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Decisão do STF pulveriza disputa na Câmara e joga holofotes em preferido de Bolsonaro e nome da Igreja Universal

Arthur Lira, do Progressistas, apoiado pelo Planalto, e Marcus Pereira, do Republicanos, partido de dois dos filhos do presidente estão no páreo. No Senado, nome do MDB deve liderar disputa

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, em 16 de março em Brasília.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, em 16 de março em Brasília.Andre Borges (NurPhoto via Getty Images)
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Com os dois grandes favoritos fora do páreo, a disputa pelo comando da Câmara e do Senado se pulverizou. Após o Supremo Tribunal Federal (STF) referendar o que está escrito na Constituição em votação apertada, impedindo a reeleição dos presidentes da Câmara e do Senado, vários parlamentares do chamado Centrão político deram a largada em busca de apoio às eleições congressuais. A disputa na Câmara, que acontece junto com a do Senado em 1º de fevereiro do ano que vem, já vê perfilados Arthur Lira (Progressistas-AL) e Marcos Pereira (Republicanos-SP), ambos oficialmente em campanha para suceder Rodrigo Maia (DEM-RJ). No Senado, sem David Alcolumbre (DEM-AP) entre os postulantes possíveis, três nomes ligados à centro-direita do MDB despontam como favoritos, apesar de sua movimentação mais discreta.

Na Câmara, Maia apadrinha publicamente cinco nomes —entre os quais o de Pereira—, mas fala em uma candidatura de consenso. No Senado, Alcolumbre tem poucas alternativas que não sejam apoiar um nome do MDB, maior sigla, com 14 senadores. De qualquer forma, pelo menos por enquanto, nenhum dos nomes mais cotados para concorrer às duas presidências promete dar grandes dores de cabeça ao presidente Jair Bolsonaro nas principais votações esperadas para os próximos dois anos.

Mais ou menos alinhados ao presidente, todos concordam em questões básicas de matérias econômicas, como a necessidade de uma ampla reforma tributária e a discussão da prorrogação ou não do auxílio emergencial, assim como quanto às fontes de recursos para financiar a medida. Como definiu o atual presidente da Câmara na manhã desta segunda-feira em entrevista à GloboNews, a diferença será em relação à condução de temas caros ao Governo em outras frentes, como o voto impresso, e mais ou menos espaço para pautas de costumes do Governo e da oposição. Maia evita colocar-se como adversário de Lira, candidato do presidente, mas na prática trabalha pela eleição de outros nomes, agora que não poderá concorrer.

Instantes após a decisão do STF, o deputado Marcos Pereira anunciou no Twitter que era candidato. “Serei”, escreveu em resposta a um jornalista que o questionou sobre o assunto. “Serei porque estou dialogando com os (as) colegas e sinto que há uma busca por renovação. Óbvio que estamos em um grupo político e tenho convicção [de] que poderei ser o candidato deste grupo”, arrematou. Nos bastidores, Pereira tem bom trânsito com partidos políticos de espectros distintos. Bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, já fez parte e apoio os governos dos ex-presidentes Michel Temer (MDB) e Dilma Rousseff (PT) antes de aproximar-se de Bolsonaro junto com o PRB e a Universal, após o apoio público do bispo Edir Macedo ao então candidato à Presidência da República. Abriga na sigla que comanda dois filhos do presidente, o senador pelo Rio de Janeiro Flávio e o vereador carioca Carlos Bolsonaro. Em São Paulo, comandou o apoio do partido a Bruno Covas (PSDB) no segundo turno.

Em campanha pela presidência da Câmara desde antes da decisão do STF e favorito do Planalto na corrida, Arthur Lira tem feito gestos à esquerda e à direita entre os colegas para tentar afastar eventuais desconfianças por suas ligações recentes com o Planalto. De acordo com reportagem do jornal Folha de S. Paulo desta segunda-feira, das 19 propostas legislativas apresentadas pelo líder informal do centrão na Câmara ―que se aproximou do Governo Bolsonaro ao longo deste ano― na primeira semana de dezembro, oito pediam urgência ou pautavam projetos de lei de deputados de partidos da oposição, como PT, PSOL e PSB. foi contemplada até a deputada Maria do Rosário (PT-RS), adversária visceral do presidente Bolsonaro —que foi obrigado pela Justiça a pedir desculpas e pagar multa após dizer em uma discussão que ela “não merecia ser estuprada” em 2014.

Os concorrentes

Na entrevista à TV pela manhã, Maia lançou outros quatro nomes que contariam com seu apoio, além de Marcos Pereira: Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Baleia Rosssi (MDB-SP), Elmar Nascimento (DEM-BA) e Luciano Bivar (PSL-PE). Seja quem for, o candidato da frente idealizada pelo presidente da Câmara, batizado por Maia de “Movimento Câmara Livre”, deve prevalecer quem conseguir conquistar os partidos da oposição.

“Sem dúvida nenhuma, na minha sucessão, nós precisamos fazer um candidato que garanta esse movimento firme, um movimento que garante a Câmara dos deputados livre de qualquer interferência de outro Poder”, declarou Maia à GloboNews. A ideia é buscar consenso nesse grupo para enfrentar o candidato que tiver apoio do Governo ―até o momento, Lira. Na entrevista, Maia disse que nunca pensou em buscar a reeleição para o comando da Câmara.

Do grupo citado pelo deputado, fora Pereira, apenas Baleia Rossi manifestou-se. “Vamos trabalhar em conjunto por um nome que aglutine forças para reafirmar a independência da Câmara e a harmonia entre os poderes, sempre levando em consideração a opinião de todos os setores da sociedade”, escreveu no Twitter após a entrevista de Maia. O caminho de Rossi para a presidência é mais difícil, já que seu MDB deve ficar com a presidência do Senado ―com isso, ele será pressionado a apoiar um nome de outro partido para a sigla não concentrar muito poder.

No Senado, a movimentação em torno da sucessão de Alcolumbre é mais discreta. A dois nomes do MDB, porém, é dado como certo o apoio do presidente. Em conversas reservadas, Bolsonaro teria indicado simpatia por eventuais candidaturas dos senadores Fernando Bezerra (PE) e Eduardo Gomes (TO), líderes do Governo no Senado e no Congresso, respectivamente. Além de Gomes e Bezerra, outro nome do partido que tem se mobilizado é o senador Eduardo Braga (MDB-AM). Em 2019, o MDB travou uma disputa interna e os senadores da sigla tiveram que escolher entre Simone Tebet (MDB-MS) e Renan Calheiros (MDB-AL). Calheiros acabou vitorioso na eleição interna, mas foi derrotado por Alcolumbre no plenário com ajuda de Tebet na articulação em plenário. Ela se tornaria a presidenta da Comissão de Constituição e Justiça e sempre teve seu nome lembrado para suceder Alcolumbre. Apesar disso, ainda não mobilizou-se publicamente nesta disputa.

Sem possibilidade de reeleição, Maia promete voltar a tocar a agenda de votações da Câmara, praticamente paralisada durante a pandemia. Além de uma reforma tributária e a prorrogação ou não do auxílio emergencial, a Câmara ainda nem votou o Orçamento da União para o ano que vem, matéria que deve começar a ser encarada na próxima semana. “Acabaram as desculpas, o Governo precisa decidir se quer enfrentar as questões do país ou ficar só de olho na sucessão de 1º de fevereiro do ano que vem. Se ficar de olho só nisso, é capaz de chegar lá muito mal, não politicamente, mas pelas incertezas econômica e fiscal do país”, disse Maia ao tentar responsabilizar o Governo Bolsonaro pela paralisia.

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