o Brasil, que soma 209.296 mortes e 8,4 milhões de infectados com Estados, como o Amazonas em um colapso dramático da saúde pública com pessoas morrendo por falta de oxigênio, insumo básico para o tratamento de pacientes. A situação dramática levou inclusive o Governo do Estado a oferecer câmeras frigoríficas ao prefeito do município de Itacoatiara, Mário Jorge Abrahim, e a orientá-lo a abrir valas no cemitério local, uma vez que não havia previsão para o fornecimento de oxigênio para o Município de Itacoatiara.

A reunião se realiza, também, depois de uma semana pesada com o Governo federal se isentando de responsabilidade sobre o caos no Amazonas, e de uma batalha política pelo protagonismo da vacina entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador João Doria. Após meses de críticas à Coronavac, com campanhas de seguidores desacreditando o imunizante, apelidado ironicamente de Vachina, Bolsonaro teve de se render à análise da vacina chinesa elaborada em parceria com o Instituto Butantan que, por ora, é a que tem mais doses prontas até o momento —6 milhões até o momento—, o que levou o Ministério da Saúde a solicitar o estoque para iniciar a distribuição nacional. Segundo ofício do ministério, tão logo a Anvisa autorize a vacina neste domingo, é necessário “fazer o loteamento para iniciar a logística de distribuição nos Estados da federação de maneira simultânea e equitativa”.

São Paulo condiciona a entrega de doses após ter garantia da quantidade de doses destinadas a São Paulo, que deveriam ser por volta das 1,5 milhão. Trata-se de uma praxe na produção e distribuição de vacinas no Programa Nacional de Imunizações, que parte das doses permaneçam no Estado, quando a produção é feita pela Instituto Butantan. O que deveria ser um procedimento corriqueiro, ganha ares de batalha épica entre Bolsonaro e Doria, ambos declarados candidatos à presidência em 2022, num marketing político sem fim. Doria havia anunciado em dezembro que a vacinação em São Paulo começaria no dia 25, aniversário da cidade, quando o mundo já começava a se vacinar e o Governo Bolsonaro não tinha ainda uma definição de qual imunizante seria utilizado num plano de vacinação nacional. Até o início do ano Pazzuello falava em vacinação em fevereiro.

Por ora, a previsão do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, é lançar a campanha nacional de imunização contra o coronavírus na terça-feira, 19, com início efetivo da vacinação no dia 20. Os primeiros grupos a receber a vacina são profissionais da saúde, pessoas de 80 anos ou mais e indígenas acima de 18 anos. A cidade de Manaus pode ser uma das primeiras a serem vacinadas devido ao colapso na saúde.

A data anunciada pelo Ministério da Saúde fez o governador João Doria antecipar seus passos. Neste sábado, o secretário da Saúde paulista, Jean Gorinchteyn, declarou em entrevista que a vacinação pode começar na segunda-feira. Porém, de acordo com o jornal Folha de S.Paulo, a primeira aplicação pode ocorrer já neste domingo, logo após a decisão da Anvisa, em entrevista coletiva marcada para esta tarde pelo Palácio dos Bandeirantes.

O Governo conta com dois milhões de doses da vacina Oxford, que já deveriam estar em solo brasileiro, conforme o planejamento do Governo Bolsonaro. Uma aeronave brasileira deveria ter partido na última quinta-feira para buscar os insumos na Índia, mas precisou atrasar a viagem a Mumbai uma vez que o Governo indiano barrou a venda do lote fabricado pelo laboratório Serum Institute. A Índia resiste em autorizar a exportação de vacinas antes de iniciar a campanha de imunização da sua população, que começou neste sábado. Não há previsão para a nova data de retirada das vacinas. Desta forma, o Brasil só tem a mão a vacina de São Paulo, justamente a mais desdenhada pelo Governo inicialmente, mas num número muito aquém para um país de 210 milhões de habitantes.

Segundo a Anvisa, 62,12% da documentação da Coronavac já estava analisada até a tarde deste sábado (16), enquanto a Fiocruz/Oxford já tinha 85,12% da análise feita.

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