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Candidatos democratas voltam seus dardos à nova favorita Elizabeth Warren nos EUA

Senadora esquerdista se torna o alvo dos ataques no debate e permite que Joe Biden e outros concorrentes de centro brilhem mais

Pablo Guimón
A senadora Elizabeth Warren, durante o debate.
A senadora Elizabeth Warren, durante o debate.CNN
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O debate desta terça-feira entre os aspirantes à candidatura presidencial democrata em 2020, o mais numeroso da história, com 12 participantes, demonstrou como uma mudança nas pesquisas pode alterar o jogo dramaticamente. A esquerdista Elizabeth Warren, cuja trajetória ascendente cristalizou-se nas últimas semanas em seu momento estelar, liderando as pesquisas com a ajuda da perda de fôlego de seus principais rivais, descobriu naquela noite o que significa ser a favorita. Os golpes que em debates anteriores eram dirigidos a Joe Biden desta vez caíram sobre Warren vindo de todos os lados.

A senadora evitou cair na provocação e conseguiu se centrar na sua mensagem. Mas quando essa mensagem, radical para os padrões do Partido Democrata, passa a ser o foco do debate e é submetido a escrutínio, aumenta também o desejo de uma alternativa centrista. E lá estavam Pete Buttigieg, Beto O’Rourke, Kamala Harris e Amy Klobuchar, atacando Warren para tentar oferecer essa alternativa até agora monopolizada por Joe Biden. “Prezo o trabalho de Elizabeth, mas, de novo, o que diferencia um plano de um sonho impossível é que é algo que de verdade dá para realizar”, resumiu a senadora Klobuchar.

Os meses passam e os candidatos mais atrasados precisam de um momento de glória para levantar a cabeça entre a multidão ou, simplesmente, sair de uma irrelevância já muito longa. Buscando o contraste com Warren, os candidatos reivindicavam um posto destacado no centro. Klobuchar e Buttigieg brilharam nessa tentativa, chegando a explicar Biden melhor que o próprio Biden.

Mas, ao ceder a Warren a posição de alvo, o ex-vice-presidente destacou-se mais que em todos os debates anteriores. Quanto mais Warren subir, mais os moderados precisarão de uma figura em torno da qual cerrar fileiras, e esse pragmatismo é o jogo de Biden desde o começo.

O favorito dos moderados saiu-se bem, nos primeiros compassos do debate, com as previsíveis pergunta sobre seu filho Hunter. Os negócios dele na Ucrânia, que o presidente Trump pediu que fossem investigados, numa conversa telefônica com seu colega Volodimir Zelenski que motivou o início do processo de impeachment, colocaram em uma situação incômoda o ex-vice-presidente e até agora favorito na corrida democrata. Hunter Biden publicou recentemente um comunicado, citado por seu pai, que assim encerrou o assunto — no que seus rivais, convencidos da irresponsabilidade que seria lançar dúvidas ou mostrar divisões sobre o impeachment, tampouco quiseram insistir.

Superado esse apuro, o ex-vice de Barack Obama conseguiu jogar suas cartas e deixar clara sua mensagem: o valor da experiência. Seja na política externa — “Sou o único deste palco que já conversou com [o presidente russo Vladimir] Putin e com [o turco Recep Tayyip] Erdogan” — ou no tema do controle de armas – “Sou o único que enfrentou e derrotou a Associação Nacional do Rifle”. “Todos temos boas ideias”, disse Biden. “Mas quem está mais bem preparado? Quem pode realizá-las?”. Inclusive se permitiu, ele também e contrariando seu costume, criticar Warren, cujos planos de saúde universal tachou de “vagos”.

Sua tática de questionar a experiência lhe serviu também para superar a pergunta sobre sua idade avançada num eventual mandato (tem 76 anos). Uma pergunta que também foi formulada a Warren (70) mas que, claro, estava dirigida sobretudo ao senador Bernie Sanders, de 78, para quem o debate representava a volta à campanha após sofrer um enfarte.

“Estou são, encontro-me ótimo”, disse Sanders. E depois agradeceu “do fundo do coração” as manifestações de apoio recebidas, incluídas as de seus adversários de debate, em um gesto que humanizou um candidato que carrega certo estigma de estar sempre zangado. Apesar disso, o debate confirmou que, hoje em dia, não é mais ele, e sim Warren, quem reina no setor esquerdista. Embora o senador, que já enfrentou Hillary Clinton nas primárias de 2016, tenha recebido um valioso apoio de fora do set de Ohio onde o debate ocorria: a equipe da popular deputada Alexandria Ocasio-Cortez informou que ela aproveitará o comício de Sanders em Nova York neste fim de semana para oficializar seu apoio a ele nas primárias.

Os temas foram os habituais na dialética democrata, mas o padrão sobre o qual se mediam era desta vez o programa de Warren, que falou por quase 23 minutos, seis a mais que Biden, o segundo que mais tempo teve. Assim, no tema da reforma da saúde, os candidatos moderados pressionaram Warren com perguntas sobre como pensa em financiar sua proposta de cobertura pública universal. Ao contrário de Sanders, que defende uma elevação geral dos impostos para custear sua dramática reforma da saúde, Warren evitou responder claramente se para financiar seu plano teria que aumentar os impostos da classe média. Sua posição de favorita complica a manutenção da ambiguidade, e Buttigieg não tardou a deixar isso em evidência. “Escutamos esta noite: uma pergunta de ‘sim’ ou ‘não’ que não foi respondida com ‘sim ou ‘não’”, afirmou.

Outros temas candentes e nos quais os democratas mais se chocam com a Administração Trump, como a imigração e a mudança climática, brilharam por sua ausência em um debate que durou três horas. Um total de 180 minutos em que, aliás, o presidente não dedicou nenhum tuíte às 12 pessoas que procuram substituí-lo na Casa Branca em 2020.

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