_
_
_
_
_

Apoio ao impeachment de Bolsonaro alcança 54% e aprovação de Moro vai a 57% após sair do Governo

Nova pesquisa da Atlas Político indica que, pela primeira vez, maioria da população é favorável à saída do presidente. Imagem pública do ex-ministro da Justiça se fortalece

O ex-ministro Sergio Moro e o presidente Jair Bolsonaro, em um evento em Brasília em 2019.
O ex-ministro Sergio Moro e o presidente Jair Bolsonaro, em um evento em Brasília em 2019.EVARISTO SA (AFP)
Beatriz Jucá

A guerra pública travada entre o presidente Jair Bolsonaro e o agora ex-ministro Sergio Moro em meio às acusações de interferência política no comando da Polícia Federal empurrou o presidente a um patamar inédito no derretimento de sua imagem pública: pela primeira vez na série histórica de pesquisas realizadas pela consultoria Atlas Político, a maioria dos entrevistados (54%) é favorável a um processo de impeachment contra Bolsonaro. O presidente já vinha experimentando queda na aprovação de seu Governo desde fevereiro diante de seu comportamento errático durante a crise do coronavírus e do baixo desempenho econômico nesse período, mas os reflexos da demissão de seu ministro mais popular afetaram diretamente seu capital político: 64,4% responderam que desaprovam seu desempenho enquanto 30% o aprovam. Enquanto isso, o ex-ministro Sergio Moro fortalece a sua imagem pública e vê sua aprovação chegar a 57%, índice que não alcançava desde a suspeição levantada sobre a sua atuação como juiz após o vazamento de mensagens de integrantes da força-tarefa da Lava Jato.

Mais informações
atlas político
Leia a íntegra da pesquisa do Atlas Político
O presidente Jair Bolsonaro durante teleconferência com governadores.
Bolsonaro fica nu ao se despir das três bandeiras que o levaram ao poder
Moro Bolsonaro ministro STF
Moro salva o que resta da biografia ao terminar um “casamento de conveniência” com Bolsonaro
Flávio e Carlos Bolsonaro.
Investigações sobre filhos de Bolsonaro podem explicar disputa por direção da PF que tirou Moro do Governo

Na última sexta-feira, Moro deixou o cargo de superministro da Justiça e da Segurança Pública. Na ocasião, fez graves acusações contra o presidente Bolsonaro por querer interferir nas investigações da Polícia Federal, exonerando o diretor geral da corporação, Maurício Valeixo, à revelia de seu então ministro. Bolsonaro rebateu em um longo pronunciamento feito no mesmo dia, no qual acusava Moro de mentir e negava intenção de interferir na PF. Ambos protagonizaram uma guerra política em meio à crise sanitária mais grave do século que atingiu suas imagens públicas. Em meio a esse cabo de guerra ―segundo indica a pesquisa do Atlas Político feita com 2.000 pessoas entre os dias 24 e 26 de abril―a imagem do presidente saiu ferida. A pesquisa, que tem uma margem de erro de dois pontos percentuais, mostra que 68% dos entrevistados discordam da demissão de Valeixo por Bolsonaro enquanto 72% concordam com as críticas feitas por Moro ao presidente, como a alegação de tentativa de interferir politicamente em investigações da PF.

“Há uma queda sem precedentes da imagem positiva que o presidente tinha na nossa série histórica. Isso se reflete em várias perguntas relacionadas, como a pergunta sobre o impeachment. Pela primeira vez, a gente observa uma maioria a favor num momento em que se começa a discutir mais sobre isso, o que pode criar uma pressão popular sobre o Congresso”, afirma o cientista político Andrei Roman, criador do Atlas Político.

Gráficos pesquisa Atlas político
Atlas Político

O embate entre Bolsonaro e Moro colocou o impeachment de volta ao debate público. Oposicionistas têm aumentado a pressão na Câmara dos Deputados para iniciar um processo. A Casa já recebeu ao menos 19 pedidos que acusam o presidente de crime de responsabilidade, sendo oito deles protocolados neste ano. E um vigésimo pedido deverá ser entregue nos próximos dias pelo partido que elegeu Bolsonaro, PSL. Segundo a pesquisa do Atlas Político, 58% das mulheres são favoráveis a um processo de destituição do presidente enquanto entre homens o percentual cai para 49%. Analisando as respostas conforme a crença religiosa, o presidente ainda detém forte apoio dos evangélicos, que têm base parlamentar importante no Congresso. Entre os evangélicos, apenas 39% são a favor do impeachment e 53% são contra. Entre católicos, por exemplo, esses percentuais são de 59% a favor da destituição e 29% contra ela.

Gráficos pesquisa Atlas político
Atlas Político

Paralelo ao derretimento da imagem pública de Bolsonaro, Sergio Moro vê seu nome se fortalecer politicamente diante da opinião pública. O ministro chegou a ter sua imagem arranhada com as denúncias da Vaza Jato, quando chegou a ter 48% de aprovação. Voltou a crescer e, durante a crise do coronavírus, manteve estabilidade, com cerca de 53% de aprovação, em pesquisa do dia 15 de abril. Ao protagonizar o embate público com o presidente, viu sua aprovação voltar a crescer e atingir o percentual que tinha antes da suspeição sobre sua atuação como juiz da Lava Jato. Entre dez líderes políticos incluídos na pesquisa, Moro tem aprovação menor apenas que a de Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde que foi demitido por Bolsonaro por divergências na condução da crise do coronavírus.

Pesquisa Atlas Político
Atlas Político

Pela primeira vez, Bolsonaro tem índices de rejeição maiores que o ex-presidente Lula (PT). O presidente se elegeu em 2018 com forte discurso de polarização, no qual combatia o petismo. Bolsonaro também tem menos popularidade que o ministro da economia Paulo Guedes, cuja aprovação só é menor que a de Mandetta e Moro. Líderes políticos que se colocam como oposição, como por exemplo Lula e Fernando Haddad, não têm crescido em meio à crise. “Você tem todo um desgaste do Bolsonaro, que não está conseguindo ser capitalizado pela esquerda, pela oposição formal ao Governo. O desempenho de Lula e Haddad segue sendo o mesmo. Mas existe o surgimento dessas novas figuras de direita, como Mandetta e Moro, que se colocam fortes competidores para 2022”, analisa Andrei Roman.

Gráficos pesquisa Atlas político
Atlas Político

Inicialmente, publicamos que 52% eram favoráveis ao impeachment de Bolsonaro. O percentual correto é de 54%.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_