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Começa o julgamento do impeachment de Trump no Senado dos EUA

Início formal do processo coincide com um relatório oficial que revela que a Casa Branca violou a lei ao reter recursos destinados à Ucrânia

Amanda Mars

O julgamento político do presidente Donald Trump começou nesta quinta-feira no Senado dos Estados Unidos com novas provas contra o presidente. O organismo de controle do Governo, uma agência independente dentro da Administração, apresentou um relatório segundo o qual o gabinete orçamentário da Casa Branca violou a lei ao reter recursos destinados a reforçar a segurança na Ucrânia. Essa verba está no centro do processo de impeachment contra Trump por abuso de poder, ao condicionar a liberação da ajuda militar a uma investigação de Kiev sobre as atividades do potencial candidato democrata à presidência, Joe Biden, e do seu filho naquele país.

A presidenta da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, assina os documentos do julgamento político nesta quarta-feira.
A presidenta da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, assina os documentos do julgamento político nesta quarta-feira.Foto I Video: Reutres

O gabinete, subordinado ao Congresso, diz que a decisão de reter os recursos teve caráter político, não técnico. "O cumprimento da lei com boa-fé não permite ao presidente assumir suas prioridades políticas no lugar daquelas que o Congresso tenha transformado em lei", afirma o texto, divulgado no mesmo dia em que a Câmara Alta virou formalmente um tribunal. O presidente da Suprema Corte, John Roberts, tomaria durante a tarde o juramento dos 100 senadores que atuam como membros do júri.

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Donald J. Trump é acusado de abuso de poder por causa das supostas pressões à Ucrânia para que investigasse seu rival político Joe Biden, e de obstrução ao Congresso por boicotar as investigações parlamentares sobre o escândalo. Este impeachment, o terceiro na história do país, coincide com o terceiro aniversário de um mandato presidencial em eterna tormenta, com a sociedade norte-americana dividida pela metade.

A equipe de promotores nomeada na quarta-feira pela Câmara de Representantes (deputados), composta por sete congressistas democratas, apresentou-se no Senado por volta de 12h (14h em Brasília) para ler em voz alta formalmente a acusação contra Trump, os chamados “artigos do impeachment”. Por volta de 14h entraria em cena Roberts, tomando o juramento dos senadores para que administrem uma “justiça imparcial”.

Mas isso é possível? O líder dos republicanos na Câmara Alta, Mitch McConnell, já advertiu há semanas que estava coordenando os detalhes do processo com a própria Casa Branca. E nesta quinta-feira um filho de Trump, Eric, pedia nas redes sociais que qualquer senador democrata que estiver pleiteando a candidatura presidencial de seu partido em 2020 — há quatro nesta situação — deveria se recusar a participar do julgamento por ter um “incrível conflito de interesses”.

Este será o primeiro impeachment da era do Twitter, também o primeiro a julgar um presidente que busca a reeleição, e que bloqueará durante semanas quatro senadores que disputam as primárias democratas. Também é o mais partidário dos processos de destituição já praticados. O primeiro presidente a passar por um julgamento no Senado, Andrew Johnson, em 1868, acabou sendo absolvido por um só voto, e no caso de Bill Clinton (concluído em 1999), embora o partidarismo já fosse maior, os votos dos legisladores em ambas as fases do julgamento (a da Câmara de Representantes e a do Senado) não se ajustaram tão milimetricamente como agora à linha partidária. As regras do jogo sobre como desenvolver o processo, por exemplo, foram acatadas por unanimidade. Este é o primeiro passo que o julgamento no Senado enfrentará.

O advogado da Casa Branca, Pat Cipollone, encabeçará a defesa do presidente no julgamento, embora a equipe completa não tenha sido anunciada. Trump se diz vítima de uma “caça às bruxas” e de “uma fraude” dos democratas, e argumenta que seus pedidos ao presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, para que anunciasse investigações contrárias aos democratas “não tinham nada de mau”, pois visavam apenas a combater a corrupção.

O papel de seu advogado pessoal, Rudy Giuliani, manobrando com Kiev e usando um convite à Casa Branca como mecanismo de pressão, põem em xeque a versão do mandatário. Além disso, o embaixador norte-americano na União Europeia, Gordon Sondland, que também se viu comprometido nas gestões com a Ucrânia, declarou na fase prévia na Câmara de Representantes que ele mesmo considerou as ajudas militares sujeitas ao anúncio dessa investigação.

O processo de impeachment entra em sua fase final depois de aparecerem novas provas oferecidas por Lev Parnas, um sócio de Giuliani que foi imputado no caso. Nesta quinta-feira, em uma entrevista ao The New York Times, Parnas afirmou que o presidente conhecia as pressões de Giuliani. "Aposto toda a minha vida que Trump sabia exatamente tudo o que estava acontecendo a respeito do que Rudy Giuliani estava fazendo na Ucrânia", disse Parnas.

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