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Ex-funcionárias acusam líder da maçonaria em São Paulo de assédio: “Falava que imaginava eu sem roupa”

Mulheres dizem que não denunciaram João José Xavier antes pois temiam demissão e movem ação na Justiça Trabalhista e Civil. Procurados, grão-mestre e loja maçônica ainda não se pronunciaram

Sede da Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo.
Sede da Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo.Reprodução
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BRAZIL-RELIGION-SEXUAL-ABUSE-JOAO DE DEUS
Brazilian "spiritual healer" Joao Teixeira de Faria (C), known as "Joao de Deus" (John of God) is escorted by supporters, upon arrival at his "healing center" Casa de Dom Inacio de Loyola, in Abadiania, 120 km southwest of Brasilia, state of Goias on December 12, 2018.
An internationally famous Brazilian "spiritual healer" accused by hundreds of women of sexual abuse told his followers on Wednesday "I am not guilty" of the allegations stacked against him. Police are starting to investigate complaints lodged by more than 450 women in Brazil following claims by a dozen of his followers aired by Globo TV and the O Globo newspaper last week that he forced them into sex acts under pretext of curing them of ailments.
EVARISTO SA / AFP
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O líder da Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo, João José Xavier, é acusado de assédio e importunação sexual por duas ex-funcionárias da instituição. O grão-mestre é alvo de três processos movidos pelas duas ex-funcionárias, dois na Justiça do Trabalho e um na Justiça Civil do Estado de São Paulo. Procurado pelo EL PAÍS na sede da maçonaria, Xavier não retornou aos telefonemas até a publicação desta reportagem. De acordo o responsável pela comunicação da instituição, o grão-mestre ainda não recebeu a citação formal nas ações e a área jurídica da Grande Loja orientou o silêncio, por enquanto. Assédio sexual é crime e, em caso de condenação, pode levar a até dois anos de prisão.

De acordo com depoimento de uma mulheres no processo civil por danos morais, iniciado nessa semana, o João José Xavier ia até a mesa dela e a chamava ao seu escritório constantemente para passar a mão em seu corpo e fazer insinuações de cunho sexual. Ela trabalhou como auxiliar administrativa na Grande Loja de 2001 a junho deste ano. A importunação teria começado em 2016, antes de Xavier ascender ao posto máximo da instituição. Ele foi eleito grão-mestre no ano passado.

“Ele pegava nas minhas costas, ele ficava massageando os meus ombros, geralmente ficava me abraçando pegando assim nos meus seios”, afirma. Segundo a mulher, o grão-mestre dizia a ela coisas do tipo “e agora loirinha, e eu te agarrasse agora, o que você ia fazer?”, e “nossa, como você está gostosa hoje hein, vem aqui!.”

A ex-funcionária diz ainda que era obrigada a fazer faxina e servir café no escritório do chefe, trabalhos que não estavam de acordo com sua função na loja maçônica. No testemunho anexado à ação, diz que queixou-se da situação a colegas e chefes, que tentavam oferecer consolo e conselhos, mas nada de concreto foi feito para interromper os assédios.

No processo três testemunhas confirmam o assédio, que diversas vezes teria sido praticado na frente de outros colegas. As testemunhas afirmam ainda que viram a colega chorar diversas vezes após os ataques.

A segunda ex-funcionária que o denunciou trabalhou na loja maçônica de 2017 a 2020 como auxiliar de limpeza. “Tocava nos meus peitos, na minha bunda, falava que imaginava eu sem roupa, me sentia muito mal por isso”, afirma na ação cível da ex-colega. Ela diz que sentia-se impotente e com muita raiva da situação que vivia.

Ambas são casadas e dizem que toleraram a situação por algum tempo pois precisavam do emprego, sentiam-se constrangidas com os assédios e nunca incentivaram o comportamento do chefe. A auxiliar administrativa afirma que foi mandada embora após recusar um convite do chefe para ficar sozinho com ela no escritório em meio ao revezamento adotado no local devido à pandemia de covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. A auxiliar de limpeza acredita que foi demitida pois a história vazou e o ex-chefe tentou evitar um escândalo.

O advogado Cícero Barbosa dos Santos, que representa as duas ex-funcionárias da maçonaria em conjunto com outros dois colegas, afirma que o caso foi levado ao MP-SP (Ministério Público de São Paulo) nesta semana e espera que seja investigado criminalmente por lá. Ele diz que elas nunca registraram um boletim de ocorrência na delegacia e optaram por procurar o MP diretamente. Segundo o advogado, uma das mulheres apresentou um processo na Justiça civil e outro na trabalhista, no total de 239.000 reais. A segunda cliente cobra 88.000 reais na Justiça do trabalho.

Maçonaria

A Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo possui 23.000 integrantes espalhados em 800 lojas, como são chamadas as células locais da maçonaria. A maçonaria é uma associação de organizações privadas da sociedade civil que existe há muitos séculos em todo o mundo. As lojas maçônicas são geralmente organizadas em núcleos municipais que formam uma ou mais associações regionais, estaduais ou nacionais. Não existe uma loja internacional que coordene toda a maçonaria.

No Brasil, há relatos históricos da presença de lojas maçônicas em Pernambuco já no século XVIII. Segundo as definições mais comuns, a maçonaria dedica-se a fazer filantropia e ações de auxílio educacional, pessoal e profissional mútuo a seus integrantes.

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