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Às vésperas de nova eleição, Espanha detecta alto número de notícias falsas

Pesquisas apontam dificuldade de PSOE, partido do premiê Sánchez, de garantir maioria para governar; Vox ganha força na reta final

O candidato Pedro Sánchez, durante o último ato de campanha do PSOE, em Barcelona
O candidato Pedro Sánchez, durante o último ato de campanha do PSOE, em BarcelonaAlbert Garcia (EL PAÍS)

As campanhas de desinformação na internet e nas redes sociais voltaram a aparecer nas eleições espanholas com intensidade semelhante ao que já havia acontecido na votação de 28 de abril ou na época de condenação dos líderes da independência catalã. Desde que o Ministério do Interior pôs em ação, em 14 de outubro, um protocolo específico para combater as chamadas fake news durante a campanha eleitoral e proteger o sistema de contagem de votos de ataques cibernéticos, especialistas das forças de segurança detectaram "numerosos incidentes cibernéticos", todos eles de baixo risco, segundo fontes policiais.

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No domingo, o país vai às urnas pela segunda vez. Vencedor do pleito de abril, mas sem formar maioria absoluta no Congresso, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) não chegou a um acordo com o esquerdista Podemos que lhe garantisse os votos necessários para a nomeação do atual primeiro-ministro interino, Pedro Sánchez.

Na Espanha, o chefe do Governo deve ser apoiado pela maioria simples do Parlamento (176 de 350 cadeiras). Simulação feita por EL PAÍS a partir de pesquisas aponta que o PSOE conseguiria agora cerca de 117 deputados, seguido por Partido Popular (92) e pela sigla de extrema direita Vox (46), que ascendeu na reta final. Unidas Podemos (35) e Cidadãos (18) aparecem na sequência. 

Não se sabe se entre esses incidentes de desinformação descobertos está a campanha do Facebook supostamente promovida a partir do entorno do PP para incentivar a abstenção de potenciais eleitores dos adversários. As fontes do Governo se amparam na segurança para não divulgar detalhes. "O Governo tem como prioridade máxima a lisura das eleições. Já a luta contra a desinformação é de mais longo alcance", acrescentam.

O novo plano de segurança cibernética adotado está incluído nas instruções internas do ministério que projetam toda a operação de segurança das eleições e foi assinado pela secretária de Estado da Segurança, Ana María Botella, nesse mesmo 14 de outubro, dia em que a sentença contra os líderes separatistas foi divulgada. O documento, ao qual o EL PAÍS teve acesso, é semelhante ao preparado para as eleições gerais de abril e também as eleições regionais, municipais e europeias, em maio, principalmente em relação às medidas para enfrentar os riscos mais tradicionais, entre eles um possível ataque jihadista ou aqueles derivados do que o texto chama de "conflitividade social".

No entanto, estão incluídas algumas novidades no conjunto das medidas de segurança cibernética e, mais especificamente, na luta contra as informações falsas na campanha eleitoral, as quais, segundo confirmam fontes do ministério, "procuram reforçar" o dispositivo após a experiência das eleições anteriores. Assim, o protocolo enfatiza em especial as medidas aplicáveis quando “após uma primeira análise, for detectada a existência de uma possível campanha de desinformação ou um incidente de fake news que poderiam contribuir para mudar a direção da votação ou prejudicar alguns dos atores envolvidos na campanha eleitoral”.

As mudanças foram incluídas depois de detectados vários incidentes cibernéticos durante o processo eleitoral de abril, embora nenhum deles tenha sido classificado como grave. O Ministério do Interior não quis na época fornecer o número exato desses episódios. Na ocasião, a pasta do ministro Grande-Marlaska deslocou uma centena de agentes, bem como especialistas de outras agências de segurança cibernética, para rastrear redes sociais e a Internet a fim de impedir ataques e neutralizá-los. O mais grave, a queda de um site oficial, foi rapidamente solucionado.

Nem as numerosas fake news detectadas foram classificadas como relevantes para que fosse preciso desmenti-las ou solicitar sua eliminação às empresas de tecnologia que gerenciam as redes sociais. E também não foi constatada nenhuma campanha de massa embasada nas chamadas fazendas de bots (usuários falsos) com origem no estrangeiro, como aconteceu nos processos eleitorais em outros países.

Entre as notícias falsas divulgadas durante a campanha eleitoral de 28 de abril havia uma referência ao suposto envolvimento de Sánchez, quando era vereador da Câmara Municipal de Madri, na crise do Bankia, uma história antiga, desmentida na época e que é ressuscitada de tempos em tempos. Apareceram também notícias falsas sobre a situação na Catalunha e o julgamento recentemente iniciado dos separatistas, muitas manipulações simples. Uma delas refletia a suposta preocupação europeia pelo respeito aos direitos humanos na Hungria e o nome desse país era substituído pelo da Espanha.

A maioria dessas histórias passou despercebida pela maioria dos cidadãos. “Há movimento [de notícias falsas], mas não mais do que o habitual", afirmam as fontes policiais consultadas. Os agentes monitoram tanto as fontes abertas (redes sociais, serviços de mensagens instantâneas, fotos, blogs e sites) como a chamada internet profunda ou deep web.

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