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Ao menos 56 mortos em tumulto durante funeral do general iraniano Qasem Soleimani

O Parlamento iraniano declara o exército dos EUA "terrorista" e aumenta o orçamento da força Al Quds, liderada pelo general assassinado, em 200 milhões de euros

Andrés Mourenza
Centenas de pessoas se reúnem em torno de um veículo carregando o caixão do general iraniano Qasem Soleimani, nesta terça-feira.
Centenas de pessoas se reúnem em torno de um veículo carregando o caixão do general iraniano Qasem Soleimani, nesta terça-feira.ATTA KENARE (AFP)

Pelo menos 56 pessoas morreram no Irã e mais de 200 ficaram feridas em uma correria durante o funeral do general iraniano Qasem Soleimani, assassinado na sexta-feira em um ataque dos Estados Unidos. Os fatos ocorreram no terceiro e último dia do funeral, quando deveria ser enterrado em sua cidade natal, Kerman (sudeste do país), o que obrigou a postergar as ações.

Em declarações à televisão púbica, Pir Hossein Kulivand, chefe do serviço nacional de emergências iranianas, atribuiu a tragédia à maciça afluência de pessoas. Segundo a rede de televisão Al Jazeera, o gabinete do governador provincial descartou que se tratasse de um atentado terrorista.

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Da mesma forma que nos dias anteriores em Teerã, Qom e Ahvaz, dezenas de milhares de pessoas foram às ruas para participar das exéquias de Soleimani, que dirigia a força Al Quds, o corpo de elite da Guarda Revolucionária iraniana encarregado de ações no exterior. A imprensa iraniana, de fato, afirmou que “milhões” estavam no funeral e comparou a multidão à do dia anterior na capital iraniana. Lá, na segunda-feira, o cortejo fúnebre demorou seis horas para percorrer os pouco mais de cinco quilômetros e meio que separam a Universidade de Teerã e a Praça Azadi pela enorme quantidade de gente.

Apesar de Kerman ter sido um dos centros dos protestos dos últimos meses pelo aumento dos preços do combustível, duramente reprimidos pela mesma Guarda Revolucionária a qual Soleimani pertencia, sua população se transformou na terça-feira em uma só voz para dar o último adeus ao seu filho pródigo e pedir “vingança” contra a ação dos EUA. Alguns veículos de comunicação apontaram como razões da avalancha o fato de que a cidade de Kerman não estava preparada para receber funeral tão grande e que as pessoas se lançaram sobre o caixão de Soleimani para arrancar pedaços do tecido com o qual estava coberto e ficar assim com uma relíquia do falecido.

O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, e os comandantes militares disseram que as represálias pela ação dos Estados Unidos na sexta-feira coincidiriam com a escala do assassinato de Soleimani, mas que seriam em um momento e local escolhidos por Teerã.

Diante da multidão reunida em Kerman, o comandante-chefe da Guarda Revolucionária, Hossein Salami, pediu à população que mantenha “a calma” porque a vingança iraniana chegará “com certeza” e será “dura e decisiva”. “O inimigo lamentará seu erro”, anunciou, e acrescentou que as tropas dos EUA serão “imediatamente” expulsas do Oriente Médio. Ali Shamkhani, secretario do Conselho Supremo de Segurança Nacional, disse que estão sendo considerados 13 “cenários de vingança”, de acordo com a agência de notícias Fars. Até mesmo a opção mais fraca seria “um pesadelo histórico para os norte-americanos”, alertou.

Outra reação iraniana foi declarar o Exército norte-americano “organização terrorista”. Na terça-feira, o Parlamento votou unanimemente retificar uma lei de abril que declarava terrorista o Comando Central (CENTCOM) das Forças Armadas dos EUA e ampliá-la até incluir “todos os membros do Pentágono, suas empresas afiliadas e as instituições e comandantes”, de acordo com a agência iraniana Fars News. Esta declaração é somente simbólica, e equivale à declaração norte-americana de incluir a Guarda Revolucionária em sua lista de grupos terroristas. Mas, além disso, os deputados iranianos votaram outra decisão de peso: aumentar em 200 milhões de euros (907 milhões de reais) o orçamento da força Al Quds para reforçar sua capacidade de ação. O corpo da Guarda Revolucionária é o encarregado, entre outras coisas, de coordenar e organizar milícias pró-iranianas no Líbano, Iraque, Síria, Iêmen e outros países da região. 

EUA negam visto ao ministro iraniano das Relações Exteriores para que vá à ONU

A.M.

Os Estados Unidos negaram um visto ao ministro das Relações Exteriores do Irã, Javad Zarif. O pedido havia sido feito há semanas —anterior ao recente confronto entre os dois países— com o objetivo de participar de uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas na quinta-feira. Como informou a Reuters, os EUA justificam essa decisão no fato de que podem negar vistos por "razões de segurança, terrorismo e política exterior", mas significa uma violação ao acordo das Nações Unidas de 1947 que exige que Washington permita a entrada de funcionários estrangeiros nos EUA para dedicarem-se a assuntos relacionados à organização multilateral.

Zarif está na lista de pessoas condenadas pelos EUA e seus movimentos no país estão restritos a um pequeno território de Nova York onde está a sede da ONU. Mas em setembro já havia participado da Assembleia Geral das Nações unidas sem problemas. “Têm medo de que alguém venha aos EUA e revele a realidade. Mas o mundo não se limita Nova York. Posso falar ao povo americano de Teerã e é isso que farei”, acusou Zarif em declarações na capital iraniana.

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