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Ministro da Defesa da Colômbia renuncia por causa da morte de 8 menores

Decisão de Guillermo Botero foi anunciada depois que a oposição o acusou de reavivar o fantasma das execuções extrajudiciais

Santiago Torrado
Guillermo Botero durante um evento em maio.
Guillermo Botero durante um evento em maio.G. Aponte (Getty)
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O questionado ministro da Defesa da Colômbia, Guillermo Botero, renunciou ao cargo na quarta-feira, escapando assim de ser alvo de uma moção de censura no Senado. A demissão foi anunciada um dia depois de a fortalecida oposição ao Governo de Iván Duque o acusar de reavivar o fantasma das execuções extrajudiciais e de ocultar a morte de oito menores de idade em um bombardeio contra dissidentes da extinta guerrilha FARC no fim de agosto.

“É meu dever como ministro da Defesa fazer uma leitura adequada da conjuntura política, por isso decidi apresentar a renúncia ao cargo”, informou Botero em um comunicado no final da tarde, depois de se reunir com Duque. “Permito-me informar que aceitei a renúncia”, escreveu o mandatário pouco depois no Twitter. O presidente acrescentou que designou como ministro interino o general Luis Fernando Navarro, atual comandante das Forças Militares. “Nosso compromisso é continuar velando pela segurança dos colombianos e combater qualquer atividade criminal”.

A renúncia, em meio a uma grave crise de segurança pela onda de assassinatos no departamento de Cauca, é um inegável triunfo para a oposição, que tinha pedido reiteradas vezes a destituição de Botero, constantemente rodeado de polêmicas apesar de ter o apoio da cúpula militar. Sua saída, a segunda baixa no Gabinete de Duque em pouco mais de um ano, agrava a crise de popularidade do Executivo, enfraquecido depois das eleições locais de outubro em que o Centro Democrático, partido do Governo, cedeu terreno nas principais cidades do país.

Botero, representante dos setores mais afins ao ex-presidente Álvaro Uribe no Governo, chefiava a pasta desde que Duque assumiu a presidência, há 15 meses. O ex-dirigente empresarial acumulava um considerável desgaste político, em meio a crescentes críticas à sua gestão. Entre as múltiplas acusações a ele se destaca a volta do fantasma dos “falsos positivos” – execuções extrajudiciais a civis apresentadas como baixas em combate –, com vários casos por esclarecer em um país que busca virar a página após mais de meio século de guerra civil. De fato, suas erráticas declarações em torno da morte do ex-guerrilheiro Dimar Torre pelas mãos de um cabo do Exército, em 22 de abril, foram uma das fortes polêmicas que contribuíram para sua queda.

Nesta terça-feira, os partidos da oposição questionaram o ministro com dureza durante o debate no Senado sobre a segunda moção de censura contra ele, a ser votada na próxima quarta-feira. O autor da iniciativa legislativa, Roy Barreras, o acusou de ocultar que havia sete menores – com idades compreendidas entre 12 e 17 anos – entre os 14 mortos em um bombardeio militar numa zona rural do departamento de Caquetá. Nesta quarta-feira, o Ministério Público elevou a oito a cifra de menores entre os 15 mortos do ataque e informou que ainda há dois corpos por identificar.

“Esconder essas mortes da Colômbia é razão suficiente para que este Senado o censure, como estou seguro de que o fará pela primeira vez”, disse o senador do Partido do U, que durante a jornada anunciou que votaria a favor da moção de censura. Tanto o Partido Liberal como o Mudança Radical, que não fazem parte nem da coalizão de Governo nem da oposição, também tinham anunciado que respaldavam a moção.

As críticas da oposição à gestão de Botero também incluem as polêmicas promoções de oficiais vinculados a casos de "falsos positivos", os erros no dossiê de inteligência sobre a Venezuela que Duque apresentou na ONU, o aumento da percepção de insegurança em todas as cidades e o fracasso em evitar os assassinatos de líderes sociais, indígenas e ex-combatentes que assinaram a paz.

Botero é a segunda baixa no Gabinete de Duque. Precedeu-o Gloria María Borrero, que renunciou à pasta da Justiça em maio, devido a uma crise institucional pela decisão judicial de liberar Jesús Santrich. Esse ex-comandante das extintas FARC se tornaria logo depois em foragido da Justiça e em agosto anunciou em um vídeo que pretendia se rearmar.

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