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Com espera para UTI em vários Estados, Teich diz que discutirá fila única com privados quando o SUS chegar “no limite”

Ministro defende cooperação e não “tomada” de leitos. Brasil confirma mais de 600 mortes em 24 horas pelo segundo dia seguido e Ministério da Saúde apresenta nova estratégia para testagem da população

Beatriz Jucá
O ministro da Saúde, Nelson Teich,  durante solenidade de posse no Palácio do Planalto
O ministro da Saúde, Nelson Teich, durante solenidade de posse no Palácio do Planalto Marcello Casal Jr (Agência Brasil)

Com pelo menos quatro Estados com filas de espera por uma UTI no sistema público em meio à pandemia do coronavírus, o ministro da Saúde, Nelson Teich, pondera sobre a possibilidade de criar uma fila única desses leitos essenciais para a sobrevivência de pacientes mais graves nas redes pública e privada. Questionado por jornalistas sobre essa opção, o ministro disse que conversará com o setor privado quando a situação chegar “no limite” e ponderou que uma medida como essa (adotada em países como Espanha e Irlanda) pode ter implicações para um período posterior à pandemia. “Caso você chegue no limite, você vai sentar com a iniciativa privada e descobrir uma forma de trazer a saúde suplementar para fazer parte dessa solução do SUS de uma forma com uma cooperação e não com uma ‘tomada", afirmou o ministro, que defendeu que a sugestão feita por algumas entidades médicas não é fila, mas uma incorporação. “Não existe chance de a gente imaginar perder alguém quando a pessoa pode ser salva. Isso precisa ficar muito claro”, acrescentou. Quando o país contabiliza 8.536 mortes, com mais de 600 mortes notificadas pelo segundo dia consecutivo, o Ministério da Saúde também anunciou novo programa de testagem, com o auxílio do IBGE, para tentar desenhar o tamanho real da epidemia no país por amostragem.

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A questão da fila de espera por UTIs no país é um debate na mesa há semanas. No início do mês de abril, diversas entidades de saúde publicaram um manifesto em defesa de uma fila única de todos os leitos de terapia intensiva. Elas defendem que é urgente essa centralização pelo Governo Federal, que poderá planejar transferências de pacientes para regiões mais desafogadas e estabelecer critérios de gravidade e uma ordem de chegada para que a população não fique sem acesso a uma estrutura fundamental para sua sobrevivência caso seja acometida gravemente pela covid-19. No Brasil, os leitos de UTI estão divididos meio a meio entre hospitais públicos e privados, mas estes últimos atendem a apenas um quarto de toda a população. Acionada por parentes em desespero, a Justiça decide pela entrega de leitos para tentar garantir atendimento a pacientes em locais onde o sistema público já atua no limite. Especialistas dizem que a judicialização da questão trará mais caos do que a definição de critérios imediatamente.

Nesta quarta-feira (6), Teich falou pela primeira vez sobre a sugestão das entidades. Disse que seria irresponsável dar uma posição definitiva sobre um tema complexo, que esta não é uma decisão só sobre a Saúde e defendeu uma longa discussão com o setor privado antes de qualquer medida. Enquanto os sistemas de saúde de várias capitais já colapsam e o Brasil sobe para a sexta posição no mundo em óbitos pela covid-19, o ministro disse que o Brasil precisa ser “eficiente o bastante para que o SUS seja capaz de enfrentar a pandemia” e que alguns hospitais privados já oferecem sua estrutura num cenário de ociosidade em algumas unidades da rede particular. "(A fila única) é uma situação que eu tenho que estudar com muito mais cuidado porque tem implicações que vão além deste momento. A gente pode sentar e negociar a contratação de leitos”, defendeu.

Amostragem

Setenta dias após a confirmação do primeiro caso de coronavírus, o Brasil ainda desenha estratégias para tentar mensurar o tamanho da epidemia. Nesta quarta-feira (6), o Secretário de Vigilância do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira, anunciou também um novo programa de testagem do coronavírus, que pretende examinar 12% da população brasileira. Segundo Wanderson, 222 unidades de saúde sentinelas que já existem no Brasil passarão a coletar amostras respiratórias para testar todos os pacientes sintomáticos que as procurarem. Até então, os testes em casos leves eram limitados. Além disso, serão implementadas unidades de coleta emergencial em todas as cidades com mais de 500 mil habitantes, capitais e regiões metropolitanas. O IBGE também contribuirá nesse processo, com cálculos para se desenhar o tamanho da pandemia por amostragem.

O secretário também disse que uma parceria público privada com laboratórios ajudará a zerar a fila de testes (que atualmente é de 100.000) nas próximas semanas, o que impactará o número de casos confirmados da doença no país. No momento, o país tem 125.218 casos confirmados de coronavírus, segundo dados do Ministério da Saúde. Esta quarta-feira foi o segundo dia consecutivo que o país registra mais de 600 mortes por dia, mas nem todos óbitos ocorreram nas últimas 24 horas. Há uma defasagem na notificação por conta da fila reprimida de testes.

“Nós vamos zerar a fila de testes. Isso fará com que o número de casos também aumente, porque tem muitos resultados aguardando para serem inseridos no sistema. Em todas as cidades com mais de 500 mil habitantes, capitais e regiões metropolitanas, nós teremos unidades de coletas emergencial. Serão coletadas as amostras de forma rápida. De 24 a 96 horas teremos o resultado para o médico e para o paciente”, explicou Wanderson Oliveira.

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