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Da indústria ao mercado de turismo, disseminação do coronavírus já cobra fatura na economia brasileira

Sem receber componentes importados da China, fabricantes de eletrônicos reduzem produção no Brasil. Agências de viagem lidam com preocupação dos clientes e cancelamentos de viagens

Passageiros procedentes da Itália chegam com máscaras no aeroporto de Manises, em Valência, na Espanha.
Passageiros procedentes da Itália chegam com máscaras no aeroporto de Manises, em Valência, na Espanha.BIEL ALIÑO (EFE)

A disseminação de casos do novo coronavírus (Covid-19) pelo mundo, inclusive no Brasil, tem elevado a preocupação sobre os possíveis efeitos que a doença terá sobre a economia global. Já se fala em uma redução do crescimento do mundo neste ano, mas ainda é cedo para mensurar qual será o tamanho da queda. No caso do Brasil, que tem como maior parceiro comercial a China ― epicentro da doença ― os impactos não devem ser pequenos. Em 2019, quase 30% das exportações brasileiras tiveram como destino o país asiático, com destaque para a soja, o minério de ferro e o petróleo. Diante da paralisia da economia chinesa neste início de ano, o quadro deve, no entanto, mudar. Segundo José Augusto Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), ainda não há dados concretos para dar a dimensão do problema atual. “O que já sabemos é que, infelizmente, teremos queda na quantidade de exportação e nos preços das commodities, como soja e minério. Para o Brasil é uma perda dupla”, explica.

A equipe econômica do Governo de Jair Bolsonaro ainda avalia os efeitos do coronavírus para uma eventual revisão nas projeções de crescimento neste ano, segundo declaração do secretário do Tesouro, Mansueto Almeida. O secretário avalia que o risco é tanto no preço de commodities quanto no crescimento menor do mundo. “Se tivermos queda muito forte no crescimento mundial, afeta todo mundo e, claro, o Brasil também”, afirmou Mansueto. Por ora, a estimativa do Governo é que o PIB brasileiro crescerá 2,4% em 2020.

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Airport employees wear masks as a precaution against the spread of the new coronavirus COVID-19 as they work at the Sao Paulo International Airport in Sao Paulo, Brazil, Wednesday, Feb. 26, 2020. (AP Photo/Andre Penner)
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Fábricas reduzem produção

Além de ser um relevante comprador, a China é um grande fornecedor de insumos da indústria brasileira, especialmente a de eletroeletrônicos, que já sente os efeitos do surto da doença. Fabricantes de celulares, como a Motorola, por exemplo, tiveram que reduzir a produção de aparelhos devido a dificuldade de receber os componentes importados do país asiático. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Jaguariúna (SP), cerca de 80% dos funcionários da Flextronics, responsável pela produção de celulares da Motorola, receberam um aviso de férias coletivas de 15 dias que termina nesta sexta-feira. Sem perspectiva de mudanças no curto prazo, a Flextronics prevê outro aviso de férias coletivas para parte dos funcionários no período de 9 de março até o dia 28.

O cenário de falta de componentes eletrônicos para abastecer os estoques da indústria brasileira se agravou nas últimas semanas, conforme levantamento Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). De acordo com uma sondagem sobre o impacto do coronavírus Covid-19 na produção, 57% das 50 indústrias pesquisadas afirmaram enfrentar neste momento problemas no recebimento de materiais, componentes e insumos provenientes do gigante asiático. Há duas semanas, 52% disseram ter problemas.

As dificuldades do setor concentram-se principalmente entre os fabricantes de produtos de tecnologia da informação (celulares, computadores, entre outros). “O momento é delicado e devemos ter diversas paralisações daqui para frente”, explica Humberto Barbato, presidente executivo da entidade, em nota. A associação afirma que 4% das indústrias pesquisadas registram algum tipo de paralisação motivada pelos impactos do surto de Covid-19, e que 15% programam parar nos próximos dias, de forma parcial.

Outro setor que já sofre as consequências do avanço da doença pelo mundo é o do turismo. Agências de viagens reconhecem que a disseminação da doença para países europeus, como o caso da Itália, preocupa os brasileiros, que já se informam sobre a possibilidade de cancelar passagens já compradas para a Europa. Nesta quinta-feira, a Itália confirmou mais mortes pelo vírus, levando o número de vítimas fatais no país para 17. São 528 casos confirmados, o maior número no continente europeu.

O italiano Leonardo Bonella, proprietário da Genus Europa Tour, explica que a busca por viagens para a Itália, o décimo destino preferido dos brasileiros no ano passado, caiu muito depois do aumento de casos da doença no país. Bonella ainda não teve que cancelar nenhum pacote, mas já precisou acalmar alguns clientes sobre a situação da sua terra natal. "Acho que como sou italiano, eles ficam um pouco mais confiantes quando explico que apenas algumas regiões estão afetadas. É claro que é necessário precaução, mas algumas notícias são alarmistas", diz.

Com muitas ofertas de pacotes com destino para Ásia, Luiz Alvarenga, franqueado da Travelmate Intercâmbio e Turismo em Belo Horizonte, avalia que as decisões dos clientes têm variado. “Tenho uma cliente que fará um curso de três meses em Seúl, na Coreia do Sul, em abril, e ainda quer esperar o desenrolar do caso do coronavírus. Já um grupo que sairia em março para um tour na Ásia teve a viagem cancelada pela própria operadora. Mesmo que os locais não fossem epicentro da doença, não vale a pena ficar com medo de passear na rua”, explica.

Márcio Nakane, gerente da agência de turismo Flaptur, reconhece que a preocupação tem rondado os clientes, mas que os cancelamentos estão concentrados em viagens corporativas. “Os próprios eventos e cursos estão sendo cancelados”, diz. O Procon-SP orienta os consumidores que compraram passagens para países em que casos da doença foram comprovados, a procurarem o órgão se optarem por cancelar a viagem em razão da preocupação com o coronavírus. “Isso porque, nessa hipótese específica, que não tem previsão legal, faz-se necessário negociar com a empresa que não pode se recusar a oferecer alternativas ao consumidor”, explica a nota do Procon-SP.


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