_
_
_
_
_

ONU apresenta alertas de cientistas para exortar os países a agir sobre o clima

António Guterres faz um chamado aos Governos para que acelerem os cortes de emissões de gases do efeito estufa

Manuel Planelles
A presidenta da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, no COP25.
A presidenta da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, no COP25.ÁLVARO GARCÍA
Mais informações
“A única coisa que não podemos fazer é nos dar por vencidos na questão climática”
Aumento do nível do mar ameaçará 300 milhões de pessoas em 2050

“Ciência, ciência, ciência", respondeu Nancy Pelosi, veterana democrata e presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, quando lhe perguntaram sobre os negacionistas nesta segunda-feira à tarde. "Só um punhado de fanáticos ainda nega as evidências das mudanças climáticas", dissera horas antes Pedro Sánchez, presidente interino do Governo (primeiro-ministro) da Espanha, durante a inauguração da Cúpula do Clima, que Madri acolhe até 13 de dezembro, reunião conhecida como COP25 e organizada sob a égide das Nações Unidas.

Ciência contra os negacionistas que ainda restam, concordaram as autoridades durante a abertura deste evento internacional, da qual participaram 50 chefes de Estado. Mas ciência também para que os países que afirmam estar convencidos assumam que o tempo está se esgotando e que precisam ser feitas mudanças drásticas para enfrentar a crise climática e evitar os piores impactos de um aquecimento que está se acelerando.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, recorreu à ciência para estimular os representantes dos países que vieram para Madri: "Queremos ser lembrados como a geração que agiu como um avestruz?", perguntou ele aos representantes dos 200 Estados presentes na COP25, depois de repassar os alertas lançados de forma cada vez mais contundente pelo mundo científico.

Guterres admitiu a "frustração" pelo ritmo lento dos avanços na luta contra as mudanças climáticas. Acima de tudo, lembrou, porque "já existem as ferramentas tecnológicas" para transformar a economia mundial e fazer com que as nações se afastem dos combustíveis fósseis, principais responsáveis pelos gases do efeito estufa, que superaquecem o planeta.

Os negociadores dos 200 países representados em Madri discutirão por duas semanas como concluir o desenvolvimento do Acordo de Paris. Este acordo estabelece que todos os signatários devem apresentar planos de cortes de emissões suficientes para que a elevação de temperatura causada pelas mudanças climáticas, que não pode mais ser revertida, permaneça dentro de uma zona de segurança: em um aumento médio de 1,5 e dois graus em relação aos níveis pré-industriais. No momento, já estamos em um grau de aumento e, com os planos de reduzir as emissões existentes agora, os três graus serão amplamente excedidos.

Portanto, o mundo não está a caminho de cumprir as metas de Paris e evitar os efeitos mais prejudiciais do aquecimento. As emissões deveriam atingir o pico em 2020 e começar a cair rapidamente a partir desse momento, alertou Hoesung Lee, presidente do IPCC, o painel internacional de especialistas que assessoram a ONU em questões de mudanças climáticas. No entanto, a previsão é que essas emissões continuem a crescer pelo menos até 2030.

"Estamos em uma situação de crise real", disse Lee quando analisou os três relatórios especiais que o IPCC apresentou no último ano. "Os impactos são muito mais graves do que pensávamos", insistiu. O mais positivo é que essa mesma ciência põe sobre a mesa o que deve ser feito. "Precisamos de uma mudança urgente", resumiu Lee.

Guterres deu um passo adiante e especificou algumas das medidas necessárias para alcançar esse objetivo: eliminar os subsídios bilionários que os Governos dão aos combustíveis fósseis, fixar um preço às emissões de dióxido de carbono e evitar que sejam construídas usinas que usam carvão a partir de 2020 e que os países se comprometam a alcançar a neutralidade climática até 2050. Este último ponto pressupõe que, em meados do século, os gases emitidos sejam os mesmos que os absorvidos pela natureza (por exemplo, por meio das florestas).

Guterres pôs o foco nos países do G20, que acumulam mais de 75% de todas as emissões globais. A maioria de seus membros ainda não assumiu a meta de neutralidade climática até 2050. Nem mesmo a União Europeia, que historicamente lidera a batalha climática, conseguiu fixar esse horizonte.

Sánchez pediu que a Europa — que liderou a revolução dos combustíveis fósseis — seja agora a líder dessa transição. E a prova de fogo é o pressuposto da neutralidade climática até 2050. Em duas das três principais instituições europeias há um apoio decidido a esse objetivo. O Parlamento Europeu já o pediu em várias ocasiões — a última vez, na semana passada — e a Comissão Europeia também o defende. De fato, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou em Madri que em março vai propor “a primeira lei europeia sobre o clima”, para tornar “irreversível a transição para a neutralidade climática”. O problema é que essa norma não será bem-sucedida se a terceira instituição, em desacordo — o Conselho Europeu, ou seja, os Vinte e Oito —, não aceitar a meta de neutralidade de carbono para 2050.

Em junho, isso fracassou pela oposição de três países: Polônia, República Tcheca e Hungria. Nos dias 12 e 13 de dezembro, justo nos dias finais da COP25, os 28 se reunirão novamente para tentar estabelecer essa meta a longo prazo e voltar a liderar uma luta climática em que os outros grandes emissores — EUA, China, Índia e Japão — estão ausentes ou arrastando os pés. "Nosso objetivo é ser o primeiro continente neutro em termos de clima até 2050", disse Von der Leyen, cujo primeiro ato oficial foi precisamente sua participação na COP25.

Pelosi: "EUA segue dentro"

Nancy Pelosi, presidenta da Câmara dos Representantes dos EUA, foi uma das autoridades que participaram da Cúpula do Clima de Madri. A veterana democrata fez parte de um grupo de 15 congressistas que compareceram à COP25 para defender as ações que estão sendo realizadas em seu país, apesar do presidente Donald Trump, que iniciou os procedimentos para remover os EUA do Acordo de Paris. "Viemos aqui para dizer que ainda estamos dentro", disse Pelosi nesta segunda-feira em várias ocasiões, em referência ao pacto climático e aos planos de luta contra o aquecimento adotados em cidades e Estados dos EUA, à margem de Trump. Os congressistas e senadores que a acompanharam têm insistido que no Congresso também estão legislando para descarbonizar a economia dos EUA. Pelosi defendeu a obrigação "moral" de enfrentar as mudanças climáticas e aplicar cortes de emissões "muito rápidos e profundos".

Vox nega os fatos e o PP se dá medalhas

Contra todas as evidências científicas, o porta-voz do partido Vox na Câmara dos Deputados da Espanha, Iván Espinosa de los Monteros, foi à inauguração da Cúpula do Clima nesta segunda-feira para expressar sua rejeição ao que chamou de "alarmismo exagerado e infundado" sobre as mudanças climáticas. "É muito perigoso para o emprego na Espanha que haja um excesso de alarmismo, atribuindo ao homem coisas que não está necessariamente comprovado que produzam qualquer tipo de mudança climática", sentenciou perante a imprensa. Enquanto isso, José Luis Martínez-Almeida (PP), que nesta segunda-feira ao chegar à Prefeitura de Madri declarou moratória das multas aos veículos nas áreas de acesso restringido no centro da cidade, atribuiu a si o êxito do evento: "Está funcionando, como garante esta equipe de Governo, ao contrário do que faziam antes". O prefeito se declarou muito satisfeito por Madri ter tido a capacidade de abrigar a cúpula que iria ser realizada no Chile.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_