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Com projeção de 460.000 infectados no Estado de São Paulo, Brasil endurece combate ao coronavírus

RJ e SP, com transmissão comunitária da Covid-19, suspendem aulas e proíbem eventos em massa. Ministério da Saúde projeta que, sem ações de distanciamento social, casos podem dobrar a cada três dias no país

Um passageiro com máscara para se proteger do coronavírus.
Um passageiro com máscara para se proteger do coronavírus.RAUL ARBOLEDA (AFP)
Beatriz Jucá

Embora num patamar menos enérgico que outros países, o Governo brasileiro subiu o tom no combate ao coronavírus nesta sexta-feira (13) e passou a recomendar que prefeitos e governadores adotem ações mais duras de distanciamento social para frear a incidência da covid-19. Sem essas ações, projetam as autoridades de saúde, o número de infectados pode dobrar a cada três dias no país ―aumentando rapidamente a incidência de casos que podem evoluir para quadros graves e sobrecarregar o sistema de saúde. Por enquanto, apenas 12 dos 98 casos oficialmente confirmados na esfera federal estão sendo tratados em hospitais e o SUS tem dado conta da demanda. No entanto, São Paulo e Rio de Janeiro já apresentam transmissão comunitária da doença, quando já não é possível identificar a origem da infecção e o contágio ganha velocidade. No Rio, as aulas já começam a ser suspensas na semana que vem. Em São Paulo, onde o Governo do Estado projeta que ao menos 1% da população (ou 460.000 pessoas) possa ser infectada nos próximos meses (mesmo que boa parte deles assintomática), a paralisação será gradual. Em ambos há proibição ou restrição de realização de eventos em massa.

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O Governo estima que, a cada três dias, o número de casos de infectados (há 98 casos confirmados oficialmente nesta sexta) pode dobrar sem a adoção dessas medidas, embora reconheça que cada município deve ter uma curva epidemiológica diferenciada de acordo com o início da transmissão local. Por isso, as ações de restrição mais pulverizadas pelas gestões locais. “O Brasil é muito grande e temos diferenças profundas. As medidas não farmacológicas são recomendações. Não estamos mais orientando, estamos recomendando. Ainda não chegamos à fase de determinação”, pondera o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira.

No âmbito federal, a ação mais enérgica foi proibir cruzeiros turísticos por tempo indeterminado. E estabelecer regras mais claras sobre qual é o momento adequado para que prefeitos e governadores decretem quarentena em locais específicos com o objetivo de retardar o pico de transmissão da doença. A orientação é de que os gestores locais publiquem atos para isolar áreas quando os leitos disponíveis para tratar casos graves da doença atinjam 80% de ocupação. A ideia é ganhar tempo para a recuperação do sistema de saúde num contexto em que pacientes graves demoram mais tempo nas UTIs. Nesta sexta-feira, houve uma mudança no status de enfrentamento da doença. Se antes o Governo apenas orientava esse tipo de ação mais restritiva, passou a recomendá-las e adiantou que a qualquer momento pode passar a determinar medidas obrigatórias, dependendo da evolução da pandemia. Nas duas maiores cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro, essa fase definitivamente já chegou.

O Governo de São Paulo, Estado que lidera o número de casos da doença, recomendou que eventos com mais de 500 pessoas sejam cancelados. Também decidiu suspender gradativamente as aulas na rede pública de ensino a partir da próxima segunda-feira. Durante a semana que vem, as aulas ainda ocorrerão, mas faltas não serão contabilizadas. A ideia é que as famílias tenham tempo de se planejar e evitar que crianças fiquem com idosos, público de maior risco de complicações em caso de infecção. Também não haverá férias para os profissionais de saúde, uma forma de manter o sistema de saúde operante com a maior capacidade possível. O Estado mais populoso do país, com 46 milhões de habitantes, usa a experiência epidemiológica de outros países com a Covid-19, além dos números de epidemias respiratórias com outros vírus, para traçar cenários. O mais conservador deles é de que entre 1% e 10% da população será infectada, com 20% deles precisando de assistência médica hospitalar. “Cenários são estimativas. Pode acontecer 1%, 2%, 5%, 10%. Tem um fato novo que nós precisamos aprender: como é que esse vírus vai se comportar em um país tropical no verão. Daqui a pouco, estaremos no outono. Eu não consigo dizer hoje se vai ser 1% ou 10%”, disse David Uip, que coordena o combate da doença no Estado, ao jornal O Estado de S. Paulo.

Já o Rio de Janeiro ―que tem um dos sistemas de saúde mais frágeis, segundo o ministro Luiz Henrique Mandetta― também decidiu suspender aulas tanto da rede pública quanto da rede privada. O prefeito Marcelo Crivella cancelou aulas na rede municipal por uma semana, enquanto o governador Wilson Witzel decidiu antecipar as férias escolares e suspender aulas em escolas estaduais e privadas por 15 dias. Também proibiu eventos em massa e deu uma declaração controversa de que, caso haja grande aglomeração nas praias, a Polícia Militar poderia agir. “Embora as praias sejam área federal, numa situação como essa a Polícia Militar, os bombeiros, a guarda municipal podem agir para evitar aglomerações”, afirmou. Witzel também suspendeu a visitação de presos.

Ações de distanciamento social também foram determinadas pelo Distrito Federal nos últimos dias, embora ainda não tenha casos de transmissão sustentada da doença. Em alguns Estados, Governos começam a limitar atividades em órgãos públicos e evitar viagem de servidores a trabalho. Ceará e Pernambuco decidiram, por exemplo, proibir que cruzeiros turísticos já em curso atraquem em seus territórios depois que o Governo Federal proibiu que novos cruzeiros (sejam nacionais ou internacionais) iniciem atividades no país. “Os cruzeiros turísticos historicamente são ambientes de confinamento. Muitos deles têm turistas internacionais”, afirma Wanderson de Oliveira, citando o caso dramático do Japão. No Brasil, há ao menos dois casos suspeitos de um cruzeiro em Pernambuco, cujos turistas estão isolados.

Há recomendações gerais do Ministério da Saúde sobre as medidas que devem ser implantadas para frear o coronavírus, mas cabe aos Estados e municípios decidirem suas próprias ações, conforme suas especificidades. Para áreas de transmissão sustentada, o Governo Federal recomenda ações que envolvem reduzir o fluxo urbano com horários alternativos para trabalhadores, estimular o home office e monitoramento diário de ocupação de leitos de UTI. Há uma preocupação maior sobre a evolução do coronavírus no país com a chegada do outono na próxima sexta-feira, quando as temperaturas caem em diversas regiões do país e também há um retorno de viroses sazonais que já circulavam anteriormente no Brasil. As mudanças climáticas devem interferir na propagação do vírus, já que favorecem um comportamento de maior aglomeração de pessoas.

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