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Um dia após eleição, São Paulo endurece quarentena

Com aumento de casos de covid-19, João Doria anuncia que 100% do Estado volta para a fase amarela de flexibilização, o que restringe horários de comércios e restaurantes. Decisão não afeta volta às aulas

Pessoas fazem fila para votar no segundo turno das eleições, em São Paulo.
Pessoas fazem fila para votar no segundo turno das eleições, em São Paulo.NELSON ALMEIDA (AFP)

Um dia depois do segundo turno das eleições municipais que elegeu o tucano Bruno Covas, o governador João Doria (PSDB) recuou no plano de retomada das atividades econômicas e sociais e determinou que todo o Estado retorne para a fase amarela. Com isso, aumentarão as restrições de funcionamento de comércios e serviços. O atendimento presencial no comércio sai da capacidade limitada de 60% para 40%. Só pode funcionar por 10 horas por dia ― e não mais durante até 12h. E o limite de horário vai até as 22h. Eventos com público em pé também estão proibidos. A mudança não afeta a retomada das escolas, e equipamentos culturais continuam podendo funcionar, com controle de distanciamento e de fluxo de público. A decisão é motivada pela piora nos indicadores do novo coronavírus no Estado, que conta 1,24 milhão de casos e 42.095 mortes pela covid-19. Segundo o Governo de São Paulo, na última semana houve elevação de 12% nos óbitos de 7% de internações. A taxa de ocupação de leitos de UTI é de 52,2% no Estado e de 59,1% na Grande São Paulo.

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“Com o claro aumento da instabilidade da pandemia, o Governo de São Paulo decidiu que 100% do Estado de São Paulo vai retornar para a faixa amarela”, anunciou Dória durante coletiva nesta segunda-feira. O tempo de análise de dados volta a ocorrer a cada sete dias e não mais a cada quatro semanas, de maneira que novas mudanças poderão ocorrer com maior frequência. O governador destacou que esta fase não fecha comércios, mas é mais restritiva. “É uma medida de prudência que estamos tomando para melhorar o controle da pandemia. Precisamos do apoio da população e de micros, pequenos, médios e grandes empresários”, diz Doria.

Dória promete “medidas legais” contra festas de réveillon

Especialistas têm apontado, porém, que a restrição de horários não necessariamente é a estratégia mais adequada, mas ações que garantam um menor número de pessoas ao mesmo tempo nos locais. Ao desafio de conter a pandemia na maior cidade do país, ainda se soma a proximidade das festas de fim de ano, quando aumenta a demanda pelo comércio e as celebrações. “Não é hora de festa, de celebração, de comemorações. Só poderemos ter festas depois da vacina”, afirmou Dória, afirmando que o Governo adotará medidas legais, se necessário, para impedir festas privadas ou públicas antes que uma vacina esteja disponível.

“Todo o nosso foco neste momento deve ser nas vacinas. O país está exausto do isolamento. Ainda temos que mantê-lo com respeito à vida, à saúde”, afirmou o governador, que cobrou o Ministério da Saúde e o Governo Federal sobre o plano de imunização e sobre a definição de quais vacinas poderão ser utilizadas neste programa. Nesta terça-feira (1), haverá uma reunião da equipe do Governo com os prefeitos dos 62 municípios que apresentam uma situação mais complicada em seus indicadores da pandemia. Este grupo de cidades são os que têm taxas críticas de ocupação de leitos e não inclui a capital. Dória ressaltou ainda que não há perspectiva de lockdown no Estado. “Não utilizamos este mecanismo em todos estes meses”, pontuou o governador. No mesmo dia, em entrevista à GloboNews, Covas considerou “inviável” um bloqueio total na capital.

Municípios testam menos

A cidade de São Paulo estava na fase verde do plano, sob restrições mais brandas. Também estavam nesta fase as regiões de Sorocaba, Campinas e Baixada Santista. Com o recuo nestes locais, 76% da população paulista volta a submeter-se a medidas mais restritivas. “Não estamos parando tudo nem estamos na crise completa que vimos em vários países do mundo”, destaca Patrícia Ellen, coordenadora do Gabinete de Crise no Enfrentamento ao Coronavírus. Embora tenha apresentado crescimento de óbitos e internações na última semana, o Estado de São Paulo apresentou redução de 14% nos novos casos registrados. O secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn, atribui a queda à diminuição de testagem identificada em alguns municípios.

O centro de contingência do Governo admite aumento de internações, mas nega que a decisão de mudar as regras de restrição para um dia depois do segundo turno tenha motivação política. “Trazer a classificação para hoje (e não para o dia 16 de novembro) foi uma forma de impedir que uma maior parte da população estivesse na fase verde”, afirma Patrícia Ellen, que coordena o Gabinete de Crise no Enfrentamento ao Coronavírus. Segundo ela, caso a mudança tivesse ocorrido há duas semanas, 89% da população paulista (e não 76%) estaria hoje sob restrições mais brandas. “Freamos o avanço das fases verdes”, disse. Mas três dias antes da previsão da reclassificação, o governador João Doria publicou um vídeo nas redes sociais dizendo que a pandemia estava sob controle e que não haveria novas restrições. “Venho aqui para desmentir mais uma fake news, mais uma mentira. Depois das eleições, nós não vamos fechar comércios ou endurecer medidas de combate à pandemia”, afirmou no referido vídeo. Ele chamou a disseminação de informações sobre a possibilidade de retomar restrições de “golpezinho” em véspera de eleição. Seu correligionário, Bruno Covas, foi reeleito neste domingo. Nesta segunda-feira, Dória negou que o Estado tenha esperado as eleições para reclassificar as fases em que estavam nas regiões.

Governo ampliará fiscalização de medidas restritivas

“Continuamos em quarentena”, diz Gorinchteyn. Ele detalha que houve elevação de 10% dos casos na última semana epidemiológica em relação às três semanas anteriores a ela. “Esses dados sustentam e reforçam a necessidade de políticas mais restritivas, que reduzam as aglomerações”, declara. Gorinchteyn acrescenta que o Estado não hesitará em ampliar as restrições, caso seja necessário. Os esforços de fiscalização das restrições também devem ser intensificados. Gorinchteyn nega que houve relaxamento neste controle, mas avalia que a circulação aumentou e que a população passou a fazer mais festas. “Quando saem, saem de uma forma irresponsável, carregando desta forma o vírus”, diz.

“Nós não estamos nem um pouco confortáveis com os dados da última semana”, afirma o coordenador executivo do centro de contingência, João Gabbardo. Ele pediu que a população redobre os cuidados para evitar a necessidade de medidas mais fortes de restrição, citando festas, aglomerações com pessoas que não seguem as regras de etiqueta respiratória.

O Plano São Paulo, estipulado pelo governo, divide o Estado em 17 regiões e possui cinco fases, que levam o nome de cores. Da mais para a menos restritiva, as fases são Vermelho, Laranja, Amarelo, Verde e Azul. Para que cada região mude de um nível para o outro, é necessário que ela atenda diversos requisitos, como a alterações nos índices de ocupação de leitos de UTI pelo novo coronavírus, a quantidade disponível desses leitos para cada 100.00 habitantes e a evolução nas curvas de novos casos e óbitos ao longo de sete dias consecutivos. Até esta segunda-feira (30), das 17 regiões, 11 estavam na fase Amarela e outras 6, incluindo a região metropolitana da capital, na fase Verde.

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