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Alemanha escapa por pouco da recessão, com um aumento do PIB no terceiro trimestre

Alta do consumo interno neutraliza o impacto das tensões comerciais e do Brexit

Fábrica de carros em Wolfsburg (Alemanha), em março de 2019.
Fábrica de carros em Wolfsburg (Alemanha), em março de 2019.Sean Gallup (Getty)

As temidas previsões não se cumpriram. A Alemanha, locomotiva europeia, escapou da recessão técnica por pouco, como indicam os dados publicados nesta quinta-feira. O PIB alemão cresceu 0,1% no terceiro trimestre do ano, informou o Escritório Federal de Estatísticas. O PIB germânico caiu 0,2% no segundo trimestre, de acordo com a cifra revisada, abrindo as portas para a recessão, que é definida como dois trimestres consecutivos de retração econômica.

O consumo interno impulsionou o mínimo crescimento registrado, segundo os dados preliminares. As exportações cresceram, ao passo que as importações se mantiveram estáveis em relação ao trimestre anterior. O setor da construção também registrou aumento.

As cifras desta quinta-feira reduzem a pressão sobre o Governo da chanceler (primeira-ministra) Angela Merkel, que tanto recebe pedidos, de fora e de dentro da Alemanha, para suavizar o rigor orçamentário e aprovar planos de estímulo fiscal. O ministro da Economia alemão, Peter Altmaier, advertiu que, embora o país tenha evitado a recessão, o crescimento continua fraco. “Não temos uma recessão técnica, mas as cifras de crescimento ainda são muito baixas”, disse Altmaier à rede pública ARD.

O esfriamento alemão ocorre após uma década de crescimento praticamente ininterrupto na maior potência europeia. As turbulências globais reduziram a marcha de uma economia centrada na exportação e, portanto, muito vulnerável às perturbações além de suas fronteiras. O Brexit [saída do Reino Unido da União Europeia], a guerra comercial, o esfriamento chinês e a transformação do setor automotivo são algumas das causas da desaceleração alemã. O grupo de economistas que assessora o Governo indicou em seu relatório anual, na semana passada, que o período de crescimento havia chegado ao fim, mas descartou uma recessão “ampla e profunda”, devido em parte à fortaleza da economia nacional.

“Apesar do mínimo incremento do PIB no terceiro trimestre, a economia alemã em seu conjunto ainda não apresenta sintomas de uma recuperação significativa”, afirmou Stefan Kooths, chefe do departamento de previsões do Instituto Kiel para a Economia Mundial (IfW).

Stefan Schneider, economista-chefe para a Alemanha do Deutsche Bank, afirma que “a queda de 0,2% no segundo trimestre é maior que a inicialmente prevista [0,1%]” e adverte que, apesar de evitar a recessão técnica, “amplos setores da indústria exportadora estão em recessão”. Schneider também destacou que há melhores expectativas para as empresas em relação aos pedidos do exterior, que estão em fase de estabilização. Mas alertou que “as incertezas na política comercial exercem um impacto no investimento” e que “muito depende de como evoluirão os conflitos comerciais globais”.

O Instituto Ifo de Pesquisas Econômicas de Munique considera que a economia alemã se estabilizou no terceiro trimestre. “A indústria foi o principal fator. Embora ainda esteja em recessão, o ritmo da queda da produção diminuiu”, informou Timo Wollmershäuser, chefe de previsões econômicas da entidade.

Wollmershäuser ressaltou a alta do consumo, graças a uma melhora registrada nos lares alemães. “Houve um considerável aumento dos salários, das aposentadorias e dos subsídios por filho em meados do ano. Além disso, as taxas de juros das hipotecas caíram e o crédito para a moradia subiram”, completou Wollmershäuser.

Superávit comercial

Em setembro, a produção industrial alemã registrou uma queda mensal de 0,6%, segundo cifras do Ministério da Economia publicadas na semana passada. Outros indicadores divulgados recentemente são mais positivos, como o das exportações alemãs, que cresceram 1,5% em setembro em comparação com o mesmo mês do ano anterior, segundo o Escritório Federal de Estatísticas. É o maior aumento em quase dois anos. A Alemanha voltou a registrar um superávit comercial de 19,2 bilhões de euros (88,3 bilhões de reais).

As compras de produtos industriais também cresceram em setembro mais do que o previsto (1,3%) por causa do forte consumo interno. O aumento das vendas ao exterior foi registrado sobretudo pelas demandas de outros países europeus e dos Estados Unidos. As vendas à China, porém, caíram. A pressão externa sobre as exportações contrasta com uma economia nacional em que o consumo interno continua forte, num país que registra emprego recorde.

Assim como as exportações, o futuro do setor automotivo é outra das fontes de incerteza da economia alemã. Os problemas econômicos no exterior coincidem com uma fase de reestruturação do setor automobilístico, que precisou se adaptar à nova regulação de emissões e enfrenta, sobretudo, mudanças radicais rumo à eletromobilidade.

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