_
_
_
_
_

Marcos Nobre ao EL PAÍS: “Bolsonaro tenta destruir as instituições por dentro”

Professor da UNICAMP e presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP) conversou sobre a crise no Governo Bolsonaro. Entrevista faz parte de série multiplataforma do jornal

O EL PAÍS entrevista o filósofo Marcos Nobre, sobre a crise no Governo Bolsonaro. Clique para assistir.
Mais informações
No Rio de Janeiro, o protesto contra a violência policial contra os negros no Brasil aconteceu no domingo.
Mortes em operações policiais aumentam no Brasil, apesar da quarentena
CARACAS, VENEZUELA - APRIL 27: A teenager student Jose Lara uses his computer at the roof of his house whilte trying to connect to the internet and receive his homework for the week during the second month of quarantine in the Country on April 27, 2020 in Caracas, Venezuela. Due to the government-ordered coronavirus lockdown, students in Venezuela will have to attend classes remotely until the end of the school year on July 10th. In most cases, teachers connect with their students daily or weekly through e-mail or social media. Online education is a challenge in a country with a very unstable and slow internet service, frequent power outages and low-income households where parents lack of time to spend teaching their kids. (Photo by Leonardo Fernandez Viloria/Getty Images)
Coronavírus joga sal sobre a ferida da desigualdade e aumenta a diferença econômica
Coronavírus
João Doria: “Se houver um aumento de contágios, nós vamos recuar”

“Bolsonaro teve que formar um Governo de guerra. Mas não é uma guerra contra o vírus, é uma guerra para se manter no poder. É isso que é repugnante”, afirmou Marcos Nobre, professor da UNICAMP e presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), em entrevista para o EL PAÍS nesta quinta-feira. O filósofo acaba de publicar o livro Ponto Final - A Guerra de Bolsonaro contra a democracia (Todavia), em que analisa o Governo do presidente Jair Bolsonaro e a escalada autoritária no país. Para ele, Bolsonaro “tenta destruir as instituições por dentro”, e é preciso que as forças democráticas de direita, de centro e de esquerda se unam em torno da queda do presidente. O movimento deve ser similar ao das Diretas Já, que pediu por eleições diretas no final da ditadura militar, e do impeachment de Fernando Collor, em 1992.

O pesquisador acredita, porém, que esse horizonte de união ainda precisa ser construído. “Impeachment não é uma questão de vontade, é uma questão de construção política complicada. E é complicada porque nos últimos anos essa lógica de guerra fez com que essas forças políticas deixassem de confiar uma nas outras”, explica Nobre. Ele acrescenta ainda que as forças políticas serão “obrigadas” a conversar em algum momento. Mas, para que isso aconteça, a base da sociedade também precisa conversar e empurrar os partidos. “Essa negociação tem que começar na base da sociedade. Tudo bem que está difícil ter almoço de domingo, mas começa ali no almoço de domingo, no grupo de WhatsApp da família e dos colegas de trabalho”, afirma. “Não só temos uma crise sanitária, uma crise econômica e uma crise politica. Pela primeira vez também corremos o risco de perder a democracia. Então, tem que ficar claro que ou você junta todo mundo ou esse país vai se inviabilizar”.

Apesar das dificuldades, Nobre se mostra otimista ao dizer que a rejeição a Bolsonaro tende a aumentar ao mesmo tempo em que sua base de apoio tende a diminuir. Quando isso acontecer, completa ele, “as forças políticas organizadas, partidos políticos, movimentos de renovação, vão ser obrigadas a conversar”.

O filósofo frisa, contudo, que essa aliança do campo político não deve ser eleitoral e que cada partido e cada campo político precisa "resolver seus problemas e escolher seus candidatos”. Ele vislumbra uma em torno de agendas mínimas, como ocorreu na época do impeachment de Collor, que resulte em afastar o risco autoritário e a agenda econômica ultraliberal de Paulo Guedes, abordar “temas substantivos” como o da desigualdade social e “repactuar” as regras das regras do jogo democrático. “E isso passa pela pela reconstrução da convivência política e por fazer acordos mínimos sobre as linhas gerais do próximo Governo [de Hamilton Mourão] e sobre as eleições”, argumenta.

A íntegra da entrevista está disponível acima, na página do EL PAÍS Facebook e no nosso canal de YouTube. A entrevista foi conduzida pela editora-adjunta do EL PAÍS Brasil Talita Bedinelli e pelo repórter Felipe Betim. Participaram anteriormente da série de entrevistas do EL PAÍS o colunista Xico Sá, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador e ex-presidente Fernando Collor.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_