_
_
_
_
_

Presença de gases de efeito estufa na atmosfera bate novo recorde

Organização Meteorológica Mundial alerta que a concentração de gás carbônico é a mais alta em três milhões de anos

Manuel Planelles
Central elétrica a carvão de Laziska, perto de Katowice (Polônia)
Central elétrica a carvão de Laziska, perto de Katowice (Polônia)Monika Skolimowska (Getty Images)

A humanidade acrescenta mais uma página à crônica do desastre: a concentração na atmosfera dos principais gases de efeito estufa –dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O)– bateu um novo recorde em 2018. A Organização Meteorológica Mundial (OMM) lembrou nesta segunda-feira que, no caso do CO2, o principal desses gases responsáveis pelo aquecimento global, devemos voltar pelo menos três milhões de anos para encontrar uma concentração tão grande na atmosfera. E naquela época –quando o ser humano nem sequer existia– a temperatura era entre dois e três graus mais alta do que agora e o nível do mar entre 10 e 20 metros mais elevado, alerta a organização. A OMM, uma agência das Nações Unidas, apresentou nesta segunda-feira seu boletim anual sobre a concentração de gases de efeito estufa, o 15º que produz.

Mais informações
Aumento do nível do mar ameaçará 300 milhões de pessoas em 2050
Encontro global no coração da Amazônia tenta adiar o fim do mundo

Esses gases sempre estiveram presentes na atmosfera da Terra e impedem que parte do calor liberado pelo planeta depois de aquecido pelo Sol se perda no espaço. Graças a eles, o planeta tem uma temperatura agradável que o torna habitável para o homem. Mas o equilíbrio que existiu durante milhares de anos se rompeu, e a OMM tem claro o responsável: “Existem múltiplos indícios de que o aumento dos níveis atmosféricos de CO2 está relacionado à queima de combustíveis fósseis”, ou seja, com o uso de carvão, gás natural e petróleo pelo ser humano.

A utilização desses combustíveis fósseis disparou a partir da Revolução Industrial e com isso as emissões de gases de efeito estufa. No caso do CO2, a concentração atingiu 407,8 partes por milhão (ppm) em 2018, quase 47% a mais do que o nível pré-industrial (em 1750, quando a concentração era de 278 ppm). O metano atmosférico atingiu 1.869 partes por bilhão (ppb) em 2018, quase 159% a mais do que o nível pré-industrial. E no caso do óxido nitroso, sua concentração atmosférica foi de 331,1 ppb, 23% a mais do que em 1750. Estes são os resultados de mais de 100 estações de medição espalhadas pelo planeta que servem para elaborar o boletim da organização. A concentração dos três gases na atmosfera está acelerando, uma vez que o crescimento anual registrado em 2018 ultrapassa a média da década anterior.

A Organização Meteorológica Mundial enfatizou que esse crescimento contínuo da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera implicará que as gerações futuras “enfrentarão impactos cada vez mais graves da mudança climática”, como o aumento das temperaturas, eventos extremos, estresse hídrico, aumento do nível do mar e perda de ecossistemas marinhos e terrestres. Paralelamente a esse aumento dos gases na atmosfera, o planeta acumula recordes de temperatura. O ano passado, 2018, foi o quarto mais quente registrado desde que há medições confiáveis, que começaram em 1850. Os outros três são 2015, 2016 e 2017, e este ano de 2019, que está prestes a terminar, também estará entre os mais quentes.

Enquanto isso, as projeções de evolução das emissões de gases de efeito estufa não são boas: “Não há sinais de desaceleração e muito menos de diminuição da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, apesar de todos os compromissos assumidos com o Acordo de Paris sobre a mudança climática”, afirmou em um comunicado o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas. De fato, os planos que os países signatários desse pacto têm sobre a mesa apontam para que o teto de emissões no mundo não será atingido até 2030. É por isso que Taalas, como fazem habitualmente as autoridades da ONU, pediu que aumente a “ambição” dos Estados.

Cúpula do clima de Madri

O Acordo de Paris estabelece que, não sendo suficientes os planos de redução das emissões dos países para impedir estas continuem crescendo, os Estados devem revê-los para cima. A primeira revisão deve ser realizada durante o próximo ano. E na cúpula do clima que acontecerá em Madri dentro de uma semana, conhecida como COP25, espera-se que mais países se comprometam a fazê-lo.

No momento, o Chile –que tem a presidência dessa COP25, apesar de ter sido forçado a renunciar a sediá-la em Santiago em razão dos protestos sociais– conseguiu que 68 países (entre eles a Espanha) se comprometessem a revisar para cima seus planos de redução. A ONU espera que mais Estados se juntem à iniciativa durante a cúpula de Madri.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_