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Igrejas desafiam recomendação de suspender missas e cultos diante da pandemia do coronavírus

São Paulo sugere cancelamento de encontros religiosos. Cúpula católica no Estado fala em aumentar missas para minimizar contato. Pastor Silas Malafaia, no Rio, promete manter culto

Silas Malafaia coronavirus
Silas Malafaia celebra culto na Assembleia de Deus.Divulgação (ADVEC)

“Em nome de Jesus, nenhum mal te sucederá nem praga alguma chegará à tua casa.” Citando o salmo 91, da Bíblia Sagrada, o pastor Silas Malafaia instiga seguidores a não temerem a pandemia de coronavírus que já infectou quase 200.000 pessoas pelo mundo. O líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo publicou o vídeo em suas redes sociais horas depois do governador de São Paulo, João Doria, recomendar a templos e igrejas da capital do Estado e região metropolitana a suspensão de cultos e missas que promovam aglomeração de fiéis.

Desde a manifestação dos primeiros casos de Covid-19 no Brasil, Malafaia tem comprado briga com autoridades e até correligionários de outras igrejas pela manutenção das cerimônias abertas ao público. Ele admite, entretanto, encerrar cultos em localidades que decretem estado de emergência. Na última quarta-feira, o pastor afirmou que só fecharia sua igreja por ordem da Justiça, que, de fato, foi instada a deliberar sobre o tema. O Ministério Público do Estado do Rio ajuizou uma ação civil pública proibindo Malafaia de realizar aglomerações e prevendo multa para desobediência. A Justiça estadual do Rio negou o pedido.

Assim como ele, o bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, se recusa a interromper os cultos presenciais pelo país, afirmando que a epidemia é inofensiva e se trata de “mais uma tática de Satanás”.

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Ana Paula Valadão, da Igreja Batista da Lagoinha, que fechou templos e anunciou a continuidade de suas celebrações apenas via transmissão online, criticou líderes religiosos que relutam em tomar postura semelhante. Ela sugere que o dízimo seja arrecadado pela Internet. Em outro vídeo, Malafaia respondeu à pastora, alegando que, pelo fato de sua igreja contar com tecnologia para cobrança virtual das contribuições, não mantêm eventos públicos pelo interesse nas ofertas dos fiéis, mas sim por convicção espiritual.

“Nunca cobrei um centavo para pregar o Evangelho”, diz o pastor. “Ninguém tá mandando o crente ir pra igreja. Enquanto tiver transporte coletivo circulando, minha igreja vai continuar aberta com culto. Se fechar tudo no mundo, a igreja é o último reduto de fé e esperança. Se entrar alguém pela porta desesperado com coronavírus, eu tenho que impor as mãos sobre a pessoa. Vai ter sempre uma porta aberta na minha igreja”, esbravejou ao qualificar a crítica de Valadão como uma “fala do inferno e do nosso meio”.

Alheio à troca de farpas entre pastores evangélicos, Doria explicou durante o anúncio da recomendação, válida por 60 dias, que os espaços religiosos podem permanecer abertos, porém com limitação de público em suas dependências, respeitando o espaçamento de pelo menos 3 metros entre os fiéis. “Não significa o fechamento de igrejas, templos ou outras áreas em que as pessoas se reúnem para fazer orações. É apenas uma recomendação para que não promovam mais, presencialmente, missas e cultos”, disse o governador. A medida despreza o rigor demandado pelo Ministério Público de São Paulo, que, nesta quarta, havia cobrado de Governo e Prefeitura, devido à concentração de casos do coronavírus no Estado, a publicação de decretos que obrigassem o fechamento de recintos como igrejas, estabelecendo punições a quem os descumprisse.

A resistência em fechar as igrejas encontra eco no Congresso. Presidente da Frente Parlamentar Evangélica, o deputado Silas Câmara (Republicanos-AM) solicitou a reabertura de templos religiosos que foram fechados em outros Estados por recomendação de Governos sob a justificativa de “acolher os desesperados” nos refúgios contra o que chama de “pandemia maligna”. A Igreja Católica também evita acatar as recomendações. Liderada pelo arcebispo Dom Odilo Scherer, a Arquidiocese de São Paulo reafirma o posicionamento divulgado na semana passada, em defesa da manutenção de igrejas abertas, mas com um maior número de celebrações litúrgicas por dia, na tentativa de prevenir grandes aglomerações, e sugestão a fiéis idosos ou em grupos de risco da Covid-19 para acompanhar as missas de casa. No Ceará, já há missas virtuais. O Dia de São José, padroeiro dos trabalhadores e das famílias, é celebrado virtualmente nas paróquias de Fortaleza e Canindé, por exemplo.

Em tom reativo às pressões para fechar igrejas, pastores como Silas Malafaia utilizam discursos inflamados como forma de encorajar seus devotos. “Não repassem nada de coisa ruim sobre coronavírus nas redes sociais”, pregou o pastor da Assembleia de Deus ao rogar aos fiéis que não tenham medo da pandemia. “Que todas as previsões das autoridades caiam por terra.” Até esta quinta-feira, o Brasil já registrou 621 casos confirmados de coronavírus e sete mortes, cinco delas em São Paulo. De acordo com o Ministério da Saúde, a estimativa é que o número de infecções no país siga crescendo pelo menos até junho.

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