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Atraso nos resultados do TSE abre onda conspiratória de perdedores e bolsonaristas

Sem apresentar prova, parlamentares e até o filho do presidente colocam sistema de urnas eletrônicas sob suspeita após problema técnico. TSE informou que nenhum dado foi perdido

Eleitor aguarda para votar em Igarapé Mirim, no Pará, neste domingo.
Eleitor aguarda para votar em Igarapé Mirim, no Pará, neste domingo.TARSO SARRAF (AFP)
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AME8394. IRANDUBA (BRASIL), 15/11/2020.- Personas hacen fila hoy para votar en el único centro electoral de la comunidad Lago do Catalao, en zona rural de Iranduba, Amazonas (Brasil). Los brasileños acuden a las urnas este domingo para renovar a los alcaldes y concejales de 5.569 ciudades del país, en un proceso que a media jornada transcurría casi sin incidentes y bajo estrictas medidas de seguridad por la covid-19. En Lago do Catalao, donde todas las casas están sobre el agua, los votantes van en bote para depositar su voto en la escuela comunitaria. EFE / RAPHAEL ALVES
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Um problema técnico em um supercomputador do Tribunal Superior Eleitoral atrasou a totalização dos votos de diversas cidades do país. Por quase duas horas, a porcentagem de votos apurados travou em cerca de 9% em todo o Brasil. Em São Paulo, onde nos pleitos anteriores o resultado já era conhecido às 20h, a apuração ficou estagnada em 0,39% até as 22h30. Com a lentidão, candidatos bolsonaristas e parlamentares aliados do presidente Jair Bolsonaro começaram uma campanha online para tentar desacreditar o sistema eleitoral, alegando sem provas que uma fraude estava em andamento. Este expediente também é utilizado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que após derrota para Joe Biden afirmou sem evidência que o pleito havia ido manipulado.

Apesar do problema técnico, o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, minimizou a sua gravidade. “Foi um acidente de percurso sem nenhuma vítima, salvo um atraso final no resultado, que espero que seja de algumas horas”. Segundo ele, as informações dos votos não correm risco de serem fraudados. “As urnas não estão em rede. Portanto, elas não são vulneráveis a um tipo de ataque que possa interferir no processo eleitoral”, afirmou.

Em meio à demora na divulgação dos resultados, a deputada federal Joice Hasselmann (PSL), que disputava a prefeitura de São Paulo e não decolou nas pesquisas, postou em suas redes sociais: “Fraude? Será? Tem todo cheiro”. A candidata, que foi de apoiadora fervorosa de Bolsonaro a uma pária do seu grupo político, já foi acusada de participar da disseminação de notícias falsas.

Tuite de Joice Hasselmann alegando fraude. A postagem foi marcada pelo twitter como "reinvindicação de fraude contestada".
Tuite de Joice Hasselmann alegando fraude. A postagem foi marcada pelo twitter como "reinvindicação de fraude contestada".Reprodução

A deputada federal Carla Zambelli levantou uma antiga bandeira do presidente, ao defender a volta do voto impresso, medida já negada pelo Supremo Tribunal Federal. “Agora mais do que nunca temos que voltar a falar em #VotoImpresso como forma de conferir a votação eletrônica. Ninguém me convence que o sistema trave dessa forma sem fraude envolvida. Posso estar errada, por isso quero poder conferir os votos da minha urna”, escreveu nas redes sociais. Outra deputada da tropa bolsonarista, Bia Kicis, colocou sob suspeita a lisura do TSE. “Preparem-se, o TSE vai jurar que seu sistema é seguro. Aham, a gente acredita. Apuração transparente com possibilidade de recontagem já! Exigimos voto impresso. #PEC135VotoImpresso”. Tanto Zambelli quanto Kicis são investigadas no inquérito das fake news do Supremo Tribunal Federal.

Tuite da deputada Bia Kicis, no qual ela insinua falta de lisura do TSE
Tuite da deputada Bia Kicis, no qual ela insinua falta de lisura do TSEReprodução

Ataque hacker

As teorias conspiratórias também ganharam força devido a uma tentativa de ataque hacker sofrido por um sistema interno do TSE durante a manhã, mas que foi, segundo o ministro Barroso, repelida. “O nome técnico é ataque distribuído de negação de serviços. Foi uma tentativa maciça de, pelo grande número de acessos, derrubar o sistema. Mas não conseguiram”, afirmou. A origem dos ataques foi em Portugal, mas também houve tentativas de hackers sediados em Nova Zelândia e do próprio Brasil. Barroso disse que este tipo de ofensiva é natural no mundo inteiro, e que o problema ocorreria caso as invasões fossem bem-sucedidas o que, conforme ele, não aconteceu desta vez. “Não tenho poder sobre o imaginário das pessoas, mas os fatos são simples assim”.

Sobre as afirmações de que havia uma fraude em andamento, Barroso foi irônico: “Vi um blog que dizia que eu, o ministro Alexandre de Moraes e um advogado conspirávamos com as embaixadas de Coreia do Norte e China para derrubar o presidente [Jair Bolsonaro]. O que vamos fazer? Nada. Vou tratar com a indiferença que merece”, disse. Com relação aos pedidos de volta do voto impresso, nova ironia do ministro: “Há um grande país que usa cédulas [para votação]. A eleição terminou em 3 de novembro e ainda estão contando e judicializando. Tem que colocar na balança”.

O filho do presidente, deputado Eduardo Bolsonaro, pegou carona nesta tese do ataque hacker para desacreditar o pleito —e ainda espalhar a fake news de que o TSE negou o ataque. “Para refletir. Noticiam que TSE foi atacado por hackers. TSE nega. Então são expostos bancos de dados do TSE. Isso traz um clima de insegurança, que faz as pessoas desconfiarem que o atraso na divulgação possa ser um novo ataque hacker ou manipulação já que não há transparência”, escreveu.

Quando o problema técnico que atrasou a totalização dos votos foi detectado, técnicos do TSE se reuniram na sala cofre do Tribunal para entender o que estava ocorrendo. Descobriram que era uma falha em um hardware, no equipamento físico, não no software, o programa de computador. “Um dos núcleos de processadores do supercomputador que processa a totalização falhou e foi preciso repará-lo”, disse o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do TSE.

Uma das possíveis razões para a falha no supercomputador foi uma sobrecarga de trabalho, segundo apura o TSE. Pela primeira vez, a corte passou a centralizar toda a apuração dos resultados. Até 2018, quem apurava os dados eram os Tribunais Regionais Eleitorais. Ao TSE cabia a unificar esses dados e divulgá-los. “Muito possivelmente por ser uma novidade pode estar na origem da instabilidade que nós sofremos”, afirmou Barroso.

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