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Sucesso da greve francesa contra a reforma previdenciária coloca Macron sob pressão

Presidente francês busca respostas para enfrentar a maior mobilização social após os 'coletes amarelos'

Marc Bassets
Manifestantes participam de um passeata em Nantes.
Manifestantes participam de um passeata em Nantes.EFE
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França, país de protestos de rua e revoltas espontâneas, já levava anos sem ver uma mobilização social como a que nesta quinta-feira ocupou as ruas das principais cidades do país. Centenas de milhares de franceses se manifestaram contra a reforma da Previdência, enquanto setores estratégicos, como os transportes, entraram em uma greve que se prolongará nos próximos dias. O presidente, Emmanuel Macron, atingido pela revolta dos coletes amarelos há um ano, busca uma resposta à crise sem renunciar ao projeto central de sua presidência.

Ninguém conhece os detalhes da reforma previdenciária na França, mas as linhas mestras, já reveladas, bastaram para desencadear uma das maiores mobilizações dos últimos anos. A greve maciça no transporte ferroviário marcou na manhã desta quinta-feira o início da primeira jornada de protestos. O Governo francês dá por feito que a greve se prolongará por vários dias. As paralisações, que afetam outros setores, como a educação e a aviação, conturbaram o cotidiano de Paris e das principais cidades. Por enquanto, porém, não conseguiram parar o país.

Estima-se que 90% das ferrovias de longa distância deixaram de funcionar em toda a França, assim como 80% dos trens de subúrbio. Na capital, 11 linhas de metrô estão fechadas. Marselha, Lille, Bordéus, Nice e Estrasburgo tiveram o transporte público reduzido, o que obrigou quem foi trabalhar a se deslocar a pé ou por meios alternativos, como a bicicleta, o patinete ou, para distâncias mais longas, os automóveis compartilhados e os ônibus. Os franceses demonstraram ser previdentes. Isto deu lugar a curiosas imagens de trens que funcionavam, mas estavam vazios e, nos acessos a Paris, provocou uma redução do tráfico de automóveis.

O transporte é a espinha dorsal de uma greve que, embora longe de ser geral, tem um impacto generalizado: sem trens nem metrôs, a atividade das grandes cidades forçosamente se vê alterada. Mas não é o único setor mobilizado. Em toda a França, 55% dos professores de escolas primárias e pré-escolares pretendiam aderir à greve, chegando a 78% em Paris, segundo dados do Ministério da Educação. Previa-se a anulação de 20% de voos. A greve na imprensa deixou os quiosques sem os jornais do dia, e a Torre Eiffel fechou.

Havia 245 manifestações ou concentrações convocadas em todo o país. A de Paris estava marcada para o começo desta tarde na Estação do Norte e terminaria na praça da Nação. Ao contrário dos protestos descontrolados dos coletes amarelos, o serviço da ordem sindical se comprometeu colaborar com o seu desenvolvimento pacífico. Mas o ministro do Interior, Christophe Castaner, advertiu para a possível presença de coletes amarelos violentos e de black blocks encapuzados. O objetivo dos responsáveis pela convocação dos protestos é fazer uma demonstração de força na rua, embora o bloqueio nos transportes possa dificultar uma participação maciça.

A mobilização desta quinta-feira, que não conta com o apoio da principal central sindical, a CFDT, é só o começo. O Governo espera que a greve nos transportes públicos se prolongue na sexta-feira e possivelmente no fim de semana. A chave será na segunda-feira. Se a greve no metrô de Paris, nos trens de subúrbio e nos trens de longa distância continuar até lá, será um sinal de que a disputa é séria. A mobilização de novembro e dezembro de 1995 durou três semanas e acabou forçando o então primeiro-ministro Alain Juppé a retirar sua reforma previdenciária, semelhante à do presidente Emmanuel Macron e do seu primeiro-ministro, Édouard Philippe.

O núcleo da reforma é o fim dos 42 sistemas de pensões atuais, em função da profissão, e sua fusão num só, que confira os mesmos direitos a todos os trabalhadores. Em declarações à rede RMC, Philippe Martinez, líder do sindicato CGT, denunciou que a reforma significará trabalhar mais tempo e ganhar menos, e pediu sua retirada. Macron quis preparar a reforma dialogando com os agentes sociais, mas, ao não especificar o conteúdo, alimentou a confusão e o nervosismo entre os possíveis afetados. As paralisações poderiam se prolongar até 12 de dezembro, possível data em que Philippe detalhará as propostas.

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