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Apple se compromete a gastar 10 bilhões de reais para mitigar crise habitacional na Califórnia

Empresa segue o exemplo do Facebook e Google, que prometeram 4 bilhões de reais cada uma, entre críticas por serem em parte responsáveis pela situação

Pablo Ximénez de Sandoval
Homem segura pneu de bicicleta ao lado de tendas em San Francisco, em junho de 2019.
Homem segura pneu de bicicleta ao lado de tendas em San Francisco, em junho de 2019. Jeff Chiu (AP)
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As grandes empresas que contribuíram para tornar muito difícil a vida para as classes médias nas cidades da Califórnia estão começando a pôr dinheiro para ajudar nas soluções. Na segunda-feira, a Apple anunciou que destinará 2,5 bilhões de dólares (10 bilhões de reais) a projetos para mitigar a trágica crise habitacional da classe média do Estado. A Apple segue o rumo de outros gigantes da Califórnia, como o Facebook e o Google, que destinaram 1 bilhão (4 bilhões de reais) cada um para projetos semelhantes.

"Sentimos uma profunda responsabilidade cívica para que (o Vale do Silício) continue a ser um local vibrante onde as pessoas possam viver, ter uma família e contribuir com a comunidade", afirmou o CEO da Apple, Tim Cook, em comunicado. “A moradia acessível significa estabilidade e dignidade, oportunidade e orgulho. Quando essas coisas estão fora do alcance de muitas pessoas, sabemos que estamos em um caminho insustentável, e a Apple está comprometida em fazer parte da solução.”

Entre os projetos que a Apple apoiará, 1 bilhão de dólares será destinado a um fundo de investimento para moradias acessíveis, um valor igual para um fundo de assistência hipotecária para compradores da primeira casa e 300 milhões para construir moradias acessíveis em terras pertencentes à empresa em San José, Califórnia. Essa área ao sul de São Francisco, onde está localizado o Vale do Silício, é uma das que cresceram mais rapidamente em riqueza com a explosão de grandes empresas de tecnologia, que a inundaram com trabalhadores com salários de elite.

Hoje, existem distritos ao redor do Vale do Silício onde o preço médio das casas é de quatro milhões de dólares. O preço médio de uma casa na Califórnia supera 600.000 dólares. Essa é a média entre Bel Air e o deserto. A média em São Francisco é de 1,6 milhão.

As empresas de tecnologia respondem assim a um crescente descontentamento na Califórnia, que as considera responsáveis pela corrida de preços que o Estado sofre desde o início do século. Todo esse dinheiro, no entanto, pode aliviar a pressão em bairros específicos, mas pouco contribui para o problema global da habitação. Os especialistas concordam que o principal obstáculo são os regulamentos locais que impedem a construção de prédios de apartamentos. O governador Gavin Newsom estabeleceu como meta que o Estado construa 1,3 milhão de casas na próxima década e 3,5 milhões até 2025, para as quais está pressionando os governos municipais.

A face mais trágica da crise habitacional na Califórnia é a situação dos sem-teto. O número de desabrigados cresceu assustadoramente, chegando a 130.000 pessoas. Nas cidades onde sempre houve pessoas nas ruas, como São Francisco e Los Angeles, a situação está fora de controle e os serviços de emergência dizem que nunca viram nada parecido.

“À medida que dispara o custo para os inquilinos e os potenciais compradores na Califórnia, membros da comunidade, como professores, bombeiros, equipes de emergência ou assistentes sociais, precisam tomar a difícil decisão de deixar para trás a comunidade que é seu lar", diz o comunicado da Apple. "Quase 30.000 pessoas deixaram São Francisco entre abril e junho deste ano, e a propriedade de moradias na baía atingiu este ano o ponto mais baixo nos últimos sete anos".

O governador Newsom aplaudiu a decisão da Apple e pediu que outras empresas "sigam seu exemplo". Mas nem todas as respostas foram positivas. A campanha do senador Bernie Sanders, um dos favoritos para disputar a presidência do país pelo Partido Democrata, publicou um comunicado em que denuncia a "hipocrisia de uma empresa que gasta alguns centavos por uma crise imobiliária que a Apple ajudou a criar". Sanders denunciou que o que essas empresas estão fazendo é "disfarçar sua entrada no mercado imobiliário como se fosse altruísmo filantrópico".

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