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Covid-19 em frango brasileiro enviado à China, entre a guerra comercial e o medo do contágio

Segundo cidade chinesa, vírus estava em amostra coletada nas embalagens do produto originário de Santa Catarina. OMS descarta riscos de doença ser transmitida através da cadeia alimentar. Embaixada chinesa no Brasil diz que por ora, "não há novas restrições para a importação”

Supermercado na cidade chinesa de Handan.
Supermercado na cidade chinesa de Handan.Xinhua vía Europa Press (Europa Press)

Autoridades chinesas informaram, nesta quinta-feira, que detectaram covid-19 em um carga de asas de frango importada do Brasil em um controle de rotina. De acordo com o informe, o vírus estava presente em uma amostra coletada na cidade de Shenzhen, perto de Hong Kong, no sul do país. O frango veio de uma planta da empresa brasileira Aurora, em Santa Catarina, segundo o Governo chinês. As pessoas que tiveram contato com os produtos contaminados testaram, no entanto, negativo para o coronavírus. O anúncio gerou, entretanto, preocupação sobre a possibilidade de que alimentos possam causar novos surtos da doença. O alerta chinês também colocou na mesa mais possível novo elemento na guerra comercial global.

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A notícia veio um dia depois que traços do coronavírus terem sido descobertos em embalagens de camarões congelados do Equador em uma cidade na província de Anhui, ao leste chinês. Nesta semana, o Governo da Nova Zelândia começou a investigar a hipótese de que um novo foco da doença no país ter começado em um frigorífico que recebe produtos importados.

Diante das notícias, na tarde desta quinta-feira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) minimizou o risco de o coronavírus ser transmitido através de embalagens de alimentos, e pediu às pessoas que não tenham medo de que o vírus entre na cadeia alimentar. “Não há evidências de que a cadeia alimentar esteja participando da transmissão desse vírus”, afirmou o diretor de emergências da OMS, Michael Ryan.

O Ministério da Agricultura brasileiro disse que ainda não foi notificado oficialmente pelas autoridades chinesas sobre o caso, mas que entrou em contato com o GACC (Administração-Geral de Aduanas da China) em busca de informações. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) informou, em comunicado, que o setor produtivo está analisando as informações. “Ainda não está claro em que momento houve a eventual contaminação da embalagem, e se ocorreu durante o processo de transporte de exportação”, diz a nota. Por enquanto não há novas restrições para a importação brasileira, segundo a Embaixada da China no Brasil. Atualmente,o país tem seis frigoríficos com exportações suspensas para a China por conta de preocupações com o coronavírus.

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou à Folha de S.Paulo que a descoberta de um frango infectado importado do Brasil não é positivo para a imagem do país― atualmente o segundo com maior número de infectados e mortos pela doença no mundo, que passaram de 105.000 nesta quinta-feira― , mas disse não acreditar que o episódio afete a exportação do produto brasileiro.

Na avaliação de José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), ainda que não haja muitos detalhes nem um comunicado formal ao Governo brasileiro, a notícia da contaminação do frango gera temores entre os compradores. “Comercialmente gera uma preocupação. Tanto direta, de como China que é a nossa maior importadora de frango, e nosso maior parceiro comercial, irá reagir como dos outros compradores”, diz. O Brasil, maior produtor mundial de carne de frango, era até 2017 o principal fornecedor de frango congelado para a China, por um valor que se aproximava de 1 bilhão de dólares por ano.

Castro aponta, no entanto, que alguns anúncios da China às vezes podem ter apenas uma finalidade comercial. “Esse anúncio da China tanto pode ser verdade como mentira, por razões de desconto de preço. Você começa a pensar até em coisas absurdas como: será que a China não estaria colocando essa notícia para agradar os EUA, que é o nosso concorrente na exportação de frango? Não sei, pode ser tudo”, diz. Para o presidente da AEB, por enquanto, o impacto não parece ser grande inclusive após o anúncio da OMS, que amenizou os riscos de uma contaminação via alimento.

Neste primeiro semestre, as exportações de carne de frango do Brasil tiveram alta de 1,7% em comparação com os mesmos meses de 2019, atingindo 2,11 milhões de toneladas, de acordo com dados da ABPA. A região Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná) é responsável por 62% do total; Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo) por 18% e Centro-Oeste com 14%.

Em nota, Associação Catarinense de Avicultura disse estar em contato com as autoridades chinesas para saber mais sobre o ocorrido. A entidade afirmou, porém, que “o Brasil é um país de excelência na produção de proteína animal no mundo, seja pelo aspecto de sanidade, seja pela segurança dos processos produtivos, auditados reiteradamente por mais de 150 países para os quais o produto é exportado.”

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