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Gestão de Bolsonaro do coronavírus é reprovada por 64%, e 45% se dizem a favor de impeachment

Pesquisa da consultoria Atlas Político aponta que crise com a Covid-19 teve reflexo na popularidade do presidente, que vinha em recuperação

Guedes, Bolsonaro e Mandetta em coletiva de imprensa.
Guedes, Bolsonaro e Mandetta em coletiva de imprensa.SERGIO LIMA (AFP)

O comportamento errático de Jair Bolsonaro durante a crise do coronavírus aliado ao baixo desempenho econômico do Governo fizeram o humor do eleitor brasileiro mudar radicalmente em um mês. Um levantamento da consultoria Atlas Político, que em fevereiro apontava que o presidente seria capaz de se reeleger em qualquer cenário de disputa, agora mostra que os ventos de impeachment podem começar a soprar. De acordo com os dados, 64% dos entrevistados reprovam a forma como Bolsonaro gestionou a chegada da Covid-19. E, se há um mês, 50,5% das pessoas tinham a expectativa de que a situação econômica do país melhoraria, agora, com a divulgação de um PIB fraco no período, 49,7% acreditam que ela vai piorar. O número dos que apoiam uma deposição do presidente chega a 44,8%.

A pesquisa entrevistou 2.000 pessoas entre os dias 16 e 18 de março, por meio de questionários randômicos respondidos pela Internet e calibrados por um algorítimo. Tem margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e um nível de confiança de 95%.

Nossa última pesquisa mostrava todos os indicadores de otimismo e confiança melhorando. O ministro da Economia Paulo Guedes estava mais popular do que nunca. Bolsonaro ganhava de largada em 2022. Essa crise veio logo no momento de maior fôlego para o Governo desde que Bolsonaro assumiu. Neste momento, o humor mudou em relação a tudo”, explica o cientista político Andrei Roman, criador do Atlas Político.

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People watch as German Chancellor Angela Merkel delivers her first direct TV address to the nation in over 14 years in power, in a living room, in Oberhausen, Germany, Wednesday, March 18, 2020. For most people, the new coronavirus causes only mild or moderate symptoms, such as fever and cough. For some, especially older adults and people with existing health problems, it can cause more severe illness, including pneumonia. (Fabian Strauch/dpa via AP)
Merkel apela a cidadãos e chama coronavírus de “maior desafio desde a Segunda Guerra Mundial”
A medical worker (R) embraces a member of a medical assistance team from Jiangsu province at a ceremony marking their departure after helping with the COVID-19 coronavirus recovery effort, in Wuhan, in China's central Hubei province on March 19, 2020. - Medical teams from across China began leaving Wuhan this week after the number of new coronavirus infections dropped. China on March 19 reported no new domestic cases of the coronavirus for the first time since it started recording them in January, but recorded a spike in infections from abroad. (Photo by STR / AFP) / China OUT
O primeiro dia sem nenhum novo contágio local de coronavírus na China

Segundo os dados, 41% dos entrevistados consideram o Governo Bolsonaro ruim ou péssimo. O número dos que acreditam que sua gestão é regular é de 33%, e os que a consideram ótima ou boa são 26%. Roman explica ainda que a crise também contaminou a percepção das pessoas sobre outras áreas do Governo. “A expectativa sobre a economia levou o maior tombo. Mas o otimismo em relação à criminalidade e à corrupção caiu também”, explica. 52,4% das pessoas acreditam que a criminalidade está aumentando (eram 43,8% em fevereiro); 46,6% creem que a corrupção também está mais elevada (antes eram 39,2%).

Os entrevistados também se mostram pessimistas em relação ao enfrentamento do coronavírus. Para 80%, o sistema de saúde brasileiro não está preparado para enfrentar a pandemia. E 73% acreditam que a situação da saúde pública criada pela doença está piorando, apesar de 96% afirmarem que não conhecem pessoas em seus círculos íntimos que tenham contraído o novo vírus. O Brasil já tem cinco mortes relacionadas com a doença confirmadas, quatro delas em São Paulo e uma no Rio de Janeiro. Já há 428 casos de infecção no país e outros 11.278 aguardam confirmação. Quase sete entre dez pessoas dizem ter medo de sair de casa e contrair a doença.

Diante da economia em queda e da crise social gerada pela doença, que devem trazer a necessidade de ações mais radicais para isolar o vírus, como quarentenas e fechamento de comércios, os brasileiros se mostram confusos em relação ao futuro dos empregos de suas famílias. Quando perguntados se acreditam que algum familiar poderia perder o emprego, 40% respondem não saber. Para 29%, a expectativa é que sim, já outros 31% dizem não achar provável. Grande parte dos entrevistados (65%) também diz apoiar a medida anunciada pelo Governo de distribuir quatro mensalidades do Bolsa Família para trabalhadores informais.

Impeachment

O mau humor do brasileiro contra o presidente já se mostrou visível nos últimos dois dias das janelas de várias cidades brasileiras, de onde partiram panelaços vigorosos de protesto a ele. Na esteira dos atos, dois pedidos de impeachment já foram apresentados na Câmara. O primeiro foi feito na terça-feira, pelo deputado distrital Lenadro Grass (Rede-DF). O segundo, na quarta, por um grupo de intelectuais e parlamentares do esquerdista PSOL. Os dois documentos sustentam que o presidente cometeu crime de responsabilidade ao convocar e participar de atos que pediam o fechamento do Congresso Nacional e do STF, no domingo.

Bolsonaro, que teve dois testes negativos para a nova Covid-19, esteve na frente do Palácio do Planalto para cumprimentar manifestantes que o apoiavam, no domingo do ato. Sem máscara e contrariando as recomendações do próprio Ministério da Saúde, abraçou e tirou selfies com pessoas, manipulando telefones celulares de terceiros. Após as críticas, chegou a chamar de “histeria” a reação das pessoas, mas após o primeiro dia de panelaço mudou de tom e compareceu pela primeira vez em uma coletiva de imprensa com ministros, todos de máscaras, para anunciar medidas de enfrentamento à doença.

Para o cientista político autor da pesquisa, os dados relacionados ao impeachment captados pelo levantamento mostram que a adesão inicial ocorrem entre os que já avaliavam mal o Governo. “Para esse grupo, essa crise parece ter sido a gota d'água. Mas também é possível que seja um pouco de comportamento estratégico. Que esses eleitores opostos a Bolsonaro sintam o enfraquecimento dele, então tenham decidido aderir ao impeachment”, ressalta.

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