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Em recado a Bolsonaro, Guedes lamenta “debandada” de secretários pró-reformas

Saídas de Salim Mattar e Paulo Uebel das secretarias de Desestatização e Desburocratização escancaram paralisia do Governo. Ministro da Economia reconhece que "quem manda é a política"

Paulo Guedes durante a entrevista coletiva desta terça-feira.
Paulo Guedes durante a entrevista coletiva desta terça-feira.ADRIANO MACHADO (Reuters)
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AME2520. BRASILIA (BRASIL), 27/05/2020.- Decenas de personas con tapabocas hacen fila este miércoles en un centro comercial de Brasilia (Brasil). Los centros comerciales en Brasilia abren sus puertas este miércoles, con una serie de requisitos de salud que deben cumplirse para prevenir la infección de clientes, empleados y dueños de tiendas frente a la COVID-19. Para cumplir con las reglas establecidas en el decreto estatal, algunos establecimientos contrataron laboratorios para evaluar a sus empleados y otros recurrieron a pruebas gratuitas. EFE/ Joédson Alves
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Uma das principais bandeiras da campanha do presidente Jair Bolsonaro, avalizada pelo seu liberal ministro da Economia, Paulo Guedes, sofreu um duro golpe nesta terça-feira. Os secretários especiais do Ministério da Economia Salim Mattar (Desestatização) e Paulo Uebel (Desburocratização) pediram demissão, no que foi classificado pelo próprio Paulo Guedes como “uma debandada”. “O que ele [Salim Mattar] me disse é que é muito difícil privatizar, que o establishment não deixa”, afirmou Guedes durante entrevista coletiva, emendando: “O que eu disse para ele é que para privatizar cada um tem que lutar, não adianta ficar esperando Papai do Céu”. No caso de Uebel, a saída foi justificada pela demora no encaminhamento da reforma administrativa.

Apesar de não ter exatamente um histórico político ligado à economia liberal, Bolsonaro apoiou sua campanha eleitoral em promessas de privatização de empresas públicas. Em agosto do ano passado, seu Governo chegou a apresentar um ambicioso pacote de privatizações. Nesta terça-feira, ao comentar a saída de seus secretário, Guedes voltou a externar seu desejo de privatizar ―e mencionou diretamente os Correios, a Eletrobras, o Porto de Santos e a PPSA, responsável pelos contratos de exploração do pré-sal―, mas admitiu que a prometida agenda não avançou até agora. “Eu, se pudesse, privatizava todas as estatais. Mas, para privatizar todas, tem que privatizar primeiro duas ou três. E nós não conseguimos privatizar duas ou três. É preocupante. O trabalho não está andando nessa dimensão. É natural que o Governo esteja preocupado”, admitiu.

As baixas desta terça-feira se somam às saídas nas últimas semanas de Mansueto Almeida (do Tesouro Nacional), de Caio Megale (da diretoria de programas da Secretaria Especial da Fazenda) e de Rubem Novaes, que anunciou que deixará a presidência do Banco do Brasil. Em resposta à “debandada”, Guedes fez o que tem feito desde o início do Governo Bolsonaro: reforçou suas promessas e, desta vez, adicionou um tom de advertência direcionado ao Planalto. “A nossa reação à debandada que aconteceu hoje é acelerar as reformas. Mostrar que vamos privatizar, vamos insistir nesse caminho. Pelo menos nós vamos lutar”, disse, admitindo, contudo, que “quem dá o timing das reformas é a política, quem tem voto é a política”. “Se o presidente da Câmara quiser pautar algo, é pautado. Se o presidente da República quiser mandar alguma reforma, ela é mandada. Se ele não quiser, não é mandada. Quem manda não é o ministro, não são os secretários”.

Para o economista André Perfeito, sócio da Netcon, a entrevista do ministro e sua repercussão podem desenhar um divisor de águas e um dos desfechos pode ser que o clima “desande de vez”. “Fatalmente os mercados devem reagir amanhã [quarta-feira], em especial a curva longa de juros com a perspectiva menos favorável da dinâmica fiscal. O cenário, sejamos francos, já estava muito ruim no que concerne à velocidade das reformas e equilíbrio fiscal, mas a credibilidade do Governo sempre encontro em Guedes um fiador de peso”, pondera Perfeito.

Teto de gastos

A reação mais rápida às declarações de Paulo Guedes não veio do presidente da República, mas do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que estava presente durante a entrevista de Guedes. “Hoje tivemos uma conversa franca com o ministro Paulo Guedes e há consenso de que não haverá jeitinho nem esperteza para desrespeitar o teto de gastos. A Câmara não vai pautar nenhuma prorrogação do estado de calamidade”, avisou Maia por meio de seu perfil no Twitter, referindo-se ao limite de gastos aprovado durante o Governo Michel Temer. “Temos uma realidade, que é uma carga tributária de mais de 33% do PIB, somada ao déficit primário. Precisamos entender que essa conta está dentro do Governo e do Congresso. Se conseguirmos avançar rapidamente no tema dos gatilhos do teto, vamos abrir espaço para investimentos públicos, que também são importantes para o crescimento do Brasil”, completou Maia.

A declaração de Maia se explica por pressões internas do Governo Bolsonaro para estourar o teto e liberar investimentos capazes de impulsionar o crescimento país, abalado pela crise do coronavírus. Segundo Guedes, “os conselheiros do presidente que estão aconselhando a pular cerca e furar teto vão levar o presidente para uma zona de incerteza, uma zona sombria, uma zona de impeachment de responsabilidade fiscal”, alertou o ministro, ponderando que “o presidente sabe disso e tem nos apoiado”. Bolsonaro, contudo, não se manifestou sobre a saída dos secretários nesta terça-feira.


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