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Após vídeo de brasileiros pedindo ajuda para voltar da China, Governo anuncia plano para retirá-los

Grupo que vive em Wuhan, epicentro do coronavírus, pediu em carta e vídeo ao presidente Bolsonaro e ao ministro Ernesto Araújo que seguissem exemplo de outros países. Defesa prepara plano de voo

Carla Jiménez
Reprodução de vídeo em que brasileiros pedem ao Governo Jair Bolsonaro que facilite sua retirada da área do coronavírus, na China.
Reprodução de vídeo em que brasileiros pedem ao Governo Jair Bolsonaro que facilite sua retirada da área do coronavírus, na China.REPRODUÇÃO YOUTUBE

Depois de mostrar resistência à operação de retirada dos brasileiros que vivem em Wuhan, na China, o Governo do presidente Jair Bolsonaro cedeu ao apelo dos expatriados e anunciou que vai adotar as “medidas necessárias para trazer de volta ao Brasil os cidadãos brasileiros que se encontram na província de Hubei, especificamente na cidade de Wuhan, na China, região de origem da epidemia do coronavírus”, segundo nota divulgada pelo Planalto neste domingo. “Assim que chegarem ao Brasil, eles deverão ser submetidos a quarentena, de acordo com procedimentos internacionais, sob a orientação do Ministério da Saúde”, diz a nota. “O Ministério da Defesa, por meio da Força Aérea Brasileira, trabalha na elaboração do plano de voo da aeronave, possivelmente fretada, que será enviada à China”, segue o comunicado.

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A decisão foi tomada após brasileiros que trabalham e estudam na China, incluindo Wuhan, terem gravado um vídeo lendo uma carta, endereçada a Bolsonaro e ao ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, solicitando que sejam trazidos de volta ao país. Os brasileiros estão obedecendo a quarentena solicitada pelo governo chinês, mas querem cumprir esse procedimento no Brasil. Com aeroportos fechados na China, eles não têm como retornar. Por isso, apelaram ao Governo para que envie uma aeronave que possa buscá-los. “Conforme noticiado na imprensa, cidadão dos Estados Unidos, Itália, França, Reino Unido e Japão já foram retirados de Wuhan por via aérea e já chegaram a seus países de origem”, diz um trecho da carta lida por um dos expatriados no vídeo. “Isso demonstra que o governo chinês está aberto a ações desse tipo, e que não, portanto, nenhum impedimento oficial em nível local ou nacional à repatriação dos brasileiros”, segue o texto (leia na íntegra aqui).

Os detalhes da operação de resgate dos brasileiros está ainda em planejamento. “A Embaixada do Brasil em Pequim entrará em contato para prestar informações e organizar os procedimentos cabíveis”, informou o Planalto.

Ao longo da semana, o presidente Bolsonaro mostrou-se refratário ao assunto, primeiro alegando que trazer brasileiros que estão na cidade epicentro do coronavírus de volta ao país seria um risco para o restante da população brasileira. Depois, disse que era uma viagem cara que dependia de lei específica, e de aprovação do Congresso. Neste domingo, o presidente do Senado, David Alcolumbre, negou que houvesse necessidade de uma lei especial para repatriar os brasileiros que se encontram na China. “Se o Governo optar por fazer isso, pode buscar esses brasileiros, fretar uma aeronave. Não é um custo tão alto para o Brasil e não há qualquer impasse sobre isso”, afirmou, segundo o jornal O Globo. Alcolumbre disse que os parlamentares se empenhariam em ajudar o presidente a tomar medidas de urgência. Após o anúncio do Governo de que trará os brasileiros de volta, Alcolumbre foi ao twitter elogiar o Governo. “Parabenizo a decisão do Executivo de repatriar nossa gente. O Congresso está pronto para ajudar no que for necessário”.

A campanha informal dos expatriados nas redes começou na semana que passou. Heros Martinez, um dos jovens que se encontram em Wuhan, postou no último dia 30 uma mensagem contando que entre eles há estudantes, trabalhadores e famílias com crianças. “Como portadores de passaporte brasileiro, é nosso direito nato pode estar no Brasil”, afirmou no Twitter. “Estamos lutando para que tenhamos a opção de escolher voltar ou não – e de forma responsável — tal como outras embaixadas e países têm feito com seus cidadãos”, completa ele, que defendia o direito de passar a quarentena no Brasil.

Segundo a engenheira química Ariane Castanheira, ouvida pelo canal Record News, ao todo são entre 30 e 35 brasileiros em Wuhan e nenhum apresentou sintomas da doença que já matou mais de 300 pessoas. “A única coisa que a gente quer é ficar próximo à nossa família no Brasil”, disse ela, que vive em Wuhan e há não saía de casa há 12 dias quando deu a entrevista no dia 31, por temor de ser contagiada. Ariane estima em 80 o número de brasileiros residentes na cidade, mas somente 32 estão apelando para voltar.

Casos suspeitos no Brasil

Enquanto o presidente mostrava temor de contágio da doença dos expatriados, o Ministério da Saúde seguiu uma linha diferente para acalmar a população no Brasil, atuando para evitar o pânico sobre o assunto que suscitou centenas de fake news. O país teve 16 casos suspeitos, dos quais dez já foram descartados. Os outros seis continuam em observação, mas nenhuma contaminação confirmada por enquanto. O país é classificado por risco de nível 2, ou seja, iminente. Em entrevista no último dia 31, o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, lembrou que o Brasil já viveu outros períodos de surto de doença no mundo como o SARS e o H1N1 sem que os vírus ganhassem dimensão maior no país. “Sabemos que este coronavírus tem um grau de transmissibilidade maior mas de letalidade menor”, disse Mandetta. “Mas não sabemos como ele vai se comportar dentro do nosso bioma”, afirmou.

O Ministério criou uma página com informações em tempo real sobre o coronavírus no Brasil e no mundo. Neste domingo, Mandetta contou que um grupo executivo interministerial de emergência foi criado para coordenar respostas para o coronavírus.


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