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Yanomami de 15 anos morre vítima do coronavírus em Roraima

Adolescente faleceu na noite de quinta-feira após ficar quase uma semana na UTI. É a primeira morte de indígena contabilizada oficialmente, mas entidades denunciam subnotificações

Aldeia Yanomami vista durante operação contra o garimpo ilegal de ouro em terras indígenas.
Aldeia Yanomami vista durante operação contra o garimpo ilegal de ouro em terras indígenas.BRUNO KELLY (REUTERS)

Um adolescente da etnia Yanomami de 15 anos, que contraiu coronavírus e estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) desde 3 de abril, morreu na noite desta quinta-feira no Hospital Geral de Roraima, segundo informou a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), ligada ao Ministério da Saúde. A morte foi a primeira registrada entre povos indígenas, segundo a Sesai, ainda que entidades denunciem subnotificações de casos fatais do Covid-19 entre indígenas que não moram nas aldeias.

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Las mujeres zo'és de la Amazonia brasileña suelen llevar a sus hijos en portabebés que tejen con fibras de palma o algodón que cultivan en sus huertos. Todos son iguales en la sociedad zo’é. Los zo’és son polígamos, y tanto las mujeres como los hombres pueden tener más de un compañero/a. Es bastante común que una mujer con varias hijas se case con diferentes hombres, algunos de los cuales podrían casarse más tarde con éstas. Las mujeres indígenas no están “atrasadas” ni son “primitivas”; tienen sociedades complejas y en evolución que florecen cuando se las deja perseguir las formas de vida diversas y autosuficientes que han desarrollado a lo largo de los siglos. A pesar de su sufrimiento, la resistencia de muchas mujeres indígenas sigue aumentando en la actualidad.
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O jovem era natural da aldeia Rehebe, localizada na Terra Indígena Yanomami, mas passou a residir na Terra Indígena Boqueirão, dos povos Macuxi e Wapichana, no município de Alto Alegre, a 87 quilômetros de Boa Vista, de acordo com o Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei). O motivo da mudança foi dar continuidade aos estudos. Ainda segundo o Dsei, o adolescente morava com uma liderança indígena.

Ao apresentar os primeiros sintomas da Covid-19, o jovem foi atendido no Hospital Municipal de Alto Alegre. Posteriormente, acabou sendo encaminhado ao hospital geral, já com um um quadro de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Ele refez o teste para diagnóstico de coronavírus e somente a contraprova detectou a infecção.

Segundo o boletim mais recente da Sesai, o país registra seis casos confirmados de Covid-19 e 24 suspeitos em populações indígenas. “Temos que ser extremamente cautelosos com as comunidades [indígenas], especialmente aquelas que têm muito pouco contato com o mundo exterior”, afirmou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em entrevista coletiva.

Subnotificações

Entidades que trabalham na defesa dos indígenas, como o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), têm denunciado a subnotificação de casos da Covid-19 entre os índios. E alertam que ao menos outros dois indígenas contaminados pelo novo coronavírus já foram a óbito e que o Governo não registrou as ocorrências no balanço. Os indígenas eram uma mulher da etnia borari, de 87 anos, que morreu em Alter do Chão, no município de Santarém (PA), e o outro era um homem de 55 anos, do povo Mura, morto em Manaus. As duas mortes levaram o Ministério Público Federal (MPF) a investigar os casos. Em comunicado divulgado na quinta-feira, 9, o Cimi disse que a Secretaria Especial de Saúde Indígena não contabilizou as duas mortes por se tratar de indígenas que vivem em contexto urbano. Procurada, a Sesai ainda não se manifestou sobre os demais casos.

As lideranças indígenas denunciam ainda que o assédio de garimpeiros nas regiões de aldeias complica ainda mais a situação desta população. O Cimi, o Greenpeace e a Associação do Povo Indígena Karipuna (Apoika) afirmaram que, no dia primeiro de abril, indígenas Karipuna avistaram quatro invasores limpando uma área de floresta próxima à Aldeia Panorama, em Rondônia. “O risco de um iminente e fatal genocídio do povo ressurge agora de modo ainda mais preocupante, seja em função de um potencial ataque de invasores, seja devido à possibilidade desses contaminarem os Karipuna com o coronavírus”, afirmam em nota conjunta.

A pandemia de coronavírus promete ser mais um teste de resistência para os povos indígenas brasileiros, que além da falta de anticorpos para uma nova doença também enfrentam um quadro de problemas estruturais no atendimento de saúde. O sucateamento da Sesai, responsável pelo atendimento de mais de 765.000 indígenas no país, já vem sendo denunciado desde o ano passado por entidades indigenistas. Agora, em tempos de pandemia, estes problemas podem impactar de forma dramática a situação desta população. Em nota publicada em março, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, a Apib, cobrou medidas do Governo para evitar uma tragédia entre os indígenas neste momento de pandemia.

Um levantamento da Swiss Indigenous Newtwork (SIN) mostra que de 19 aldeias pesquisadas no Brasil, oito decidiram se fechar em quarentena não permitindo a entrada ou saída de pessoas para evitar que o coronavírus se alastre. As demais aldeias mantêm saídas esporádicas para busca de medicamentos e alimentos. Devido às secas e condições climáticas desfavoráveis, mesmo as aldeias que produzem a própria alimentação estão com dificuldades e não conseguem cultivar e caçar para consumo interno, sendo muitas vezes obrigados a irem às cidades. Sem máscaras, ficam expostos ao vírus. As lideranças afirmam, segundo o relatório, que precisam de doações de alimentos não perecíveis, produtos de higiene e limpeza, além de recursos financeiros.

Com Agência Brasil.

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