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“Mamãe, quando vou voltar à escola? Ah, depois que esse coronavírus chato for embora”

Brasil, com 52 casos de coronavírus, olha com receio para a Itália, onde expatriados relatam rotina de confinamento em casa depois de decreto do Governo

Criança vestida de Super-Homem caminha em em Casalpusterlengo, uma das regiões isoladas na Itália.
Criança vestida de Super-Homem caminha em em Casalpusterlengo, uma das regiões isoladas na Itália.Marzio Toniolo (Reuters)

Há três semanas, Flávia Lourenção, brasileira de 38 anos que mora na Itália, escuta o filho de quatro anos fazer a mesma pergunta: “Mamãe, quando vou voltar à escola? Ah, depois que esse coronavírus chato for embora”, ele mesmo responde. Flávia e família moram em Saronno, a 20 quilômetros de Milão, na Lombardia, região isolada desde o domingo pelo aumento dos casos de Covid-19. Na segunda-feira, o Governo italiano isolou o resto do país, que já registrou com 10.149 casos. Ao outro lado do Atlântico, o Brasil olha com receio a situação italiana: o Ministério da Saúde informou nesta quarta-feira (11/03) que há 52 casos confirmados e 907 suspeitos —mais tarde, o Governo do Distrito Federal divulgou uma nova ocorrência, ainda não computada oficialmente no balanço nacional.

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O Brasil está preparado para lidar com uma epidemia de coronavírus como a da Itália?

O decreto apelidado de “Eu fico em casa” deve durar até o dia 3 de abril na Itália. Deslocamentos entre cidades só podem ser feitas em caso de trabalho —mas o Governo tem incentivado todas as empresas a instituírem o trabalho remoto— e emergência de saúde ou familiar.

Mesmo antes dessa medida drástica, a família de Flávia já tinha começado a mudar sua rotina. “Quando o número de casos começou a aumentar, restringimos as saídas de casa. Eu sempre fiz muito home office, mas meu marido, que é advogado e trabalha em Milão, teve que cancelar as idas ao escritório”, conta a arquiteta. Agora, a família desce do apartamento só uma vez por dia, para jogar bola com o filho pequeno ou dar uma volta se o tempo favorece. “É difícil conciliar trabalho em casa com uma criança do lado, o dia inteiro. E tem sido ainda mais complicado porque temos que evitar contato até mesmo com familiares próximos”, lamenta ela em conversa telefônica com o EL PAÍS.

Patrícia Vasconcelos, de 35 anos, que vive com o marido e o filho, de três anos, em Turim (norte da Itália) enfrenta uma situação similar. “Desde sábado, não saímos mais. E os rumores são de uma restrição ainda maior a partir da semana que vem”, conta a engenheira de produção. Ela lembra que, quando teve que viajar a Milão a trabalho, em pleno Carnaval, quando a Itália tinha 132 casos confirmados, o país já enfrentava problemas logísticos por conta do coronavírus. “As estações de trem já tinham muita confusão, com cancelamentos e atrasos. Acho que o Governo deveria ter restrito os deslocamentos internos naquele momento. Talvez a epidemia não tivesse tomado a proporção que tem hoje”, diz.

Tanto Patrícia quanto Flávia relatam o desespero inicial das populações de suas cidades quando o número de casos começou a aumentar: as pessoas começaram a estocar comida —e até a invadir supermercados para tal— com receio de uma escassez de mantimentos no país. “O Governo diz que vai garantir o abastecimento, mas às vezes me pergunto se deveríamos fazer isso [estoque de suprimentos] aqui em casa”, comenta Patrícia.

O que já não se encontra em lojas e farmácias são máscaras respiratórias e álcool em gel, contam as brasileiras. “Neste momento, está todo mundo preocupado. Sinto que as pessoas só se conscientizaram agora, depois do decreto que limita os deslocamentos. Antes disso, ainda escutávamos muitos jovens dizerem que não se preocupavam com o coronavírus. O problema é que eles podem contaminar outras pessoas, principalmente os mais velhos”, diz Flávia.

Essa também é uma preocupação do Governo brasileiro. De acordo com dados do Ministério da Saúde, a média de idade das pessoas que deram positivo para o Covid-19 no país é de 41 anos. “Por isso, o cuidado com as crianças é extremamente importante, porque, apesar de elas serem, geralmente, assintomáticas, funcionam como vetores, ou seja, transmitem o vírus para outras pessoas”, disse João Gabbardo dos Reis, secretário-executivo do Ministério da Saúde durante coletiva de imprensa nesta terça-feira.

Na Itália, enquanto Flávia ainda não encontra uma resposta para dar ao filho, conta com o apoio remoto dos educadores. “Professoras de muitas escolas têm mandado vídeos mandado diariamente vídeos para as crianças, recomendando uma leitura ou propondo alguma atividade. É uma iniciativa linda porque, assim, os pequenos não se sentem abandonados”.

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