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Bilionários dos EUA pagam menos impostos que a classe trabalhadora pela primeira vez

Em 2018, as 400 famílias norte-americanas mais abastadas destinaram 23% de sua renda em impostos, enquanto os demais pagaram 24,4%, segundo estudo

Imagem de trabalhadores passando pelo World Trade Center, em Nova York.
Imagem de trabalhadores passando pelo World Trade Center, em Nova York.AP
Antonia Laborde

Pela primeira vez na história dos Estados Unidos, as 400 famílias mais ricas pagaram menos impostos em 2018 do que a denominada classe trabalhadora e os mais pobres (62 milhões de lares). Os primeiros destinaram 23% de sua renda aos Governos locais, estatais e federal, enquanto os demais pagaram 24,4%. Os economistas Emmanuel Saez e Gabriel Zucman, da Universidade da Califórnia em Berkeley, reuniram as cifras fiscais desde 1950 para apresentar a comparação feita em seu estudo The Triumph of Injustice (o triunfo da injustiça), que será publicado nesta terça-feira. O The New York Times, que teve acesso ao documento, explica que os pesquisadores atribuem a mudança socioeconômica à evasão fiscal e às numerosas reduções dos impostos sobre propriedades imobiliárias e a renda dos mais endinheirados. Mas o ponto de inflexão, segundo os economistas, foi a aprovação do plano fiscal do presidente Donald Trump, que beneficia os mais ricos e as grandes corporações, em comparação com os demais.

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Sete anos atrás, poucos conheciam nos EUA a secretária Debbie Bosanek, mas muitos sabiam que ela pagava menos imposto que seu chefe, o empresário Warren Buffet, terceira maior fortuna do mundo. O “Oráculo de Omaha”, como o bilionário é conhecido, por sempre acertar nas suas previsões, fez um apelo em 2014 para que os ricos pagassem mais impostos por uma questão moral, esclarecendo que a reforma não teria maiores efeitos no mercado de trabalho. Como símbolo da lacuna, ele disse que pagava menos tributos que Bosanek. David Leonhardt, o colunista do Times que escreveu o artigo de opinião sobre O Triunfo da Injustiça, volta a colocar a ideia sobre a mesa, argumentando que a história dos EUA “mostra que as tentativas sérias de arrecadar mais impostos geralmente têm sucesso”. Os pré-candidatos presidenciais democratas Elizabeth Warren e Bernie Sanders propõem medidas nesse sentido.

Antes mesmo de seu lançamento, o livro de Saez e Zucman já é um sucesso de vendas na Amazon. O retrato da sociedade norte-americana em matéria tributária explica que, em 1950, os mais ricos contribuíam em média com 70%. O que a classe trabalhadora paga não sofreu variações importantes nas últimas décadas. “Em 1970, os norte-americanos mais ricos pagavam, com todos os impostos incluídos, mais de 50% de seus rendimentos, duas vezes mais que a classe trabalhadora”, diz o livro. “Em 2018, após a reforma tributária de Trump, e pela primeira vez nos últimos 100 anos, os bilionários pagaram menos que os trabalhadores do aço, os professores primários e os aposentados”, afirma.

Os acadêmicos de Berkeley colocam ênfase na aprovação da lei de redução de impostos, idealizada por Trump e implementada em 2017 com a ajuda do então presidente da Câmara de Representantes (deputados), o republicano Paul D. Ryan. Segundo o estudo, a maior redução de tributos em três décadas já beneficiou os mais ricos: ao baixar o imposto de renda dos mais abastados e cortar as taxas corporativas, a norma diminuiu em 2,5% os encargos do 0,1% de famílias mais ricas, segundo os autores, citados pelo The Washington Post, que também teve acesso ao material.

A pesquisa também já recebeu críticas antes da publicação. Jason Furman, professor da Universidade Harvard e ex-assessor do ex-presidente Barack Obama, criticou o estudo no Post, alertando que seus colegas economistas não levaram em conta a devolução de impostos feita às famílias mais pobres que têm acesso ao crédito. “As melhores estimativas indicam que o sistema tributário é progressivo: os ricos pagam uma taxa impositiva mais alta que os demais”, disse Furman. A maioria dos economistas, porém, concorda que a carga tributária dos ricos diminuiu consideravelmente nas últimas décadas.

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