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Em debate caótico, Trump e Biden lançam mão de ataques pessoais

Republicano acossa democrata em repeteco de táticas usadas na campanha de 2016 pela Casa Branca. “Você vai calar a boca, cara?”, diz ex-vice de Obama, que criticou destruição da Amazônia

Donald Trump e Joe Biden no primeiro debate.
Donald Trump e Joe Biden no primeiro debate.Julio Cortez (AP)
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O primeiro debate eleitoral entre o republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden foi um espetáculo caótico e virulento, chocante no país mais poderoso do mundo. As faíscas surgiram desde o momento em que os dois homens que lutam pela Casa Branca pisaram no palco. Um Trump em sua versão mais agressiva, insubmisso quanto às regras do debate e de decoro, lançou rajadas contra um Biden que tentou desempenhar um papel presidencial, mas também se jogou na lama para tentar impedir o avanço do presidente. O democrata chamou Trump de “mentiroso”, de “palhaço” e mandou-lhe calar a boca. Se esse confronto direto serve como amostra da estratégia de campanha para o dia 3 de novembro, ficou claro que o presidente pretende repetir a tática usada em 2016 para vencer.

Trump e Biden se enfrentaram no campus da Universidade Case Western Reserve, em Cleveland (Ohio), em condições peculiares, como tudo o que acontece nesta campanha marcada pela pandemia. Não houve apertos de mão e quase nenhuma plateia, embora houvesse protestos contra o presidente nas ruas. Era difícil prever o que poderia sair desse primeiro duelo. Um político veterano, com meio século de experiência, mas pouco hábil em debates, enfrentou um showman de primeira, imprevisível. Quando os dois foram vistos pela primeira vez ao vivo, a caixa do trovão foi aberta.

Houve bate-boca sobre pandemia do novo coronavírus, a onda de protestos contra o racismo, economia dos Estados Unidos, saúde e a própria integridade das eleições. Não houve assunto em que a discussão não terminasse em chamas, que não desse origem a uma palavra grosseira. Antes do minuto cinco, Trump já havia chamado Biden de “socialista”. Quando completou 10, ele já havia se referido à senadora democrata Elizabeth Warren como “Pocahontas” e confrontado o moderador, Chris Wallace, uma estrela da conservadora rede Fox, que tentava mantê-lo dentro dos limites de seu tempo de exposição.

Veja a íntegra do debate.

Biden, 77, não é particularmente bom nesses embates, como ficou demonstrado durante as primárias democratas, e Trump, 74, encontra seu habitat natural em confrontos como esse, diante das câmeras de televisão. As bravatas do republicano ―que incluíram voltar a vociferar a ameaça de fraude na votação, sem qualquer prova (“Será uma fraude como nunca vimos”)―, aquela eletricidade com que ele é capaz de manter o pulso em comícios de até uma hora e meia, contrastaram com a voz frágil do candidato democrata, sempre menos enérgico, mas que suportou o acosso e até deteve o presidente em várias ocasiões.

Biden parecia aquele estudante magrelo que tira forças de dentro de si para enfrentar um valentão do colégio: “Você vai calar a boca, cara?”. “Não há ninguém que consiga conversar com esse palhaço, desculpe, com essa pessoa”, disse ele, em uma das interrupções. “Todo mundo sabe que ele é um mentiroso”, respondeu Biden quando Trump o acusou de querer eliminar o sistema de seguro saúde privado, algo que, de fato, é falso.

O candidato que luta para permanecer no cargo geralmente é aquele que recebe os ataques em um debate e se concentra em polir sua gestão, mas a era Trump também liquidou essa convenção. O magnata de Nova York, assombrado por críticas à sua gestão da crise de saúde, foi ao ataque e acusou o democrata de querer realizar um programa eleitoral do agrado do senador esquerdista Bernie Sanders, ex-candidato nas primárias, e da “esquerda radical” de seu partido. “Acontece que venci Bernie Sanders”, respondeu Biden, depois acrescentou, em uma daquelas frases que serão lembradas esta noite: “O Partido Democrata sou eu.”

O vice-presidente da era Obama em geral tentou manter a calma diante dos cortes e provocações de Trump, aos quais ele costumava reagir rindo zombeteiramente. Em dado momento, foi o único a mencionar o Brasil, quando condenou a destruição da floresta amazônica e criticou o desprezo de Trump pela pauta climática.

Os Estados Unidos chegaram ao cara a cara agitados: no domingo, o The New York Times havia publicado uma informação explosiva e altamente cobiçada, os dados fiscais do republicano de mais de 20 anos, que desenha o retrato de um empresário que fatura muito dinheiro, mas sofre prejuízos e quase não paga impostos graças às manobras fiscais. A recusa de Trump em condenar a violência ligada à extrema direita e a grupos simpatizantes neonazistas deve contribuir para manter o clima acirrado.

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