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Contágio da covid-19 desacelera no Brasil, mas mortes dobram em um mês em Minas, Goiás, Paraná e Rio Grande do Sul

Mato Grosso do Sul e Santa Catarina praticamente triplicaram o número de óbitos pelo coronavírus. Ministério da Saúde vê sinais de queda na média de mortes diárias

Militares fazem limpeza e desinfecção do Mercado Municipal de Belo Horizonte, em Minas Gerais
Militares fazem limpeza e desinfecção do Mercado Municipal de Belo Horizonte, em Minas GeraisDOUGLAS MAGNO (AFP)
Beatriz Jucá

Embora o Brasil comece a dar pequenos sinais de arrefecimento da pandemia do coronavírus depois de uma longa trajetória da crise, parte do país vem sentindo impactos mais agudos recentemente. Depois de quatro meses com a transmissão do coronavírus considerada fora de controle, o país enfim viu sua taxa de contágio cair. Segundo monitoramento feito semanalmente pelo Imperial College, de Londres, o Brasil apresentou um índice de 0,98 na última semana. Ou seja, cada infectado transmite o vírus para menos de uma pessoa, o limite para que a instituição considere o controle. O Ministério da Saúde também vê uma tendência de queda na média de novos óbitos diários há duas semanas, depois de o país amargar um longo platô com números num patamar bastante elevado. O país conta 111.100 mortes pela covid-19, segundo dados desta quarta-feira.

“Poderíamos pensar que estamos vivendo uma tendência de queda de óbitos”, afirma o secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Correia de Medeiros. Se o país vinha apresentando uma média diária superior a 1.000 mortos, nas últimas duas semanas, essa média ficou entre 988 e 965 óbitos notificados por dia. No entanto, é preciso observar o comportamento da doença para cravar uma redução. “Desde a semana 22, a variação era pouca, falávamos como se estivéssemos em um platô. E desde a semana 32, vem diminuindo [estamos na semana 33]. Precisamos avaliar as próximas duas ou três semanas para ver se vai se concretizar”, segue Medeiros.

Mas a leitura nacional não pode ser vista como unânime num país continental, cujos Estados apresentam diferentes fases e velocidades muito distintas da pandemia. Para se ter uma ideia, somente no último mês, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul praticamente triplicaram o número de mortes por covid-19. Em Minas Gerais, Paraná, Goiás e Rio Grande do Sul, as mortes provocadas pelo novo coronavírus dobraram neste mesmo período. Já Estados que enfrentaram uma face mais dura da pandemia no início da crise, como Pará e Amazonas, tiverem um aumento de óbitos de 9% e 12%, respectivamente, se considerarmos a evolução mensal.

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Os dados estaduais são de um levantamento feito pelo EL PAÍS, que considera o número de óbitos registrados em um mês ― entre 18 de julho e 18 de agosto ― pelo Ministério da Saúde. No Brasil, 28 de cada 100 falecimentos por covid-19 foram registradas somente no último mês, quando o país incluiu na sua já trágica conta mais 31.126 óbitos. Mas para saber exatamente onde o coronavírus vem ganhando velocidade, é preciso pôr uma lupa sobre os Estados, que vivenciam diferentes ondas, surtos e intensidade da pandemia. Conforme o levantamento deste jornal, que leva em consideração o número de óbitos e não de casos pelo risco menor de subnotificação, a maioria das unidades da federação que mais tiveram aumento de mortes está nas regiões Sul e Centro-Oeste. E 15 Estados viram suas mortes crescerem em uma proporção maior que a do país.

O Mato Grosso do Sul, um dos Estados que apresenta menor número de mortes em números absolutos desde o começo da crise, triplicou os óbitos por covid-19 em um mês. Passou de 206 em 18 de julho para 657 nesta terça-feira (18). Já Santa Catarina chegou perto de alcançar uma proporção de aumento semelhante. O Estado registrou 1.221 novas mortes neste mesmo período, saindo de 662 para 1.883 óbitos. Isso significa dizer que seis de cada 10 mortes por coronavírus em Santa Catarina foram notificadas em um único mês.

Minas Gerais também está entre os Estados que revelaram maior crescimento recentemente. Minas viveu uma guinada de perspectiva sobre a pandemia. Começou a registrar os primeiros casos e óbitos ainda no início da crise, mas até maio as autoridades gabavam-se de ter a “situação sob controle”, quando dados oficiais apontavam apenas 250 mortes. O Estado apresentava baixos índices de testagem e, a partir de maio, quando os testes cresceram, o número de casos começou a subir. Em Minas Gerais, mais da metade dos óbitos por covid-19 foram notificados no último mês. Em julho, dados enviados ao Ministério da Saúde indicavam 1.964 óbitos pelo coronavírus. Em agosto, esse número chegou a 4.306.

Além de Minas Gerais, Paraná, Goiás e Rio Grande do Sul também viram as mortes por covid-19 duplicarem nas últimas semanas. O aumento do número de óbitos nesses Estados foi de 112%, 123% e 129%, respectivamente. A Capital do Paraná, Curitiba, relaxou as medidas de distanciamento social em maio, mas viu o número de casos explodirem e voltou a adotar medidas de isolamento para frear o contágio. A cidade conta quase um terço do total de mortes registradas no Estado, com 854 óbitos. Nesta terça-feira, a taxa de ocupação dos 355 leitos de UTIs do SUS exclusivos para covid-19 em Curitiba era de 89%.

O Distrito Federal também chegou muito perto de duplicar os óbitos por covid-19 no último mês. O Governo avaliava a retomada das aulas presenciais no fim deste mês, uma medida que pode reacelerar os contágios, segundo especialistas. Mas nesta quarta-feira (19), o governador Ibaneis Rocha decidiu adiar a retomada por tempo indeterminado, após reunião com prefeitos, diante dos números preocupantes da pandemia. O aumento de mortes entre 18 de julho e 18 de agosto no Distrito Federal foi de 95%. Em um mês, 1.022 mortes foram notificadas, passando de 1.075 a 2.097.

Enquanto o impacto da pandemia cresce em alguns Estados do Sul, Centro-Oeste e Sudeste, o número de novas mortes dá sinais de arrefecimento em locais que já enfrentaram cenários tão graves que seus sistemas de saúde entraram em colapso ―ou chegaram perto disso. É o caso do Pará e do Amazonas, que apresentaram incremento de 9% e 12% no número de mortes registradas no último mês. O Amazonas chegou a viver uma situação dramática, com filas de espera por uma UTI, corpos em corredores de hospitais e até esgotamento do sistema funerário. O Estado já enfrentou um pico, segundo epidemiologistas, e, embora nada indique que não possa haver uma segunda onda nesses locais, seus dados mostram que a fase atual da epidemia é bem diferente de locais como Goiás, por exemplo, onde o vírus demorou mais para começar a se disseminar.

Diante do quadro, o secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Correia de Medeiros, lembra que a população deve continuar tomando os cuidados para se prevenir da doença, como usar máscara e álcool em gel, procurar o médico já nos primeiros sintomas, manter o distanciamento de pelo menos um metro entre outras pessoas e evitar aglomeração.

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