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Um filho ‘drag queen’ e um cachorro peronista: a peculiar família de Alberto Fernández

Presidente-eleito da Argentina se torna o primeiro mandatário em quase um século que não é formalmente casado

Alberto Fernández, o presidente eleito da Argentina, abraça seu filho Estanislao em Buenos Aires, em 27 de outubro.
Alberto Fernández, o presidente eleito da Argentina, abraça seu filho Estanislao em Buenos Aires, em 27 de outubro.Fabián Mattiazzi (EFE)
Georgina Zerega
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Alberto Fernández tenta ser um homem normal. Aos domingos pela manhã, se levanta em sua casa no Puerto Madero, um dos bairros mais caros da Argentina, toma o café da manhã e leva seu cachorro Dylan para passear. Um costume que não suspendeu nem sequer no dia das eleições. “Deixem-me passear com o cachorro; ele não sabe que tem eleições”, disse no último domingo ao se deparar com dezenas de jornalistas na porta da sua casa. “Os argentinos queriam um presidente comum, me deixem ser um sujeito comum”, disparou, enquanto o collie corria desconcertado entre os repórteres.

O mascote de Fernández se tornou uma das grandes figura da campanha. Depois de lançar a chapa presidencial em maio, o cão, que sempre era visto passeando e posando junto à família, ganhou muita popularidade entre os seguidores do candidato. Tanto que inclusive tem seu próprio perfil nas redes sociais, com 97.000 seguidores. A repentina fama do bicho foi utilizada pelo partido do presidente-eleito para lançar “a pátria perronista” (trocadilho com a palavra perro, cachorro), uma estratégia virtual onde os candidatos peronistas apresentavam seus cães com o objetivo de gerar simpatia no eleitorado e, eventualmente, atrair votos.

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Além da intenção de se mostrar como um sujeito normal, o presidente eleito da Argentina chega ao cargo para romper com algumas estrutura. Há 90 anos os mandatários do país eram homens (com exceção de Cristina Kirchner e Isabel Perón) casados, heterossexuais e com filhos. Fernández cumpre as últimas duas condições, mas não a primeira. Separou-se judicialmente da sua mulher em 2005 e, embora viva conjugalmente há cinco anos com a jornalista e atriz Fabiola Yáñez, nunca se casaram. Isto faz dele o primeiro homem desde 1930 a tomar posse do cargo com status de divorciado.

A falta de um papel que determine a união legal entre o casal desatou um debate sobre se é possível na Argentina que uma mulher seja primeira-dama sem ser casada com o presidente. A resposta está na lassidão das normas. Não há nada legislado, e os argentinos encaram o protocolo de forma descontraída. O ex-presidente Carlos Menem inclusive concedeu esse lugar a sua filha Zulema depois de se divorciar em 1992, durante seu mandato.

Um filho 'drag queen' e transformista

Além de Yáñez (e Dylan), o outro membro do novo clã presidencial é o filho drag queen e transformista do mandatário eleito. Estanislao Fernández, conhecido no mundo cultural como Dyhzy, ganhou fama ao popularizar uma prática que na Argentina não era tão difundida na sociedade: o transformismo. As redes sociais do jovem, de 24 anos e com 110.000 seguidores no Instagram, são um catálogo de fotografias e vídeos dele vestido como mulheres famosas, como Lady Gaga e Ariana Grande, ou de personagens de quadrinhos, como Pikachu e Jean Grey, a heroína da Marvel. Uma prática também conhecida como cosplay.

“Meu filho é um dos sujeitos mais criativos que já vi na minha vida. Quando entrou para o mundo das HQs e do anime japonês, começou a se fantasiar”, disse Fernández numa entrevista ao programa Radio Con Vos. “Foi chamativo. Fez muito bem, tão bem que começaram a convidá-lo a festivais no mundo”, observou ele sobre o jovem artista, que participou das três últimas edições da feira Comic-Con nos Estados Unidos. “Quando começou a se sair bem, começou a fazer personagens femininos de HQ. Depois, terminou em figuras de drag queen, que são fantasias e fotos que ele faz, artisticamente falando”, explicou o hoje presidente-eleito.

A outra vida de Estanislao, entretanto, se parece com a existência mais comum do seu pai. Apesar de seu transformismo ter sido alvo de debate na política argentina durante semanas, não modificou seu dia a dia. “É um menino discreto. Trabalha numa companhia de seguros e há dois anos vive com a namorada”, disse seu pai. O presidente-eleito reconheceu naquele momento que “nesse mundo”, o do transformismo, seu filho parecia ser “muito reconhecido”. “Eu sinto orgulho do meu filho”, afirmou.

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