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Ofensiva turca na Síria gera medo de fuga dos jihadistas presos pelos curdos

Insegurança se espalha nos campos de detenção onde se amontoam ex-combatentes do Estado Islâmico e suas famílias

Dezenas de curdos se manifestam contra a ofensiva turca nesta quinta-feira em Erbil (Iraque).
Dezenas de curdos se manifestam contra a ofensiva turca nesta quinta-feira em Erbil (Iraque).AZAD LASHKARI (REUTERS)
Natalia Sancha

São dezenas de milhares os jihadistas do Estado Islâmico (EI), homens e mulheres, que junto com seus filhos permanecem capturados pelas Forças Democráticas Sírias (FDS, coalizão de forças árabes e curdas) no norte desse país. A maioria deles foi presa em 23 de março em Baguz, o último reduto que o califado manteve. Atualmente se encontram cativos em pelo menos dois centros penitenciários e cinco campos preparados para esse fim no norte da Síria. Até que nesta quarta-feira a Turquia lançou uma ofensiva para expulsar as tropas curdas do norte de Síria, esses presos estavam custodiados por forças especiais das FDS. “Tivemos que enviar nossos corpos de elite à frente de combate para repelir o ataque turco, razão pela qual se reduziu a vigilância sobre os jihadistas com efetivos menos bem treinados”, informa, por WhatsApp, um alto funcionário da inteligência curda no norte da Síria. “A prioridade absoluta é defender o território, pelo que as operações contra o EI se paralisaram”, acrescenta.

As FDS custodiam 12.000 mujahedins e mais de 80.000 mulheres radicais e filhos. Entre eles se encontram 2.500 europeus. Os curdos recordam que em cinco anos de luta contra o EI na Síria perderam 11.000 combatentes, e 24.000 ficaram feridos. “Manteremos os jihadistas na prisão. Enviaremos aqueles que forem aceitos a seus países de origem” e “daremos cursos de desradicalização às mulheres e seus filhos”, são as palavras com as que o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, tentou nesta quinta-feira aplacar a preocupação da comunidade internacional.

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“Os morteiros alcançaram as portas da prisão de Qamishli [nordeste de Síria] e houve uma tentativa de rebelião, mas os guardas conseguiram contê-la”, relatou uma fonte próxima às YPG (tropas curdo-sírias). As forças curdas informaram sobre uma dúzia de ataques jihadistas contra seus efetivos por parte de células adormecidos do EI. “Cinco terroristas foram capturados, 15 foram mortos, e outros 35 foram capturados em Ras al Ain”, disseram as FDS em sua conta oficial do Twitter.

“Os curdos estão confiscando os celulares nas tendas e há uma semana não sabemos de nada”, conta, do norte do Líbano, a nora de duas jihadistas cativas em Al Hol, no nordeste sírio. A ajuda humanitária escasseia, pondo em risco a vida dos mais frágeis. Desde o começo do ano, 409 menores já morreram de desnutrição e doenças respiratórias. Os preços dos produtos dispararam nos últimos dias.

O campo de Al Hol é o mais afastado da fronteira turca e epicentro de combates, e também o mais povoado, com 80.000 pessoas, das quais mais de metade são menores. Ali, as tropas curdas tiveram que criar uma ala de segurança máxima para 8.000 estrangeiras, mais radicalizadas e violentas que suas companheiras sírias ou iraquianas. “Elas têm muito medo das outras e do que possa acontecer com elas”, contou nesta quinta-feira por telefone um familiar de quatro menores espanhóis que estão presos ali com suas mães. Depois de meses encerradas em campos insalubres, a segurança interna nos campos se deteriora. Na semana passada apareceu em um deles, espancado e estrangulado, o cadáver de uma mulher que, segundo as forças de segurança curdas, havia sido condenada à morte por cortes islâmicas instauradas nesse minicalifado feminino.

A situação no campo de Al Roj, próximo à fronteira turca mais a nordeste, também piora. “Estavam nervosas porque chegaram mais soldados norte-americanos do que o normal, e não sabiam o que estava acontecendo”, conta de Madri um familiar de uma das duas mulheres a cargo de 13 menores espanhóis. O destronado califa do EI, Abubaker al Bagdadi, pediu em uma gravação de áudio a seus seguidores que “libertem as namoradas do EI dos campos”, por isso se teme que o número de fugas aumente.

“Ocorrem fugas todos os meses graças aos traficantes de pessoas que subornam algum guarda”, admite um funcionário do campo de Al Roj. As cercas dos campos estão furadas em alguns trechos.

Assim como o aparato de segurança dos curdos se viu superado pela nova frente, os hospitais também não deram conta. Dúzias de bebês nascidos de jihadistas do EI, alguns órfãos e outros em estado crítico, são tratados em hospitais colapsados pela chegada de novos feridos.

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