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México oferece asilo a Evo Morales enquanto Governo Bolsonaro critica boliviano

Crise em país que tem estratégico acordo de gás com o Brasil é desafio para Itamaraty. Lula se alia a Fernández para condenar "golpe de Estado"

Manifestantes comemoram a queda de Morales em Santa Cruz, na Bolívia.
Manifestantes comemoram a queda de Morales em Santa Cruz, na Bolívia.DANIEL WALKER (AFP)
Cidade do México / São Paulo -

O México se ofereceu para dar asilo político a Evo Morales, no maior movimento do presidente esquerdista Andrés Manuel López Obrador em sua política para a América Latina desde que chegou ao poder há quase um ano. Após a renúncia do líder boliviano, logo após o pronunciamento do chefe do Exército, o ministro das Relações Exteriores do México, Marcelo Ebrard, criticou o que considerou um golpe de estado e informou que pelo menos 20 funcionários relacionados a Morales foram recebidos na Embaixada do México em La Paz.

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No Twitter, o responsável pela política externa do México pediu que a "solidariedade internacional" respeitasse a integridade e a "inviolabilidade" da embaixada mexicana em La Paz, que serve de refúgio para ex-funcionários. Horas antes, Ebrard havia denunciado a manobra contra Morales: “Na Bolívia há uma operação militar em curso, nós a rejeitamos. É semelhante aos eventos trágicos que sangraram nossa América Latina no século passado. O México manterá sua posição de respeito à democracia e às instituições. Golpe não".

López Obrador prometeu falar sobre o tema nesta segunda-feira com a imprensa, em sua aparição matinal. Apesar dos resultados controversos das eleições bolivianas, o México foi um dos países que reconheceu a vitória de Evo Morales nas eleições de outubro.

Peso do Brasil e ironia de Bolsonaro

O Governo Jair Bolsonaro foi crítico com Evo Morales e, ao longo da noite, reforçou as declarações para rejeitar a ideia de que o esquerdista havia sido vítima de um golpe de Estado. "A palavra golpe é usada quando a esquerda perde", disse o presidente ao jornal O Globo. Antes, Bolsonaro havia usado o Twitter para ironizar: "Grande dia!". Também criticou as irregularidades apontadas no pleito que oficialmente reelegeu Morales, em outubro. O chanceler Ernesto Araújo falou em "maciças fraudes" e também disse apoiar uma "transição democrática" na Bolívia.

A crise na país andino, que tem no Brasil seu maior parceiro comercial, é um desafio para o Itamaraty de Bolsonaro. Historicamente, a diplomacia brasileira acompanha de perto as instabilidades do vizinho. Para além da distância ideológica, há uma intrincada relação que vai desde um contrato de importação de gás pelo Brasil, que está em fase de negociação, até o impacto na turbulência na extensa comunidade brasileira ne Bolívia, em especial os associados à produção de soja.

A renúncia de Evo Morales sacode uma região em convulsão. A renúncia do presidente boliviano chega em um cenário de polarização regional composto por elementos como a libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sexta-feira; os protestos no Chile, que completaram três semanas, e a vitória de Alberto Fernández na Argentina. 

Lula foi um dos primeiros em reagir à renúncia de Morales. "Acabo de me inteirar que teve um golpe de Estado em Bolívia e que o colega Evo foi obrigado a renunciar", publicou em sua conta de Twitter. "É lamentável que América Latina tenha uma elite econômica que não saiba conviver em democracia e com a inclusão social dos mais pobres", acrescentou. Nessa mesma linha, a ex-presidenta argentina Cristina Kirchner assinalou em suas redes sociais que "o da Bolívia é golpe de Estado".

Nicolás Maduro somou-se à rejeição categórica ao "golpe de Estado" contra Morales, assim como o Governo cubano.

O recém-criado Grupo de Puebla, que tem a pretensão de ser o novo eixo progressista na região, disse em comunicado: "A Constituição e o Estado de direito foram violados interrompendo um mandato constitucional". Alberto Fernández, presidente eleito da Argentina e líder do grupo, sentenciou. "A Bolívia deve voltar o quanto antes ao caminho da democracia através do voto popular".

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