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Irã anuncia que está enriquecendo mais urânio que antes do acordo nuclear

Ministro de Relações Exteriores iraniano acusa europeus de cederem a assédio dos EUA, depois de jornal revelar que Trump os ameaçou com tarifas comerciais

Ángeles Espinosa
O presidente iraniano, Hasan Rohani, nesta quarta-feira em Teerã.
O presidente iraniano, Hasan Rohani, nesta quarta-feira em Teerã.

O Irã está enriquecendo mais urânio do que antes do acordo nuclear de 2015. É o que anunciou nesta quinta-feira o presidente do país, Hassan Rohani. Seu ministro das Relações Exteriores havia censurado na véspera os europeus que se deixaram pressionar pelos Estados Unidos para que ativassem o mecanismo de resolução de disputas do pacto. Os governantes iranianos, que não escondem sua irritação com a decisão europeia, tentam mostrar que o Plano Ação Conjunto Global (JCPOA, sua sigla oficial) dava resultados, ao contrário da opinião de Donald Trump.

“Estamos enriquecendo mais urânio do que antes do acordo (...). A pressão sobre o Irã aumentou, mas ainda estamos progredindo”, afirmou Rohani em um discurso televisionado. Dependendo do nível de pureza, o urânio enriquecido serve tanto para produzir energia nuclear (objetivo declarado do Irã) como para fabricar material físsil para uma bomba atômica. O JCPOA foi negociado com o objetivo de evitar a fabricação da bomba.

O Irã já havia anunciado em 5 de janeiro que iria ignorar os limites ao enriquecimento de urânio que aceitou sob o acordo assinado em 2015. Embora a decisão estivesse relacionada ao assassinato por parte dos EUA de um dos militares mais relevantes do regime iraniano, o general Qasem Soleimani, era um passo esperado. Desde o ano passado o Irã vem reduzindo gradualmente seus compromissos, em resposta ao abandono do pacto decidido por Trump em 2018. Essa medida deixou o Irã sem os benefícios econômicos prometidos por renunciar ao grosso de seu programa e aceitar inspeções internacionais muito rígidas para as atividades limitadas autorizadas (essencialmente relacionadas à pesquisa).

Essa retirada progressiva foi calculada para pressionar os demais signatários do acordo (China, Rússia, Reino Unido, França e Alemanha), mas sem chegar a provocar uma ruptura total que justificasse a nova imposição de sanções europeias e da ONU. No entanto, os europeus ativaram na terça-feira a cláusula de resolução de disputas sobre essa possibilidade. Para o regime iraniano, em meio a uma grave crise decorrente da derrubada de um avião de passageiros ucraniano (morreram os 176 ocupantes) e à recusa inicial de seus militares em reconhecer o erro, a medida não poderia chegar em pior momento. Os dirigentes do país não ocultaram seu mal-estar, acusando a UE de sucumbir à pressão dos EUA. Rohani descartou a possibilidade de renegociar o pacto.

Agora os líderes iranianos se sentem justificados. O jornal norte-americano The Washington Post diz em sua edição desta quinta-feira que "Trump ameaçou os europeus com tarifas se não advertissem o Irã sobre suas violações do acordo". Ao que parece, o presidente dos EUA considerava impor uma sobretaxa de 25% às importações de carros europeus. Assim que leu a notícia, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, se lançou ao Twitter.

“Apaziguamento confirmado. E3 [Reino Unido, França e Alemanha] venderam os restos mortais do JCPOA para evitar novas tarifas de Trump. Não vai funcionar, amigos. Só abriram o apetite dele. Vocês se lembram do valentão do colégio?”, escreveu Zarif, que na véspera criticou esses países por falta de princípios.

As sanções de Washington se estendem ao sistema financeiro internacional (que o país controla) e às empresas de qualquer país com negócios no Irã e interesses nos Estados Unidos (ou patentes desse país em seus produtos), o que na prática impede a maioria das transações. Incapaz de vender seu petróleo, o regime iraniano ficou sem sua principal fonte de receita.

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