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Crise com coronavírus desgasta Bolsonaro e melhora imagem de Doria, favorável à quarentena

Rejeição a governador de São Paulo, que ainda é alta, caiu após embate com presidente sobre isolamento. Levantamento do Atlas Político aponta que 82% concordam com medida restritiva

O presidente Jair Bolsonaro durante teleconferência com governadores.
O presidente Jair Bolsonaro durante teleconferência com governadores.Marcos Corrêa/PR

Oito entre cada dez brasileiros apoiam a implementação de medidas de isolamento como forma de tentar conter o coronavírus, como a suspensão de aulas e a restrição à circulação de pessoas. O dado é de um levantamento da consultoria Atlas Político, feito em meio ao embate entre o presidente Jair Bolsonaro, contrário a essas ações, e os governadores que as adotaram em seus Estados. A pesquisa aponta ainda que a rusga entre os dois lados já teve reflexo na imagem dos políticos: enquanto a rejeição ao presidente aumentou na última semana, a do governador João Doria, que se opôs publicamente à posição de Bolsonaro, diminuiu drasticamente, ainda que siga alta. A aprovação ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, outro defensor do isolamento, também aumentou, assim como a do ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, que tem sido a face do enfrentamento à crise.

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A pesquisa foi feita entre os dias 23 e 25 de março, ou seja, captou reações ao pronunciamento oficial contra a quarentena de Bolsonaro da última terça-feira (24) e ao posicionamento dos governadores, na quarta (25). Foram entrevistadas 2.000 pessoas, por meio de questionários randômicos respondidos pela Internet e calibrados por um algorítimo. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.

Os dados apontam que o temor do coronavírus atinge 75% dos entrevistados: 39% deles dizem temer pela própria vida, enquanto 36% têm medo de ficar doente. Além disso, 84% afirmam que temem perder algum amigo ou membro da família por conta da infecção. Para sete em casa dez entrevistados, o que mais preocupa nesta crise é a morte de pessoas e não o impacto econômico que ela pode gerar, elemento mais importante para 21%. Ainda assim, 61% das pessoas acreditam que o Brasil passará por uma recessão econômica neste ano e 48% declaram que sua renda mensal já diminui.

No pronunciamento feito na terça-feira, Jair Bolsonaro causou polêmica, ao afirmar que o coronavírus era apenas uma “gripezinha” e defender que o país voltasse à “normalidade”. "Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, a proibição de transportes, o fechamento do comércio e o confinamento em massa”, destacou. O posicionamento, contrário às recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e às ações dos principais países afetados pela doença, causou indignação entre a classe política e a população, que reagiu com um novo dia de panelaços na janela.

“Até agora, os políticos que se posicionaram a favor das medidas de isolamento parecem ter melhorado em termos de imagem. Isso é bastante claro no caso de João Doria, cuja imagem positiva melhorou muito”, aponta o cientista político Andrei Roman, criador do Atlas Político. Há uma semana, 74% afirmavam que tinham uma imagem negativa de Doria; agora essa é a opinião de 54%. Enquanto a última pesquisa, feita no dia 18, também apontava que 52% das pessoas tinham uma imagem negativa de Bolsonaro, a de agora mostrou uma ampliação desta rejeição para 57%. “Caso a medida de isolamento [feita por alguns Estados] dê resultados, Bolsonaro pode se tornar ainda menos popular. Mas isso pode ter um efeito passageiro, caso a aprovação das medidas de isolamento comece a cair. Isso poderia acontecer em decorrência dos problemas econômicos, especialmente se o número de mortes crescer menos que o esperado", destaca Roman.

O posicionamento de Bolsonaro contra as medidas de quarentena busca blindar seu Governo, que no ano passado registrou um crescimento econômico abaixo do esperado, das consequências econômicas que a paralisação de serviços pode trazer. Ele tem acusado rivais políticos, como o próprio Doria, de quererem se promover politicamente na crise, e tem destacado que uma piora na economia seria o fim de seu Governo. A fala em rede nacional foi feita sob medida para seu público mais radical que se move nas redes. E, apesar de ter tido efeito negativo em sua popularidade, funcionou para seu propósito: hashtags como Bora Trabalhar e Bolsonaro tem razão ganharam os trend topics do Twitter. E sua tropa de choque chegou, até, a viralizar uma notícia publicada pelo EL PAÍS Brasil que mostrava a Itália repensava suas medidas mais restritivas com medo de abalar a economia. A reportagem, entretanto, era do final de fevereiro, quando o país tinha 17 mortos e acreditava que a epidemia seria contornável. Uma reportagem de Gil Alessi, publicada nesta quarta-feira, mostrou que desde então, ao ver os números de mortes dispararem exponencialmente poucos dias depois (já passam de 7.500), o país mudou de ideia e ampliou a quarentena, restrita então a algumas localidades, para todo o país. A Itália enfrenta atualmente uma crise de saúde extremamente aguda, com a falta de leitos em UTI e tendo que escolher quais doentes deixa viver, devido a falta de estrutura.


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