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Anistia Internacional cobra segurança de porteiro que implicou Bolsonaro no caso Marielle

Funcionário de condomínio onde fica casa do presidente teve identidade, imagem e residência reveladas em reportagem

Entrada do condomínio onde Jair Bolsonaro tem casa, no Rio de Janeiro, em outubro de 2018.
Entrada do condomínio onde Jair Bolsonaro tem casa, no Rio de Janeiro, em outubro de 2018.TÂNIA RÊGO (AGÊNCIA BRASIL)
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A Anistia Internacional cobrou nesta sexta-feira que o Estado brasileiro ofereça ao porteiro Alberto Mateus que ele ingresse no Programa de Proteção à Testemunha e que garanta "a proteção da vida e da integridade física" dele. O porteiro prestou um depoimento à Polícia Civil em que afirmou que um dos réus pelo assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) se apresentou no condomínio Vivendas da Barra, no dia do crime, e disse que iria visitar a residência do presidente Jair Bolsonaro. O porteiro teve sua identidade, sua imagem e seu local de residência revelados em reportagem de capa da revista VEJA nesta sexta-feira.

“Solicitamos que o Estado garanta a proteção desta testemunha, por meio da oferta de sua inclusão no Programa de Proteção à Testemunha, uma vez que teve informações pessoais reveladas e está relacionado a um caso extremamente delicado, em que os acusados de executar Marielle Franco são também acusados de serem integrantes de grupos criminosos. Seu direito à vida precisa ser preservado”, afirmou Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil, em nota.

Além de estampar uma foto da fachada da casa do porteiro, a revista VEJA informou que ele mora na comunidade de Gardênia Azul, controlada por milicianos, na Zona Oeste do Rio. A reportagem também revelou que o porteiro Alberto, que prestou depoimento, não é o mesmo funcionário que supostamente falou com o ex-policial Ronnie Lessa, acusado de ter efetuado os disparos que mataram Marielle, em áudio mencionado pelo Ministério Público como prova de que Alberto mentiu. Como o El País tinha revelado, o condomínio possui dois porteiros de serviço por turno. Na planilha de controle de visitantes do dia do assassinato, obtida pelo EL PAÍS, há assinaturas de Alberto, Tiago e outros dois porteiros, o que mostra que tanto Alberto quanto Tiago estavam trabalhando naquele dia em que se apresentou no condomínio Élcio Queiroz, o ex-policial acusado de dirigir o carro e auxiliar Lessa no crime. Segundo o Ministério Público

Promotoras do Ministério Público do estado do Rio de Janeiro tinham divulgado precocemente que o porteiro Alberto mentiu ao afirmar que Queiroz anunciou visita à casa de Bolsonaro, mas sabe-se agora que o áudio que elas usaram para desmentir Alberto era, na verdade, uma gravação com a voz do porteiro Tiago, em que ele fala com Lessa e anuncia a chegada de Queiroz. Além disso, a perícia desse áudio foi incompleta e só analisou arquivos enviados pelo síndico do condomínio em um CD. Só nesta quinta-feira a Polícia Civil apreendeu o computador do condomínio para analisar se foram editados ou apagados arquivos de áudio sobre o acesso de visitantes ao condomínio, para tentar esclarecer se Queiroz anunciou na portaria que visitaria Bolsonaro, como alegou o porteiro Alberto. As promotoras não esclareceram ainda se Alberto poderia ter sido ameaçado por alguém para poupar ou acusar alguém em depoimento à polícia.

O segundo porteiro, Tiago Izaias, nunca foi ouvido pela Polícia Civil, mas afirmou à VEJA que não se lembra exatamente do que aconteceu nem se estava dentro ou fora da guarita. No condomínio, enquanto um porteiro fica na guarita, outro trabalha na cancela e coleta as informações dos visitantes. "Não lembro nem se estava dentro ou fora. A coisa toda aconteceu há tempos, e são muitas casas e visitantes o dia inteiro", afirmou Tiago à revista.

A confirmação de que o porteiro do áudio e o porteiro do depoimento são pessoas diferentes é mais uma demonstração de falha na investigação do caso Marielle. O porteiro Alberto disse, em dois depoimentos prestados em outubro, que a autorização da entrada de Queiroz no condomínio foi dada por "seu Jair", embora Bolsonaro estivesse naquele dia em sessão na Câmara dos Deputados.

Ainda não foi revelado como a portaria aciona moradores no condomínio e se pode ter ocorrido um contato por telefone. Apesar de mencionar que a autorização foi dada por "seu Jair", em nome da casa do presidente, o porteiro disse que Queiroz seguiu direto para a casa de Lessa.

Enquanto lacunas se acumulam nas investigações dos possíveis mandantes do crime, tocadas ainda pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do estado do Rio, um pedido de federalização aguarda julgamento no Superior Tribunal de Justiça, que deve colocar a solicitação em pauta até o fim deste ano. O pedido de federalização foi feito pela então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, no seu último dia no cargo, e teve como base um inquérito da Polícia Federal que apontou falhas e tentativas de obstrução do inquérito da Polícia Civil. A família de Marielle já se manifestou contra a transferência da investigação dos mandantes para a Polícia Federal.

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